aparelhos vestíveis que registram atividades da medula em tempo real -  (crédito: Fotos: Chris Keeney/Salk Institute)

aparelhos vestíveis que registram atividades da medula em tempo real

crédito: Fotos: Chris Keeney/Salk Institute

O estímulo profundo de certas áreas do cérebro através de eletrodos é uma esperança para algumas pessoas afetadas por lesões na medula espinhal, segundo um estudo e um testemunho divulgados esta semana.

"Agora, quando vejo uma escada com alguns poucos degraus, sei que posso subi-la sozinho", relata Wolfgang Jäger, um dos dois pacientes que participaram de um primeiro teste.

"É agradável não ter que depender dos outros o tempo todo", afirma este suíço de 54 anos, para quem subir e descer as escadas durante as férias "não foi um problema" após a ativação do dispositivo.

 

 

Jäger teve implantados eletrodos em uma área específica do cérebro, conectados a um dispositivo implantado no peito. Quando ligados, estes dispositivos enviam impulsos elétricos ao cérebro.

A técnica, ainda experimental, é destinada a pessoas com lesões incompletas na medula espinhal – quando a conexão entre o cérebro e a medula espinhal não se rompeu completamente - e que têm capacidade de movimento parcial.

A equipe suíça que chefiou o estudo, publicado na Nature Medicine, já tinha se destacado anteriormente por seus avanços no uso de implantes cerebrais ou medulares que permitiram que pessoas paralisadas voltassem a caminhar.

Nesta ocasião, os pesquisadores buscaram determinar a área do cérebro mais envolvida na recuperação de pacientes com lesões na medula espinhal.

Os cientistas usaram técnicas de imagens tridimensionais para mapear a atividade cerebral em camundongos com estas lesões e criar uma espécie de "atlas cerebral". 

A área identificada se situa no hipotálamo lateral, conhecido por regular o estado de consciência, a alimentação e a motivação.

Um grupo de neurônios nesta área parece estar envolvido na recuperação da capacidade de caminhar após uma lesão medular, explicou à AFP Grégoire Courtine, professor de neurociências na Escola Politécnica Federal de Lausanne (Suíça).

Os cientistas tentaram amplificar o sinal do hipotálamo lateral mediante um estímulo cerebral profundo, uma técnica comumente utilizada para tratar o mal de Parkinson.

Testes em ratos e camundongos mostraram que o estímulo elétrico melhorou a marcha "de forma imediata", segundo o estudo.

 

- "Vontade de caminhar" -

 

"Sinto minhas pernas!", exclamou a primeira pessoa a participar dos testes realizados em 2022, uma mulher, quando seu dispositivo foi ativado pela primeira vez, relatou a neurocirurgiã Jocelyne Bloch. 

"Sinto vontade de caminhar", acrescentou, depois que aumentaram a intensidade da corrente, segundo a cientista.

Os pacientes incluídos no teste, que conseguiam ativar seu estimulador quando precisavam, também fizeram meses de reabilitação e treinamento muscular.

Para a mulher, o objetivo era caminhar sem andador; para Wolfgang Jäger, subir as escadas por conta própria. "Ambos alcançaram seu objetivo", destacou Jocelyne Bloch.

Apesar destes avanços, ainda são necessárias mais pesquisas, e esta técnica não seria efetiva para todos os pacientes, alertou Grégoire Courtine.

Tudo depende da quantidade inicial de sinal cerebral que se possa estimular para a medula espinhal. Além disso, embora o estímulo cerebral profundo seja cada vez mais comum, algumas pessoas não se sentem "confortáveis" com este tipo de intervenção no cérebro, acrescentou.

 

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No futuro, segundo os pesquisadores, a melhor opção para se recuperar deste tipo de lesões poderia incluir o estímulo conjunto do hipotálamo lateral e da médula espinhal.