O uso de camisinhas protegem contra as infecções sexualmente transmissíveis( ISTs), responsáveis por 25% dos casos de infertilidade, segundo a OMS -  (crédito:  Reproductive Health Supplies Coalition/Unsplash)

Apesar da eficácia comprovada da camisinha, as pessoas podem se deparar com parceiros resistentes a utilizá-la

crédito: Reproductive Health Supplies Coalition/Unsplash

Mais de um milhão de pessoas com idades entre 15 a 49 anos são infectadas diariamente no mundo por infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) curáveis, de acordo com a estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, um levantamento do Boletim Epidemiológico de HIV/Aids 2022, do Ministério da Saúde, apontou que os casos de HIV têm aumentado entre homens de 15 a 29 anos.

 

Uma das respostas para tais números pode estar na diminuição do uso de camisinhas nos últimos anos, já que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicou que o percentual caiu de 72% para 59% entre os mais jovens. Nesse sentido, Guilherme Mendonça Roveri, infectologista da rede de clínicas médico-odontológicas AmorSaúde, explica que a importância do preservativo se dá justamente pelo impedimento no contato com a mucosa oral, vaginal, anal ou peniana da outra pessoa.

 

 

“Se alguma lesão, fluído, secreção ou excremento pode ser transmitido de um para o outro, será bloqueado pelo mecanismo de barreira: o preservativo. A camisinha, como qualquer outro método de prevenção de ISTs, é limitada, mas tem uma alta eficácia por, justamente, fornecer uma barreira física entre esses fluídos e essas substâncias biológicas”, detalha.


Erros mais comuns na utilização da camisinha

 

Além da ausência do preservativo nas relações sexuais, outro aspecto que pode ser um “prato cheio” para o HIV/Aids e outras ISTs: o seu uso inadequado. Segundo Guilherme, um dos erros mais comuns é o excesso de proteção, com a utilização de dois preservativos de uma vez, isso porque a fricção durante o ato pode rompê-los. “Pode parecer um pouco fora da realidade, mas há pessoas utilizando mais de uma vez o mesmo preservativo, lavando, tentando higienizar e reutilizando”, aponta.

 

O profissional também descreve outro equívoco que acontece na hora colocar a camisinha. “Existem aqueles que não garantem que a parte de cima do preservativo, que serve para coletar o sêmen, tenha ar” afirma. “Se houver ar enquanto o preservativo é desenrolado ao longo do pênis, há mais chance de estourar”, explica. Guilherme ainda alerta que “uma outra coisa que acontece com frequência é desenrolar o preservativo ao longo do órgão e tentar colocá-lo nos testículos, gerando dor e sem nenhuma proteção extra”, ressalta.

 

O infectologista também destaca que é importante verificar o prazo de validade que está na embalagem, bem como utilizar a camisinha somente se estiver lacrada. “Não deve ser uma preocupação desde que o preservativo não tenha sido retirado da sua embalagem. Se ele for retirado, não está mais apto a usar e deve ser descartado”, explica.


Resistência no uso de preservativos 

 

Apesar da eficácia comprovada da camisinha, as pessoas podem se deparar com parceiros resistentes a utilizá-la. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, do Ministério da Saúde, indicou que 60% dos homens não usavam preservativo.

 

 “Temos que lembrar que a prevenção às ISTs é individual. Qualquer indivíduo pode exigir o uso do preservativo se assim ele quiser. A gente não deve permitir que a outra pessoa escolha qual vai ser a nossa proteção”, aponta o infectologista. Guilherme ainda aponta que a apropriação do conhecimento acerca das ISTs é fundamental. “Há estratégias, há a mandala da prevenção, há tudo muito gratuito e disponível. Teste-se, vacine-se, proteja-se da melhor maneira que você puder”, enfatiza.

 

 

Outro ponto é a questão do Stealthing, prática que consiste na retirada da camisinha durante o sexo sem o consentimento do parceiro ou parceira. Além do risco de transmissão de ISTs ou HIV, o Stealthing pode ser classificado como agressão sexual e já é considerado crime em alguns países. No Brasil, a retirada do preservativo sem consentimento pode se enquadrar no crime de violação sexual mediante fraude. Ao passar pela situação, a vítima deve procurar atendimento médico imediatamente para tomar a profilaxia pós-exposição (PEP) e as pílulas anticoncepcionais de emergência, no caso das mulheres.


E a camisinha feminina?

 

Não tão comum na hora do sexo, as camisinhas femininas são verdadeiras aliadas para prevenir as infecções. Além de ser introduzida na região vaginal, Guilherme recomenda outras formas de uso. “O preservativo feminino também é um método de barreira. É mais largo e pode também ser utilizado dentro do ânus, se for da vontade da pessoa”, afirma. Segundo o especialista, “esse preservativo tem uma vantagem de ter uma maior superfície de contato, gerando liberdade na desenvoltura da pessoa que vai introduzir aquele membro, pênis ou outro objeto”.


A importância dos lubrificantes

 

Um dos itens mais recomendados durantes as relações sexuais são os lubrificantes. Seu uso vai além de evitar dores ou desconfortos, mas também diminui a fricção entre as mucosas, o que reduz a possibilidade de gerar fissuras e sangramentos nem sempre visíveis. Caso contrário, os ferimentos podem quebrar essa barreira e propiciar, se não houver a lubrificação adequada, a passagem de excrementos, bactérias, vírus e ISTs. 

 

O infectologista alerta para a utilização de lubrificantes que deve respeitar as especificações do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), ou seja, nada de produtos caseiros. “Lubrificante de marca, camisinha comercializada em uma farmácia, sex shop ou outro lugar próprio, nada caseiro. O caseiro não tem como testar eficácia e manejar os problemas que podem vir dessa utilização inadequada”, observa. Guilherme também indica a leitura da bula do produto para o uso devido.


Outras práticas de prevenção

 

A camisinha é um método eficaz para prevenir HIV/Aids e as ISTs, entretanto, não é o único. A  profilaxia pré-exposição (PrEP) também é uma opção segura. “A PrEP é a estratégia de tomada diária de uma medicação que tem taxa altíssima para prevenir a transmissão do HIV”, explica Guilherme. O profissional destaca que “há também a PEP, que é a utilização em até 72 horas de uma medicação parecida com a PrEP, para tentar bloquear essa possível transmissão do HIV a pessoas expostas”.

 

Além do uso de preservativos e lubrificação, há outros formas de mapear possíveis infecções. “A testagem periódica dessas ISTs, a escolha dos parceiros sexuais, a vacinação, principalmente contra hepatite A e B, contra o HPV são uma mandala para a prevenção combinada contra ISTs”, informa.

 

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