Mesmo diante de avanços científicos e de intensas campanhas de conscientização, o diálogo em torno do HIV ainda se depara com obstáculos consideráveis no Brasil. O vírus da imunodeficiência humana, que compromete o organismo, tornando o indivíduo mais propenso a infecções e doenças, enfrenta barreiras em torno do diagnóstico precoce e da prevenção.

 

De acordo com o último Boletim Epidemiológico HIV e Aids do Ministério da Saúde, entre 2007 e junho de 2023, o país notificou 489.594 casos de infecção por HIV, sendo 41,5% deles concentrados na região Sudeste.

 



 

Um dos principais desafios encontrados atualmente é a evolução silenciosa do vírus, que pode permanecer anos no organismo sem apresentar sintomas e, assim, dificultar o diagnóstico precoce.

 

"O ideal é que a detecção seja feita de maneira precoce, exatamente quando há essa ausência de sintomas. Começando o tratamento de forma rápida e correta, é possível evitar que o indivíduo tenha complicações de saúde relacionadas à progressão da doença e impedir que ele transmita o vírus para outras pessoas”, afirma o infectologista do Hospital Estadual de Franco da Rocha, gerenciado pelo Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim (CEJAM) em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Paulo Antônio Friggi de Carvalho.

 

O especialista explica que os primeiros sinais, quando surgem, aparecem entre a segunda e a oitava semana após a entrada do vírus no corpo. Esses sintomas incluem febre, cefaleia, alterações na pele e aumento dos gânglios linfáticos, que, muitas vezes, acabam sendo confundidos com uma virose. Já em estágios mais avançados, perda de peso, febre persistente, sudorese noturna, diarreia e candidíase oral podem se manifestar, levantando um alerta.

 

“Para evitar a propagação do HIV, é essencial adotar uma série de cuidados, entre eles o hábito de realizar a testagem regularmente. Esse exame deve ser incorporado à rotina de saúde de todas as pessoas sexualmente ativas. Indivíduos com múltiplas parcerias precisam realizar o teste ao menos uma vez ao ano ou sempre que vivenciem situações de risco”, explica o médico.

 

Os testes rápidos disponíveis nas unidades de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) apresentam a vantagem de fornecer resultados em até 30 minutos. Além de analisarem casos de HIV, eles também detectam sífilis e hepatites B e C. Todo o atendimento ao paciente abrange acolhimento, aconselhamento e orientação. E, em caso de diagnóstico positivo, o encaminhamento para tratamento, que inclui medicamentos antirretrovirais.

 

Hoje, o uso do preservativo continua sendo o método de barreira mais seguro para a prevenção do HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). O SUS disponibiliza gratuitamente não apenas os testes e preservativos, mas também outros tratamentos preventivos, como a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e a Profilaxia Pós-Exposição (PEP).

 

“A PrEP consiste no uso contínuo ou sob demanda de medicamentos, e é indicada para pessoas com manifestações frequentes de risco, funcionando como prevenção combinada a outros métodos. Já a PEP é um tratamento de 28 dias que visa prevenir a infecção pelo HIV após uma exposição de risco, podendo ser iniciada até 72 horas após a exposição”, relata o infectologista.

 

Essas duas estratégias de prevenção estão disponíveis na maioria dos centros de saúde públicos especializados em HIV do país. Além disso, a PEP é oferecida em serviços de urgência e emergência. A PrEP, por sua vez, pode ser acessada também nos serviços de atenção primária à saúde.

 

“Ao vivenciar qualquer situação de risco, é importante procurar um serviço de saúde mais próximo para realizar a testagem. Se existir tempo hábil, é possível recorrer à PEP. Nesse período, é fundamental evitar novas relações de risco”, aponta o médico.

 

 

É importante lembrar que a transmissão do vírus HIV não é restrita apenas à prática de relações sexuais desprotegidas. O contágio ocorre ainda pelo compartilhamento de objetos perfurocortantes contaminados, como agulhas e alicates, e de mãe para filho durante a gestação, parto ou amamentação, caso a mãe não esteja em tratamento.

 

Infecções sexualmente transmissíveis




As infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) são doenças causadas por vírus, bactérias e vários outros microrganismos que são transmitidos através da relação sexual desprotegida. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), todos os dias, são contabilizados mais de 1 milhão de casos entre pessoas de 15 a 49 anos de idade.


Dados do Ministério da Saúde revelam que os jovens são a faixa etária que menos usam camisinha. Em Minas Gerais, no período de 2017 a 2022, observou-se que, de um total de 23.194 casos de HIV registrados,  51,64% das infecções acometeram pessoas de 20 a 34 anos, totalizando 11.920 diagnósticos.

 

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, em 2023, foram notificados, de janeiro a setembro, 17.168 casos de sífilis adquirida, 4.328 de sífilis em gestantes e 1.545 de sífilis congênita.

 

“Não se pode descuidar da prevenção”, comenta a alergista e imunologista da Hapvida NotreDame Intermédica, Gisele Casado.  

 

Principais ISTs e sintomas

 

A médica afirma que existe uma variedade de ISTs. As principais são HIV/aids, herpes, hepatites virais, sífilis, clamídia, gonorreia, tricomoníase, cancro mole, condiloma acuminado (HPV) e doença inflamatória pélvica (DIP).

 

“Os sintomas podem variar de acordo com cada paciente e o tipo de patologia apresentada, mas os quatro mais comuns são corrimento, lesões, úlceras e verrugas. Eles podem acometer os órgãos genitais, a região anal e também outras áreas do corpo, como lábios e mão”, alerta a especialista.

 

Além do sexo sem camisinha, as infecções sexualmente transmissíveis também podem ocorrer pela transfusão de sangue contaminado ou pelo compartilhamento de seringas e agulhas.

 

Prevenção

 

Gisele Casado explica que o uso da camisinha masculina ou feminina em todas as relações sexuais – oral, anal e vaginal – é o principal método de prevenção às ISTs.

 

“É importante lembrar que quem tem uma vida sexual muito ativa, com vários parceiros, também pode fazer uso da PrEP,  comprimidos que protegem contra a infecção pelo vírus HIV, mas que precisam ser utilizados de forma combinada com o preservativo para evitar infecção pelas outras ISTs”, complementa.

 

A médica dá outras dicas para evitar ISTs:

 

- Evite usar trajes de banho úmidos por períodos longos. Essa medida evita doenças causadas por fungos, como a candidíase

- Não compartilhe objetos pessoais como instrumentos de manicure, pinças, aparelhos de depilação, entre outros

- Se você teve relação sexual desprotegida, buscar atendimento médico até 72h após o ocorrido pode ajudar a evitar a contrair HIV, pois existe a PEP, que consiste no uso de medicamentos para reduzir o risco de adquirir ISTs

 

 

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