Uma pesquisa em desenvolvimento por cientistas da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, está criando uma pílula que simula parte dos efeitos do exercício físico e do jejum no corpo. Intitulada pílula LaKe, a molécula presente nela é composta pela fusão de lactatos e cetonas. Busca aumentar os níveis dessas substâncias no corpo, mas baixando os ácidos graxos livres e aumentando a produção de hormônios que criam a sensação de saciedade.
O avanço do estudo foi divulgado na revista Journal of Agricultural and Food Chemistry e a pesquisa ainda está em estágio inicial. Nutrólogo na Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, graduado em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos e membro da Câmara Técnica de Nutrologia do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, Celso Cukier aponta que o processo metabólico do corpo é mais complexo do que parece.
“O exercício não é somente produção de lactato, cetonas e seus metabólitos. Desempenha um papel muito mais complexo no nosso metabolismo, estimulando processos inflamatórios e processos inibidores da inflamação. Sabemos hoje da ação de citocinas, interleucina 6, interleucina 15, que têm a modulação do processo inflamatório pós-exercício, e a modulação ou a inibição, da ação das miocinas, que são moléculas que inibem a síntese proteica muscular, por exemplo”, explica o especialista.
Segundo o nutrólogo, a atividade física e a consequente mobilização de fibras musculares, sejam elas as principais ou adaptativas, exercem função sobre uma série de hormônios moduladores, além do papel das citocinas e produção e clareamento de lactato. O especialista também aponta que, na prática do exercício físico, há estímulo inibitório de uma série de hormônios gastrointestinais. “É importante que todos esses estímulos metabólicos sejam considerados também quando falamos de prática de exercício físico”, comenta.
O lactato, por exemplo, é produzido a partir da respiração celular anaeróbia durante alguns tipos de exercício físico, porém, ele pode ser produzido no dia a dia a partir de toda respiração celular que se torna anaeróbia. “O que acontece no exercício físico é que essa respiração celular pode acontecer em maior grau. Um sinal dela é aquela queimação sentida em atividades de força”, explica Celso Cukier.
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O sedentarismo tem crescido cada vez mais. De acordo com o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, somente cerca de 40% dos brasileiros praticam atividades físicas nos níveis recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ou seja, os outros 60% não conseguem atingir os níveis recomendados na prática de exercícios.
Logo, o surgimento da pílula, em um futuro mais distante, segundo Celso Cukier, pode ser benéfico, porém, ainda é preciso que os estudos avancem mais. Inicialmente, pode ser viável para pessoas com a mobilização impedida.
“O que esse estudo está buscando é algo que mimetize algumas partes, algumas frações do modelo do exercício ou da ação que o exercício traz no nosso corpo. Ainda está em processo de desenvolvimento e faltam estudos clínicos. Em um primeiro momento, deve ser aplicável para alguns pacientes específicos em que a mobilização se tornou impedida, seja por alguma doença sistêmica, seja por alguma incapacidade mecânica”, comenta.
Em teoria, a linha de estudo escolhida pelos pesquisadores da molécula LaKe também poderá fazer com que se compreenda melhor o papel de algumas moléculas sobre o metabolismo e na prevenção de uma série de doenças ligadas à inatividade física.
“Por enquanto, a dica é praticar exercícios frequentes. Isso, associado a uma boa alimentação e à higiene corporal e mental, é o que traz a prevenção de muitas doenças no decorrer da nossa vida. Também é importante não deixar de consultar um profissional de saúde para que ele possa também fazer diagnósticos e prevenção de doenças que, muitas vezes, são indetectáveis do ponto de vista clínico, como a hipertensão e a glicemia elevada”, reforça Celso.
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