Enfrentar o acúmulo de gordura corporal não é fácil. A primeira dificuldade é seguir uma dieta de restrição calórica. Depois, ainda há mais obstáculos no caminho: a cada quilo de gordura perdido, a fome tende a aumentar em cerca de 100 kcal e o metabolismo (gasto energético em repouso) tende a reduzir em cerca de 20 a 30 kcal. Além disso, para os vencedores que ultrapassam a linha de chegada e atingem o peso ideal, parece haver uma dificuldade ainda maior: a memória das células de gordura.
Pelo menos é o que diz um novo estudo espanhol publicado em novembro na revista Nature. “Os pesquisadores mostraram que o tecido adiposo, formado por células de gordura, retém uma espécie de memória da obesidade, através de alterações celulares epigenéticas que persistem ao longo do tempo. Isso pode explicar por que, em muitos casos, a manutenção da perda de peso é um desafio, o que exige esforços constantes do paciente”, explica a endocrinologista, com pós-graduação em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ), Deborah Beranger. Segundo a médica, isso parece favorecer o famoso efeito ioiô – nome popular que descreve a recuperação do peso perdido.
O estudo, realizado em camundongos, argumenta que a memória obesogênica poderia ser um mecanismo de defesa do próprio organismo para o proteger contra as alterações súbitas e regulares de peso.
“Embora a manutenção de um peso adequado para cada um de nós seja uma recomendação geral de saúde, sabemos que as subidas e descidas abruptas não favorecem o nosso organismo”, diz a endocrinologista.
“No estudo, os investigadores sugerem que estas alterações podem estar a preparar as células para respostas patológicas num ambiente obesogênico, predispondo-as a recuperar o peso perdido”, complementa a médica. No entanto, ainda não está claro se as células individuais retêm uma memória metabólica e se ela é conferida por mecanismos epigenéticos.
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O trabalho científico também mostrou que camundongos portadores dessa memória obesogênica mostram ganho de peso de rebote acelerado (ou seja, reganham o peso), e a memória epigenética pode explicar essa resposta a uma alimentação com dieta rica em gordura. A endocrinologista afirma, no entanto, que essa é uma dificuldade a mais na manutenção do peso, mas que seguir uma dieta calculada e bem equilibrada pode ajudar na estabilização do peso.
“Esse estudo indica que realmente é um desafio e esse paciente precisará de esforços constantes na luta contra o reganho de peso. Por isso, o acompanhamento personalizado deve ser sempre de longo prazo”, explica a especialista. “Essa informação é importante para que a abordagem para o tratamento e redução do sobrepeso seja precoce, evitando o estabelecimento de uma memória obesogênica no corpo das pessoas”, aponta.
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