Depois das fortes chuvas como as que Ipatinga e Santana do Paraíso, no Vale do Aço, e outras regiões em Minas Gerais e no país vêm enfrentando, o risco de transmissão de doenças como leptospirose, tétano e hepatite A pode aumentar, principalmente quando há ocorrência de enchentes e inundações.
A leptospirose é uma doença infecciosa causada pela bactéria leptospira, presente na urina de roedores e comumente adquirida pelo contato com água ou solo contaminados. Tem alta incidência nos períodos chuvosos, é uma doença com distribuição mundial e cada região apresenta sorotipos (sorovares) característicos, determinados por sua ecologia.
Conforme o médico veterinário, doutor em fisiopatologia e saúde animal e professor da Escola Superior de Saúde Única da Uninter, Paulo Felipe Izique Goiozo, "a doença tem alta prevalência em regiões tropicais, com chuvas torrenciais e solo com PH variando de neutro a alcalino. Em áreas urbanas, os surtos ocorrem nas regiões periféricas propícias às inundações. É uma zoonose de origem bacteriana causada por espiroquetas do gênero Leptospira, sendo as patogênicas pertencentes à espécie L. interrogans, uma doença ainda negligenciada por muitos governos, o que a torna um sério problema de saúde pública".
Com a movimentação das águas, bactérias acabam facilmente entrando em contato com a população, porque não precisa necessariamente ter uma pele lesada. Só pelo fato de estar muito tempo exposto à água, a pele já perde a sua barreira natural e a bactéria pode penetrar no organismo. Para quem for fazer a limpeza de casas e comércios, a orientação é usar equipamentos de proteção adequados.
Especialistas explicam que, enquanto a lama está molhada, é propícia a manter a bactéria viva e contaminar as pessoas. Então, as pessoas que terão esse contato devem usar botas, luvas ou sacos plásticos e evitar manter pés e mãos molhados por muito tempo, para não fazer uma porta de entrada para a bactéria.
O que é a leptospirose
A leptospirose é uma doença infecciosa causada pela bactéria Leptospira interrogans. Ela pode estar presente no rato, no cachorro, no porco, na vaca e na cabra. A bactéria se aloja nos rins desses animais, que a eliminam pela urina.
O contágio acontece por meio do contato com a urina dos animais infectados, o que pode ocorrer na água das enchentes. Machucados pelo corpo favorecem a contaminação, mas a bactéria penetra na pele mesmo quando não há lesões.
"Uma pele levantada no pé ou unha mal cortada já são suficientes para a bactéria penetrar. Estamos falando de bactérias que são microscópicas, então não precisa de um ferimento grande", afirma Lina Paola Miranda Ruiz Rodrigues, infectologista da BP (A Beneficência Portuguesa) de São Paulo.
Quais os sintomas da leptospirose?
A doença pode ser assintomática. Quando há sintomas, o paciente tem dor no corpo e na cabeça, febre alta, de 38,5ºC, 39ºC, diarreia, náuseas, vômitos, dor na panturrilha e conjuntivite (ou olhos avermelhados). Por ser confundida com outras doenças infecciosas, muitas vezes o atendimento é postergado.
Nas formas graves, a manifestação da leptospirose é a síndrome de Weil. "O paciente tem icterícia, hemorragia pulmonar e insuficiência renal. Ele para de urinar, fica sonolento, confuso e precisa ser cuidado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)", explica a médica.
Como é feito o tratamento da leptospirose?
A leptospirose pode ser tratada com antibióticos de amplo espectro, como doxicilina ou amoxicilina. Para a fase tardia, a penicilina e outros antibióticos derivados dela.
Segundo a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a recomendação geral é que antimicrobianos não sejam usados para prevenção como conduta de rotina. A associação se baseia em estudo que mostra que "não há diferença de mortalidade, infecção ou soroconversão com os esquemas de profilaxia utilizados, o que faz com que a prescrição do antimicrobiano não seja adequado como ampla medida de saúde pública".
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No entanto, algumas revisões e publicações, incluindo um guia de tratamento publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2003, apontam que a profilaxia com antimicrobianos pode ser feita em situações de alto risco, sob a justificativa de que, apesar de os estudos terem baixo número de participantes, falhas de randomização, serem heterogêneos e essa intervenção aplicada em momentos diferentes da história clínica, há uma tendência de benefício no uso dessas medicações.
Existe prevenção para a leptospirose?
Para a prevenção, a indicação principal da SBI é a doxiciclina, administrada em dose única para adultos e com base no peso corporal para crianças. A alternativa ao medicamento é a azitromicina, nas mesmas condições.
A entidade ressalta ainda que a profilaxia com doxiciclina não deve ser feita em gestantes e lactantes, e que há risco de infecção quando as pessoas retornam às suas residências. Devem ser usados EPI's (botas, luvas, calças para proteção) em locais onde normalmente há contato com água suja ou lama.
Outras doenças
Durante as enchentes, é possível acontecer acidentes como cortes e machucados que podem propiciar a entrada da bactéria causadora do tétano, que pode estar presente em objetos de metal, de madeira, de vidro ou até no solo, como galhos, espinhos e pedaços de móveis. É importante as pessoas terem o esquema vacinal atualizado quanto à vacina do tétano e, se tiverem algum acidente nesse período, buscar atendimento médico para avaliar a lesão.
Outra doença que pode surgir nesse cenário é a hepatite A, transmitida principalmente por alimentos contaminados. A orientação é que não se consuma alimentos que tenham tido contato com a água da inundação ou lama, incluindo alimentos embalados, enlatados ou alimentos perecíveis, como frutas, legumes e verduras. Se possível, é recomendável filtrar e ferver a água antes de beber.
Animais peçonhentos
Outra recomendação do Ministério da Saúde é para o cuidado com animais peçonhentos, pois locais com enchentes e ambientes com entulhos e destroços aumentam o risco de acidentes com escorpiões, aranhas e cobras.
Nesses casos, a busca por atendimento médico se faz necessária de forma urgente para uma avaliação da necessidade de utilização de algum soro antiveneno ou alguma outra conduta imediata.
Em casos de suspeita ou acidentes com animais peçonhentos, a orientação é contatar o Centro de Informações Toxicológicas (CIT) pelo telefone 0800-7213000, disponível 24 horas.
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*Com informações de Agência Brasil e Folhapress