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Antiparasitários podem ser usados em fase crônica da doença de Chagas

Conforme o estudo, o tratamento com o remédio pode reduzir significativamente o risco de progressão da doença cardíaca

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Um estudo divulgado em janeiro deste ano na "eClinical Medicine", da revista científica "Lancet", mostra que o uso de antiparasitários podem ajudar pacientes em casos graves de doença de Chagas. Descoberta há mais de 100 anos, a doença é predominante em regiões onde há a presença do barbeiro, o inseto transmissor, como em países da América Latina. No Brasil, estima-se que a cada 100 pessoas, uma tenha Chagas.

As contaminações costumam ocorrer quando a pessoa ainda é criança e vive em situação de vulnerabilidade social, em locais com fácil proliferação do inseto. Outra forma de transmissão da doença é durante a fase gestacional, mas as taxas de contaminação, nesses casos, são mais baixa.

Após a contaminação pelo vírus - transmitido pelas fezes do inseto após picada -, a pessoa pode passar pela fase aguda (que pode ser assintomática ou gerar febre, dor de cabeça, fraqueza e inchaço nas pernas) e, caso não receba tratamento oportuno, pode desenvolver a fase crônica da doença. Nessa fase, os sintomas podem demorar anos para aparecer. "A pessoa permanece anos com a doença e, quando algum sintoma aparece, costuma ser uma febre ou aumento dos gânglios, baço, fígado", diz Anis Rassi, cardiologista e principal autor do estudo.

Para os pacientes que chegam na fase aguda, que costuma durar de dois a quatro meses, existe um tratamento recomendado: os antiparasitários benzonidazol ou nifurtimox. Já para os pacientes que evoluem para a fase crônica, momento em que pode desenvolver problemas cardíacos e digestivos, o tratamento com antiparasitário nem sempre era recomendado. No entanto, a meta-análise de Anis avaliou outras 23 pesquisas já publicadas e concluiu que o medicamento também pode ser eficaz na forma mais grave da doença.

"Combinando os estudos, chegaram a conclusão de que os antiparasitários utilizados na fase crônica podem ajudar na prevenção do aparecimento de cardiopatia [doenças que afetam o coração e o sistema vascular]", diz Anis.

Conforme o estudo, o tratamento com o remédio por um prazo de 30 a 60 dias pode reduzir significativamente o risco de progressão da doença cardíaca, assim como a mortalidade de crianças e adultos afetados por Chagas crônica. A pesquisa ainda demonstrou redução da mortalidade cardiovascular.

O uso na fase crônica sempre foi muito debatido na comunidade médica. Especialista da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Germano Emílio Souza diz que, para a comunidade, apesar do tratamento se justificar na fase aguda, na fase crônica o debate sempre foi maior. "Tem cientista brasileiro que defende, outros são críticos a essa abordagem e destacam que não é um tratamento isento de riscos de forma habitual", diz.

Os medicamentos benzonidazol e o nifurtimox existem desde os anos 70 e, segundo Anis, sempre foi muito difícil provar que funcionavam também na fase crônica. Dentre os efeitos colaterais, estão principalmente alergia e polineuropatia - doença que afeta os nervos periféricos. "Na fase crônica a sorologia pode demorar de 20 a 30 anos para negativar, então era entendido que ele não funcionava nesse momento do tratamento. Acreditava-se que poderiam matar o paciente por conta dos efeitos colaterais", diz.

É importante ressaltar que ele só pode ser receitado uma vez. Em uma tentativa de segundo tratamento com o mesmo medicamento, não funciona, afirma.

Após o tratamento, na fase crônica, a sorologia do paciente pode negativar em 40% dos casos, enquanto na fase anterior, a aguda, pode chegar a 100%.

Por se tratar de uma doença socialmente determinada, os especialistas entendem que existe uma dificuldade no investimento em pesquisas sobre Chagas, o que impacta também no diagnóstico dos pacientes. "A falta de interesse dificulta o entendimento dos medicamentos que funcionam para a doença", completa.

O diagnóstico costuma acontecer entre os 30 e 50 anos do paciente, momento em que costumam apresentar sinais de cardiopatia. 

Hoje, a principal forma de se proteger contra casos graves de Chagas é evitando o contágio pelo vírus. Isso acontece com a pulverização de inseticida e melhoria das condições habitacionais em regiões com presença de barbeiro.

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