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Em estudo, exercício reduz efeitos do envelhecimento associado à obesidade
Pesquisa mostra que fazer atividade física ajuda a combater inflamação sistêmica provocada pelo excesso de peso e que é prejudicial ao sistema imunológico
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Siga noEntre os prejuízos à saúde provocados pelo excesso de peso está a chamada imunossenescência, que é o envelhecimento prematuro do sistema imunológico. Esse processo é desencadeado por uma inflamação crônica, causada pela liberação de substâncias inflamatórias pelo tecido adiposo.
“Isso faz com que as células de defesa envelheçam mais rápido, levando a uma diminuição na resposta imune que faz com que a pessoa fique mais suscetível a doenças infecciosas e enfermidades crônicas, como diabetes, acidente vascular cerebral (AVC), infarto, alguns tipos de câncer e males degenerativos, como o Alzheimer”, explica o endocrinologista Clayton Macedo, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Publicado recentemente no "The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism", um estudo realizado na Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo, traz uma boa notícia para quem sofre com esse quadro: a prática de atividades físicas com intensidade moderada é capaz de reverter a imunossenescência.
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Os pesquisadores recrutaram 167 homens e mulheres com idades entre 40 e 60 anos e os dividiram em três grupos: aqueles com obesidade; com obesidade e diabetes tipo 2; e pessoas com peso considerado adequado.
“Na triagem dos voluntários, fizemos diversos exames, como análises do sangue e biópsias do tecido gorduroso, e verificamos que aqueles que estavam obesos, com ou sem diabetes, apresentaram marcadores de envelhecimento nos linfócitos [glóbulos brancos do sistema imunológico] que não eram típicos da sua idade e não estavam presentes nos magros”, conta a professora doutora Cláudia Cavaglieri, coordenadora do Laboratório de Fisiologia do Exercício da Unicamp e a responsável por coordenar o trabalho.
Em seguida, os voluntários passaram a realizar três sessões semanais de uma hora de atividade física com intensidade moderada. Os treinos consistiam em meia hora de musculação e meia hora de corrida, caminhada ou pedalada em bicicleta ergométrica. Após 16 semanas, foram feitas novas análises que revelaram uma redução na expressão gênica associada à inflamação e à imunossenescência, chegando a valores próximos aos encontrados em pessoas magras. “Vale destacar que os voluntários foram acompanhados nutricionalmente, mas não fizemos nenhuma alteração na dieta deles”, observa Cláudia.
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Outro benefício obtido após esse período foi o combate a alterações metabólicas promovidas pela obesidade, especialmente aquelas relacionadas às moléculas de gordura. Esse é mais um fator ligado ao desenvolvimento de diabetes tipo 2 e outras doenças crônicas não transmissíveis.
De acordo com Cláudia, o treinamento combinado promove o efeito anti-inflamatório porque associa dois tipos de benefícios: mudança na composição corporal, com o ganho de massa magra proveniente dos treinos de força; e melhora dos indicadores cardiovasculares e diminuição da gordura, especialmente na região da cintura, provenientes das modalidades aeróbicas.
“O tecido adiposo libera mais substâncias inflamatórias, enquanto o tecido muscular tem efeito anti-inflamatório. Quando fazemos exercícios, o músculo libera miocinas, proteínas que ajudam a melhorar a sensibilidade à insulina e bloqueiam substâncias inflamatórias, melhorando a resposta do sistema imunológico”, explica a pesquisadora da Unicamp.
E não para por aí. “Os exercícios ainda melhoram os níveis de açúcar no sangue, diminuem o triglicérides e o LDL, o mau colesterol, aumentam o HDL, o bom colesterol, e renovam as células de defesa, que são outros fatores importantes para combater a obesidade e as comorbidades, além da perda cognitiva do envelhecimento”, acrescenta.
Para o endocrinologista, esse estudo evidencia que os benefícios dos exercícios vão além da balança. “Muitas vezes, a perda de peso não é tão intensa quanto o esperado em relação aos números, mas eles alteram a composição corporal. Além de melhorar a aparência, faz com que sejam uma poderosa arma na prevenção e até mesmo como tratamento coadjuvante de doenças e suas complicações”, destaca.