Os pacientes com câncer de mama masculino, quando comparados com as mulheres, recebem o diagnóstico da doença em idade mais elevada e em estágios mais avançados, o que impacta negativamente o prognóstico. A boa notícia é que há um aumento de 33% da taxa de sobrevida global destes homens quando, após a cirurgia, recebem também a radioterapia.

 

A conclusão é de um estudo que reuniu informações de 907 pacientes diagnosticados com câncer de mama masculino no período de janeiro de 2000 a julho de 2020, sendo uma das maiores casuísticas sobre o tema no mundo. Publicado recentemente na revista científica Clinical Oncology, os autores utilizaram os dados da Fundação Oncocentro de São Paulo, que abrange dados pertinentes a 46 milhões de residentes do estado.

 

 

O estudo em questão é multicêntrico, reunindo pesquisadores do Hospital Sírio-Libanês, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), do Latin America Cooperative Oncology Group (LACOG) e das instituições canadenses Queen´s University e Juravinski Cancer Centre. A proposta foi compreender as características do câncer de mama na população masculina, além de analisar os fatores que poderiam impactar a mortalidade desses pacientes, em especial na sobrevida a nível global.

 

A análise foi multivariada, considerando fatores como a prática (pública ou privada), escolaridade (baixa ou média/alta), idade, estágio no diagnóstico e modalidades de tratamento. O preditor independente significativo para sobrevida global foi o estágio da doença no momento do diagnóstico.

 

 

De acordo com o radio-oncologista Gustavo Nader Marta, do Hospital Sírio Libanês, presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) e um dos autores do estudo, o uso de radioterapia pós-operatória reflete diretamente na melhora da sobrevida global dos pacientes com câncer de mama masculino, principalmente a partir da fase intermediária de agressividade da doença.

 

Em doença não metastática, conforme explica o especialista, os pacientes são submetidos à cirurgia, com tratamentos complementares que podem incluir a radioterapia. “Nos pacientes com estadiamento II e III, a realização da radioterapia após a cirurgia diminuiu o risco de morte. Por outro lado, a quimioterapia não impactou a probabilidade de sobrevivência desses pacientes. É um achado importante, que serve como ponto reflexão para tomada na prática clínica”, pontua Gustavo.

 



Mais comum dos 51 aos 70 anos

 

O trabalho mostrou que apenas 21,5% dos homens com câncer de mama desenvolvem a doença antes dos 51 anos. Os dados mostram que em 51,5% dos casos o diagnóstico de câncer de mama foi feito entre os 51 e 70 anos e 27% dos casos ocorreram após os 70 anos.

 

Com base nesses números, o rádio-oncologista se questiona sobre o motivo para o diagnóstico de câncer de mama em homens ocorrer em idade mais elevada e fase mais avançada de seu desenvolvimento. “Uma das causas é o desconhecimento dos homens sobre o risco de eles também poderem ter um tumor maligno na mama. A doença costuma se apresentar inicialmente como um nódulo na região mamária, mas isso não chama a atenção da população masculina. Somado a isso, quando se compara com as mulheres – que são mais habituadas a ir, por exemplo, ao ginecologista – o homem busca com menor frequência uma ajuda especializada”, ressalta.

 

 

Sobrevida em 5 e 10 anos

 

Na amostra de 907 pacientes com câncer de mama masculino, a sobrevivência em cinco e dez anos após o diagnóstico foi, respectivamente, de 87,9% e 77,8% entre os diagnosticados em estágio I (quando a doença está restrita à mama).

Já nos estágios II a IV, as taxas sobrevivência em cinco e dez anos foram, respectivamente, de 79,9% e 58,9% (II), 51,6% e 24,5% (III) e 20,0% e 5,6% (IV, quando há metástase).

 

 

Sintomas do câncer de mama masculino

 

Semelhantes aos das mulheres, mas muitas vezes são ignorados devido à raridade da doença. Os principais sinais incluem:

 

Nódulo na mama: o sintoma mais comum é a presença de um caroço na região da mama, geralmente indolor. Esse nódulo pode ser firme e aparecer de forma isolada.

 


Mudança na aparência da mama: alterações no formato ou no tamanho da mama, como aumento ou assimetria, podem ser indicativos da doença.


Alterações na pele: a pele ao redor da mama pode apresentar retrações, enrugamento ou vermelhidão, semelhantes à casca de laranja.


Secreção no mamilo: Secreção, especialmente sanguinolenta, proveniente do mamilo, pode ser um sinal de alerta para o câncer.


Dor: Embora a dor não seja um sintoma comum, alguns homens podem sentir desconforto ou dor na região da mama ou ao redor do nódulo.

 

 

Fatores de Risco

 

Idade: A maioria dos casos ocorre após os 60 anos, embora homens mais jovens também possam ser afetados.

 

 

Histórico familiar: Ter parentes próximos, como mãe ou irmã, que desenvolveram câncer de mama aumenta o risco.

 

Alterações genéticas: Mutação no gene BRCA1 ou BRCA2, associado ao câncer de mama em mulheres, também pode aumentar o risco em homens.

 

Exposição a hormônios: Níveis elevados de estrogênio, causados por condições como cirrose hepática ou uso de terapias hormonais, podem estar associados ao câncer de mama masculino.

 

Radiação: Exposição à radiação, especialmente em tratamentos anteriores, também é um fator de risco.

 

 

Referência de estudo: Characteristics and Survival Outcomes of Male Breast Cancer in Brazil: A Large Population-Based Study.

 

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