Nutrição: como se preparar para uma cirurgia?
Conheça a cirurgia plástica funcional, método que ensina o paciente a se preparar para a cirurgia, com uma cicatrização mais rápida e com menos riscos
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Siga noQue a alimentação influencia em vários aspectos do nosso corpo, todo mundo já sabe. Mas você sabia que a dieta também pode ser um fator decisivo no resultado de uma cirurgia? O estado nutricional está diretamente ligado à condição de cicatrização do paciente.
Angélica Melo, nutricionista da Clínica Vinícius Melgaço de cirurgia plástica, no Hospital Life Center, é especialista em nutrição clínica e nutrição funcional, e conta que começou a questionar quais aspectos contribuíam ou não para o sucesso dos procedimentos assistidos por ela desde 2005. “Por que os pacientes tinham recuperações distintas, sendo que a técnica cirúrgica era a mesma? Foi aí que, analisando os exames, vi alguns resultados em comum, por exemplo, baixa de vitamina D e vitamina B12 e TSH alterado e, correlacionando com estudos científicos de outras áreas, comecei a preparar melhor os pacientes para o ato cirúrgico”, comenta.

Em 2023, Angélica e a cirurgiã Cintia Rios, fundadora da cirurgia plástica funcional (CPF), começaram a difundir estes conhecimentos para outros profissionais quanto aos cuidados que devem ser envolvidos antes, durante e depois de uma cirurgia plástica, visando a segurança do paciente.
A cirurgia
“O médico opera, mas quem cicatriza é o paciente”. Esta frase direciona muito as condutas da cirurgia plástica funcional, um conceito que está em expansão. “É a análise clínica e laboratorial do paciente, preparando-o para passar pelo ato cirúrgico. Cuidamos da saúde por completo, e a consequência desse preparo é uma cicatrização muito mais rápida e menor risco intraoperatório”, explica Angélica.
Segurança
Na linha da CPF, a lista de exames é completa. São 32 exames de sangue que incluem, por exemplo, a checagem das vitaminas D, B12 e B6; zinco, cobre e ácido fólico no sangue; ferritina, dentre outros que podem influenciar na cicatrização; TSH para verificar a função tireoidiana, ácido úrico, as taxas de glicemia e insulina e muito outros.
Caso o paciente não esteja apto a passar pelo ato cirúrgico, seja por excesso de peso ou por alterações laboratoriais, ele recebe uma dieta e as suplementações necessárias para que possa realizar o procedimento. “Não existe suplemento que sirva para todos. As doses serão individualizadas de acordo com cada paciente”, enfatiza.
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O que comer?
As pesquisas feitas pela nutricionista apresentam evidências em vários artigos científicos de que a dieta mediterrânea é a mais indicada para o pré e pós-cirúrgico, apresentando os melhores resultados para a saúde humana e sendo indicada para diversos perfis de pacientes. “A diferença está nas proporções entre carboidratos, proteínas e lipídios, que variam. Cada um vai ter uma adequação de acordo com o tamanho da cirurgia, peso corporal, e percentual de músculo”, diz. Uma vez que a maioria dos pacientes chega com a glicose alta, essa alimentação é eficaz em tornar os níveis de glicose adequados.
“Em alguns casos, a dieta cetogênica também pode ser uma estratégia. Porém, com perfil diferente da cetogênica tradicional. Dessa forma, continua-se com a seleção de alimentos para melhorar o estado do paciente de forma rápida e segura.” Para o pré-cirúrgico, então, Angélica recomenda, de modo geral, alimentos naturais, ricos em vitaminas, minerais, fibras, proteínas, gorduras insaturadas e ômega-3.
“Lembrando sempre que, no pós-cirúrgico, a presença dos carboidratos na dieta é obrigatória. Além disso, é necessário ingerir diariamente entre 1,4 e 1,6 grama de proteína a cada quilo de peso corporal”, alerta a profissional, explicando que esta proporção varia devido aos casos em que há o uso de tecnologias de retração de pele. “Cuidamos para que o paciente tenha a melhor resposta que a tecnologia pode oferecer.”
O que evitar?
Segundo a especialista, os alimentos que devem ser evitados nos primeiros dias após o procedimento incluem leite, devido ao processo inflamatório; alimentos que contêm glúten, bebidas alcoólicas, refrigerantes e demais ultraprocessados.
“Alguns suplementos, apesar de ótimos para a saúde, também devem ser evitados durante o período cirúrgico, pois podem aumentar os riscos de coagulação ou de sangramento”. É o caso do ômega 3, da cúrcuma e da arnica. “Suplementos proteicos tradicionais, como o whey protein, também não são recomendados no pós-cirúrgico, pois podem aumentar a formação de fibroses e causar hipertrofia de cicatriz, formando irregularidades na região operada”, explica.
E depois?
A assistência médica não termina na cirurgia. Os pacientes continuam sendo acompanhados mensalmente para garantir a manutenção do percentual de gordura. Angélica explica que esse controle não é apenas para manter a cirurgia, mas, sim, a qualidade de vida. “Com o ‘reganho’ de peso, o paciente não perde a cirurgia, mas perde saúde! Isso acontece porque aumenta-se a gordura visceral e em outras regiões do corpo que não passaram pela lipoaspiração”.
Fique atento
Para quem pensa em fazer alguma cirurgia, a especialista deixa algumas recomendações:
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Escolha bons profissionais: busque indicações de cirurgiões plásticos.
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Retire do cardápio produtos industrializados: escolha o alimento da forma mais próxima de como ele é na natureza.
- Hidrate-se. A regra é: a cada 20 quilos de peso corporal, beba 1 litro de água por dia.
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Inclua atividade física diária na sua vida.
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Organize sua alimentação para o pós-cirúrgico e garanta o seu aporte proteico diário
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Não tome suplemento ou medicamento sem consultar seu médico
Angélica ainda compartilha o desejo de espalhar a assistência cirúrgica para além dos procedimentos estéticos. “Um dia, todos os pacientes de cirurgias eletivas serão preparados, reduzindo as intercorrências operatórias e, até mesmo, o número de mortes”.
Nem sempre teremos a possibilidade de nos preparar para uma eventual cirurgia, pois imprevistos podem acontecer. “Por exemplo, você sofre um acidente, precisa ser operado. Pensando por essa ótica, mantenha-se saudável sempre, independentemente de qualquer cirurgia. Mantenha-se preparado para a vida”, aconselha a nutricionista.
* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie.
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