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Ansiedade de separação em cães: saudade ou sofrimento?

Essa reação pode estar ligada a um comportamento obsessivo que o animal não consegue controlar. O cão não está punindo seu tutor, mas, na verdade, está responde

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Giovanna Campos Duarte Florenzano
Médica veterinária


Quem nunca chegou em casa e encontrou o apartamento revirado, plantas derrubadas e almofadas destruídas talvez ainda não tenha vivido a experiência completa de ter um cachorro. Embora comportamentos destrutivos possam ser comuns entre cães adultos entediados ou mesmo filhotes, em alguns casos, eles podem indicar um problema mais sério: a ansiedade de separação. Esse transtorno faz com que o animal sofra intensamente quando é separado de seu tutor, manifestando de forma comportamental o seu pânico.

Muitas vezes, os tutores associam esses comportamentos destrutivos a uma espécie de "vingança", acreditando que o animal está revidando por ter ficado sozinho por muito tempo ou, ainda, que o cachorro "está de mal" por ter sido deixado preso. No entanto, essa reação pode estar ligada a um comportamento obsessivo que o animal não consegue controlar. O cão não está punindo seu tutor, mas, na verdade, está respondendo fisicamente a um estado de angústia intensa.

Mas como saber se o seu pet realmente sofre de ansiedade de separação? Existem alguns sinais clínicos que, embora não sejam exclusivos dessa condição, podem ajudar os tutores a perceber que algo não está normal. Entre esses sinais, podemos destacar o cão que passa a seguir e observar o tutor atentamente, exibindo uma expressão preocupada, com músculos faciais tensos e olhar arregalado, além de apresentar sinais físicos como salivação excessiva, choramingos e até recusa em se alimentar. Alguns sinais podem ser tão sutis e generalizados que muitas vezes passam despercebidos, como vocalizações excessivas (latidos, choramingos ou uivos) e respiração ofegante. Além disso, há comportamentos que tendem a fugir do padrão, porém de forma discreta, em que até mesmo os tutores mais atentos podem não perceber, como a produção excessiva de saliva, lambedura compulsiva das patas e uma marcha obsessiva – caracterizada por um andar repetitivo e incessante.

Com o agravamento da ansiedade, os sinais podem se tornar mais evidentes e começar a chamar atenção. O cão pode desenvolver comportamentos destrutivos, como realocar objetos, derrubar almofadas e cobertas, além de morder e destruir itens inadequados. Já em quadros mais intensos, a ansiedade pode evoluir para comportamentos de automutilação, como morder a própria pata ou cauda, além de apresentar tremores generalizados e até a incapacidade de se mover devido ao pânico extremo.

Nos casos mais graves, o cão pode perder totalmente o controle, urinando e defecando sobre si mesmo ou no local onde normalmente dorme. O desespero pode levá-lo a se machucar sem perceber: cães com ansiedade severa podem quebrar dentes ao tentar roer grades ou portas na tentativa de escapar, assim como podem sofrer lesões nas patas e unhas ao cavar insistentemente perto de saídas.

É essencial que qualquer suspeita seja avaliada por um profissional. Somente um médico veterinário clínico, em conjunto com um veterinário comportamentalista, poderá realizar um diagnóstico preciso, eliminando outras patologias clínicas de base que podem ser responsáveis pela manifestação de alguns dos sinais clínicos apresentados. A avaliação profissional também permitirá diferenciar a ansiedade de separação de outras possíveis alterações comportamentais e garantir que o tratamento e as intervenções sejam adequados às necessidades específicas de cada cão.

Prevenir e amenizar a ansiedade de separação em cães exige um conjunto de estratégias que ajudam o animal a se sentir mais seguro e confortável quando está sozinho. Uma opção útil para cães que sofrem com a solidão é a contratação de um "pet sitter", que pode oferecer companhia e interação durante a ausência do tutor. Além disso, a maneira como o tutor se despede e retorna para casa influencia diretamente o estado emocional do cão. Ao sair, o ideal é fazer isso de forma tranquila e discreta, sem grandes despedidas ou demonstrações de afeto exageradas, pois isso pode reforçar a ideia de que a separação é um evento significativo e preocupante. Da mesma forma, ao chegar, é importante cumprimentar o cão apenas quando ele estiver calmo, ignorando comportamentos como pulos, latidos e agitação. Isso ensina ao animal que sua volta não é um momento de extrema euforia, ajudando a reduzir sua expectativa ansiosa.

Um aspecto essencial que deve ser enfatizado é que, sob nenhuma circunstância, o cão deve ser punido por comportamentos destrutivos causados pela ansiedade. A punição não apenas intensifica o medo e a insegurança do animal, como também pode ter um efeito ainda mais prejudicial, fazendo com que ele associe o retorno do tutor a sentimentos negativos, aumentando seu estado de estresse e apreensão.

É importante enfatizar que tanto o diagnóstico como o tratamento da ansiedade de separação deverá ser feito pelo veterinário comportamentalista. Esse profissional irá elaborar um plano de trabalho personalizado, adequado à realidade do tutor e do cão. Essa condição, que muitas vezes passa despercebida na rotina corrida das famílias, pode ser tratada com a orientação profissional adequada, reduzindo o sofrimento do animal e proporcionando mais qualidade de vida, tanto para o cão, quanto para seu tutor, que poderá sair de casa seguro de que seu companheiro ficará bem na sua ausência.

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