SAÚDE DOS PÉS

Por que as estrelas de Hollywood aplicam botox nos pés?

Para ter conforto no Louboutin, Nicole Kidman está entre as famosas que fizeram uso do neuromodulador nos pés

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Para uma celebridade de Hollywood, estar impecável no tapete vermelho tem seu preço: em eventos e premiações, as aparições de salto alto podem causar sérios danos aos pés. Mas, agora, algumas encontraram a solução para o problema em um velho conhecido do rosto: a toxina botulínica, popularmente chamada de botox. O procedimento foi apelidado na imprensa americana de "lifting de estilete" ou "Loub Job", em homenagem aos sapatos Christian Louboutin. 

A atriz Nicole Kidman, por exemplo, está entre as pessoas que já experimentaram a aplicação. Conforto, tratamento da fascite plantar (uma inflamação da fáscia plantar, um tecido que liga o calcanhar aos dedos do pé) e a diminuição da sudorese excessiva estão entre os benefícios. “Para o suor, a aplicação é realizada por toda a planta do pé. As pessoas que suam mais nos pés sofrem de hiperidrose na região, uma condição em que a transpiração acontece mesmo em repouso ou em temperaturas mais amenas”, acrescenta a dermatologista Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. 

“No tratamento da fascite plantar e para promover mais conforto usando salto, a toxina botulínica é aplicada por infiltração (injeção) diretamente na musculatura da panturrilha, principalmente no músculo gastrocnêmio (mais frequentemente) ou no músculo sóleo, para aliviar a tensão no tendão de Aquiles, reduzindo a sobrecarga da fáscia plantar, sendo guiada por ultrassonografia, garantindo assim segurança ao procedimento”, diz Fernando Jorge, ortopedista especialista em Intervenção em Dor, no Hospital Albert Einstein, e em Medicina Intervencionista em Dor, na Faculdade de Medicina da USP - Ribeirão Preto.

Começando pelo benefício no tratamento da transpiração, a dermatologista explica que o suor em excesso nessa região não causa somente um incômodo estético, mas pode favorecer infecção fúngica e bacteriana secundária, já que ambientes úmidos e quentes são propícios para proliferação de fungos e bactérias. “Além disso, o suor em excesso pode fazer o pé ‘escorregar’ em calçados e, com isso, causar calos, bolhas e feridas. A paciente ainda pode ter dificuldade para andar de salto ou sandália ‘de dedo’, causando constrangimento e podendo afetar com frequência a autoestima”, diz Paola. 

“Essa é uma aplicação muito comum. É rápida e muito eficaz. Como existe o desconforto por ser uma área sensível (planta do pé), então, usamos anestesia tópica, “vibrador” e gelo, tudo para tornar a aplicação o mais confortável possível”, diz a especialista. “Mas, antes de aplicar a toxina botulínica, podemos (e devemos) fazer um teste, que é o teste de Minor. Ele é feito com iodo e amido. Aplica-se a solução de iodo na região afetada e depois, polvilha-se o amido por cima. As áreas afetadas pela hiperidrose ficam com uma coloração azul escura. Esse teste ajuda muito para aplicarmos a toxina exatamente nas áreas afetadas. Dias após a aplicação, se repetirmos o teste, as mesmas áreas não ficarão escuras! Esse teste é importante, porque na grande maioria das pessoas afetadas, a região acometida em um pé é diferente do outro pé. E o ideal é aplicar a toxina em todo pé sem aplicar em áreas não acometidas”, completa.

A indicação de propiciar mais conforto com alguns calçados é justamente para mulheres que costumam usar saltos mais altos e com mais frequência, segundo Fernando Jorge. “A toxina botulínica ajuda a relaxar a musculatura da panturrilha e a reduzir a sensação de tensão no arco plantar e no tendão de Aquiles. Isso diminui o cansaço e a dor nos pés, comuns após o uso prolongado de sapatos de salto”, explica.

 “Ao reduzir a tensão nos músculos e tendões, o tratamento pode minimizar a pressão excessiva sobre determinadas áreas do pé, o que, por sua vez, pode retardar a formação de calosidades e reduzir a progressão de joanetes em estágios iniciais”, destaca o ortopedista. A aplicação do neuromodulador não é um passe livre para o uso do salto alto: “O tratamento alivia os sintomas, mas não elimina os efeitos negativos do uso excessivo desse calçado. O ideal é alternar o uso com calçados mais confortáveis e realizar fortalecimentos e alongamentos diários para a musculatura da panturrilha, deixando o salto alto para ocasiões especiais”, complementa. 

Mulheres que usam salto com frequência também podem desenvolver fascite plantar. “O uso de salto altera a biomecânica da marcha e sobrecarrega a região anterior do pé, principalmente a cabeça dos ossos metatarsos e do arco plantar, o que pode resultar em microtraumas repetitivos e, eventualmente, inflamação, dor forte e limitação funcional! Embora o salto alto não seja a única causa, ele é um fator de risco importante, especialmente quando combinado com pé plano (chato) ou hipertonia da musculatura da panturrilha”, explica o ortopedista. 

“A toxina botulínica é uma alternativa terapêutica promissora no tratamento de fascite plantar, especialmente em casos resistentes às abordagens convencionais. A toxina botulínica atua promovendo o relaxamento muscular e reduzindo a tensão sobre a fáscia plantar. Ela bloqueia a liberação de uma substância produzida pelo nosso organismo chamada acetilcolina (neurotransmissor que está presente no sistema nervoso central e periférico) diminuindo a contração muscular e proporcionando um efeito de relaxamento temporário. Com isso, reduz a tração excessiva na fáscia plantar, aliviando a dor e facilitando a recuperação”, diz.

Seja qual for a finalidade, o tratamento deve ser repetido após algum tempo. “Para o suor, vemos uma melhora geralmente três dias após a aplicação no paciente. O ideal é que o procedimento seja realizado a cada seis a nove meses. Varia bastante de paciente para paciente. A maioria faz uma aplicação ao ano”, explica Paola. 

Vale destacar que é um mito que haja uma compensação em outra área do corpo. “A hiperidrose compensatória é um efeito adverso comum da simpatectomia torácica (cirurgia onde é feito “corte do nervo” que inerva as glândulas que estão hiperfuncionantes causando a hiperidrose). Após esse procedimento, pode ocorrer excesso de sudorese em áreas que não ocorriam antes. Com a toxina botulínica, isso não ocorre, pois ela bloqueia a ação da glândula no local e não através do SNC (simpatectomia)”, explica a dermatologista. 

“No caso da fascite plantar e para ter mais conforto usando salto alto, a aplicação pode ser repetida de três a seis meses, dependendo da resposta ao tratamento e da evolução dos sintomas. Vale destacar que a toxina botulínica é uma opção segura e eficaz, principalmente para pacientes que não responderam bem aos tratamentos convencionais. Ele pode oferecer uma alternativa menos invasiva antes de se considerar a cirurgia.”

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