Netinho fará transplante de medula óssea: entenda o tratamento
Diagnosticado com um câncer raro no sistema linfático, o cantor irá realizar um transplante autólogo
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Siga noO cantor Netinho, de 58 anos, revelou nesta sexta-feira (11/4) que está internado em Salvador para realizar a segunda fase de sua quimioterapia contra um câncer raro no sistema linfático, diagnosticado em março deste ano. Assim que realizar os seis ciclos esperados, ele passará por um transplante autólogo de medula óssea.
“No final, haverá um transplante de medula. Sem doador, um transplante de mim para mim mesmo", explicou o artista, que mantém o otimismo: “Tudo indo muito certo. Vamos que vamos!”.
Com histórico de complicações de saúde, como três cirurgias no cérebro, colocação de quatro stents e três AVCs sofridos em 2013, Netinho convive ainda com uma válvula cerebral permanente.
Como funciona o transplante de medula óssea?
Segundo a Oncoclínicas, grupo dedicado ao tratamento do câncer, o transplante de medula óssea é o tratamento para enfermidades que afetam as células sanguíneas, como as leucemias e os linfomas. Em alguns casos, o processo consiste na substituição de uma medula óssea doente por células normais de medula óssea.
Renato Cunha, hematologista e líder nacional de terapia celular da Oncoclínicas&Co, explica que existem dois tipos de transplante: o autólogo, como é o caso de Netinho, e o alogênico - onde o primeiro vem do próprio paciente e o segundo de um doador.
"No transplante de medula óssea autólogo, as células que serão usadas são provenientes do próprio paciente. Ele coleta em um primeiro momento essas células, em seguida, são congeladas e depois, quando for realizar o transplante, são usadas para recuperar a medula óssea", explica.
No caso da modalidade alogênica, são conduzidos testes específicos de compatibilidade. Neles, são analisadas amostras do sangue do receptor e do doador para verificar se existe total compatibilidade entre as partes, o que minimiza o risco de a medula ser rejeitada pelo receptor.
"Esse doador pode ser um parente próximo, como um irmão, que geralmente apresenta compatibilidade total de HLA (100%). No entanto, também existem transplantes com compatibilidade parcial de HLA, como no caso de irmãos não totalmente compatíveis, pais e filhos (que têm 50% de compatibilidade). Outra alternativa é o REDOME, o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea, que caso tenha alguém compatível com a HLA do paciente, pode também realizar o transplante”, comenta.
Quando há compatibilidade, o doador é submetido a um procedimento em centro cirúrgico, sob anestesia, com duração de aproximadamente duas horas. Ele consiste na realização de diversas punções com agulhas nos ossos posteriores da bacia e na aspiração da medula. Não há qualquer prejuízo ou comprometimento à saúde do doador.
Em relação ao receptor, antes de receber o transplante ele precisa ser submetido a um tratamento que ataca as células doentes e destrói a sua própria medula. Feito isso, receberá a medula sadia em um processo relativamente simples, como se fosse uma transfusão de sangue. Conforme as células da nova medula circulam pela corrente sanguínea, elas se alojam na medula óssea, onde se desenvolvem.
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As principais indicações para esse tipo de transplante são:
- Leucemia mieloide aguda
- Leucemia linfoide aguda / linfoma linfoblástico
- Leucemia linfoide aguda Ph+
- Anemia aplástica grave adquirida ou constitucional
- Síndrome mielodisplásica, incluindo a leucemia mielomonocítica crônica
- Imunodeficiência celular primária
- Talassemia
- Mielofibrose primária em fase evolutiva
- Linfoma não Hodgkin indolente
- Doença de Hodgkin quimiossensível
Como ser um doador de medula óssea?
Para ser um doador de medula óssea, é necessário ir ao Hemocentro mais próximo, realizar o cadastro REDOME e coletar uma amostra de 10 ml de sangue para um exame de tipagem HLA.
Além disso, é preciso ter entre 18 e 55 anos de idade, estar em bom estado geral de saúde, não apresentar doença neoplásica (câncer), hematológica (do sangue) ou do sistema imunológico e levar um documento de identificação oficial com foto.
No momento do cadastro é possível ainda especificar se deseja ser um doador de sangue, de medula ou ambos. Com isso, é possível aumentar as chances de localização de um doador compatível para o paciente que necessita do transplante. Ao todo, são 106 hemocentros localizados em todos os estados do país.
Entenda o que é linfoma
De forma simplificada, os linfomas são classificados em dois tipos principais: o de Hodgkin, mais raro e que atinge principalmente jovens entre 15 e 25 anos e, em menor escala, adultos entre 50 e 60 anos; e o não-Hodgkin, mais comum e com maior incidência em pessoas acima dos 60 anos. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que, a cada ano do triênio 2023-2025, serão diagnosticados 3.080 casos de linfoma de Hodgkin e 12.040 de linfoma não-Hodgkin — números que, segundo a entidade, dobraram nos últimos 25 anos, especialmente entre os idosos, por razões ainda desconhecidas.
Para Mariana Oliveira, oncohematologista da Oncoclínicas&Co, apesar de não haver prevenção por desconhecimento do que leva ao surgimento da neoplasia, a chave para deter a evolução progressiva do tumor é o conhecimento. "A boa notícia é o fato de os linfomas terem alto potencial curativo. O diagnóstico precoce é fundamental para alcançar o êxito no processo terapêutico, por isso o esclarecimento à população é essencial", afirma.
Sintomas e tratamento
Os sintomas em geral são aumento dos gânglios linfáticos (linfonodos ou ínguas, em linguagem popular) nas axilas, na virilha e/ou no pescoço, dor abdominal, perda de peso, fadiga, coceira no corpo, febre e, eventualmente, pode acometer órgãos como baço, fígado, medula óssea, estômago, intestino, pele e cérebro.
"As duas categorias - Hodgkin e não-Hodgkin -, contudo, apresentam outros subtipos específicos, com características clínicas diferentes entre si e prognósticos variáveis. Por isso, o tratamento não segue um padrão, mas usualmente consiste em quimioterapia, radioterapia ou a combinação de ambas as modalidades", explica Mariana.
Em certos casos, terapias alvo-moleculares, que tem como meta de ataque uma molécula da superfície do linfócito doente, podem ser indicadas. "Estas proteínas feitas em laboratório atuam como se fosse um ‘míssil teleguiado’ - que reconhece e destrói a célula cancerosa do organismo", ressalta o médico. Ainda, dependendo da extensão dos tumores e eficácia das medicações, pode haver a indicação de transplante de medula óssea.
Diante dos desafios impostos pela crescente incidência da doença, novas alternativas terapêuticas vêm surgindo para combater os linfomas, especialmente para os que não respondem aos tratamentos convencionalmente indicados. "A medicina tem avançado nos últimos anos principalmente através da terapia celular", afirma a especialista.
Ela conta que o autotransplante, tratamento no qual é realizada uma quimioterapia mais intensa seguida pela infusão da medula do próprio paciente, é uma delas. A terapia com imunoterapia é outra. Com bons resultados apontados por estudos e pesquisas de referência global, o tratamento estimula o organismo do paciente a reconhecer e combater as células tumorais. "De forma bastante simplificada, podemos dizer que os imunoterápicos desativam os receptores dos linfócitos e, assim, permite que as células doentes sejam reconhecidas. Isso faz com que o organismo volte a combater o tumor - e sem causar efeitos colaterais comuns a outras medicações habitualmente adotadas nos processos terapêuticos", explica a oncohematologista.
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