À espera dos primeiros voos comerciais de carros voadores, especialistas e empresas do setor apontam desafios para o começo da operação no país.

Eles citam problemas de infraestrutura e falta de regulamentação como alguns dos obstáculos para a utilização em massa dos veículos, formalmente chamados de eVtols (aeronaves de decolagem e pouso na vertical).

Paul Malicki, CEO da companhia de táxi aéreo Flapper, que já encomendou eVtols da fabricante brasileira Eve e de outras marcas, chama a atenção para os poucos projetos brasileiros de vertiportos. O termo se refere à área de pouso e decolagem dos carros voadores, que tem estrutura semelhante a um heliponto.

"Existem iniciativas pré-anunciadas por alguns aeroportos, mas nada de fato muito concreto", diz.

Segundo Malicki, nem todos os helipontos deverão ser usados como vertiportos. Um dos motivos é o carregamento dos veículos. "Para recarregar um eVtol, é necessária muita energia elétrica, e não são todos os prédios que possuem isso", diz.

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) ainda estuda uma regulamentação sobre o tema. Em outubro passado, a agência publicou recomendações a operadores de vertiportos, orientando que a infraestrutura siga, em um primeiro momento, moldes semelhantes aos helipontos. A autarquia, porém, pediu atenção a peculiaridades dos veículos e a procedimentos como troca ou carregamento de bateria.

Agora, a agência vai avaliar novas soluções e tecnologias para vertiportos no país. Até a sexta-feira (8), a Anac recebeu inscrições de propostas técnicas que abranjam a construção e a operação desses locais.

De olho no mercado, a Pax Aeroportos, concessionária controlada pela XP Asset Management, que administra o terminal de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, e o Campo de Marte, na capital paulista? está conversando com fabricantes e empresas que encomendaram eVtols para entender mais como será o modelo de negócio.

O CEO da companhia, Rogerio Prado, afirma que a Pax já estuda o tema e tem áreas reservadas nos dois aeroportos para os futuros vertiportos. Segundo ele, a implementação será possível em dois ou três anos.

Ele afirma que o espaço aéreo paulista é supercongestionado, mas diz que o problema será solucionado pelo Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo). "É uma preocupação da indústria, mas acreditamos que isso vai ser resolvido", afirma Prado.

Recentemente, o Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo) publicou diretrizes para os voos de eVtols no país. Segundo o órgão, a operação desses veículos deve começar logo após o processo de certificação dos modelos ?que é de responsabilidade da Anac.

O documento reúne características da operação do novo serviço e servirá de base para a futura implementação do mercado no espaço aéreo brasileiro. O Decea está recebendo sugestões públicas para as diretrizes até o fim de março.

A consultoria KPMG rebaixou o Brasil em seu ranking dos países mais bem preparados para receber os carros voadores. O país caiu da 8ª posição para 11ª colocação. O monitoramento considera fatores como aceitação do consumidor, legislação e oportunidade de negócio.

Para Camila Andersen, sócia da KPMG, a queda apresentada pelo Brasil não significou uma piora do mercado nacional, mas sim um avanço de outros países cujos governos investem fortemente no setor.

Um dos problemas apontados é a conectividade para a operação das aeronaves. Segundo Andersen, o Brasil vem melhorando nesse quesito, mas ainda está longe do cenário ideal.

"Os eVtols são majoritariamente autônomos. Não vai ter piloto. Eles voam conectados à internet. Às vezes, [o problema] não é nem tanto a infraestrutura das cidades ou de vertiportos, mas é muito mais uma questão de infraestrutura de conectividade".

A KPMG chama a atenção também para a necessidade de uma regulamentação que defina, por exemplo, como será o tráfego aéreo entre helicópteros e eVtols nas grandes cidades e onde os carros voadores poderão pousar ou decolar.

"Não dá para voar para qualquer lugar sem avisar, sem estar na rota. Tudo isso são questões que precisam estar regulamentadas para que as empresas sigam determinadas regras", afirma. (FOLHAPRESS)

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