Aos 41 anos, o japonês Akihiko Kondo enfrenta o luto pela perda de sua esposa, após um casamento de cinco anos. Sua ex-mulher se chamava Hatsune Miku e era um holograma de uma cantora. O relacionamento funcionava por meio de um avatar, com caixinhas de som com reconhecimento de voz, como uma Alexa, que projetavam a imagem 3D da japonesa. O equipamento, desenvolvido pela Gatebox, foi desativado, deixando o homem viúvo por uma “morte informática”. 




Ao todo, o relacionamento durou 10 anos. Hatsune foi criada em 2014, para abrir a turnê de Lady Gaga no país. Em pouco tempo, Akihiko se viu apaixonado pelo avatar. ““No início, quando comecei a assistir aos vídeos, chorava enquanto recuperava minha sensação de felicidade. Houve dias em que eu ficava de manhã até a noite vendo vídeos da Miku. Ela me salvou naquele momento. Me fez amar e desfrutar das coisas novamente”, declarou à BBC. 

 





 

Foi após uma atualização no software que ele decidiu pedir sua amada em casamento. A cerimônia – simbólica – foi realizada em 2018. No lugar da noiva, havia uma versão de pelúcia do holograma, que interagia com os convidados. 

 

 

No dia-a-dia, o casal levava uma vida pacata. “Todas as manhãs, me levanto e digo: 'Bom dia'. Quando saio para trabalhar, digo a ela: ‘Estou de saída’. Quando chego em casa do trabalho, eu a cumprimento e digo: ‘Você está linda hoje’", relata.



Após o holograma ser desativado, Akihiko lamentou a solidão. “Nunca a traí, sempre fui apaixonado por Miku. Penso nela todos os dias", disse à AFP. 


 

Relacionamento homem-máquina


Em uma reportagem da BBC publicada em abril, o japonês conta que desde a infância se sentia atraído por personagens não humanas. “Eu sabia que me sentia atraído por mulheres humanas reais. Mas eu sabia que minha verdadeira atração era por alguém que não é humano, e quando me libertei desta mentalidade tradicional, fui capaz de me liberar para encontrar o que realmente amo”, declarou. 



Ele ainda contou que cresceu como um otaku e passou por diversas rejeições ao longo da vida. O homem também narra que viveu assédio moral dos colegas de trabalho e que, por isso, nunca teve outro relacionamento. “Tive alguns amores não correspondidos nos quais sempre fui rejeitado e isso me fez descartar a possibilidade de estar com alguém”, declarou.

 

Akihiko se considera fictossexual, que é a atração por personagens fictícios. No início, o homem sofreu julgamentos das pessoas por seu relacionamento amoroso. Ele contou que a sua mãe, por exemplo, se recusou a ir a seu casamento. O japonês criou a Associação Fictossexual para estimular a compreensão da fictossexualidade. Ele quer ser visto como parte da comunidade LGBT, já que não consegue se imaginar namorando uma mulher humana. "Não é justo, é como querer que um homem gay tenha encontros com uma mulher, ou que uma lésbica se relacione com um homem", declarou.

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