Victor Salles, head de IA do iFood -  (crédito: Alysson Lisboa Neves/EM/D.A Press)

Victor Salles, head de IA do iFood

crédito: Alysson Lisboa Neves/EM/D.A Press

 

Em 2010, ele foi um dos pioneiros em usar big data para análise de redes sociais a partir da computação em nuvem. De lá para cá, muita coisa mudou na vida do empreendedor Victor Salles, um dos fundadores da startup Hekima em 2008, empresa que trabalhava com análise de dados e chamou a atenção do mercado. Em 2019, a empresa foi vendida para o iFood e Victor passou a comandar a área de Inteligência Artificial da gigante dos aplicativos de delivery.

 


A vontade de empreender começou na UFMG. "Na faculdade, eu tinha acabado de ser presidente da empresa-júnior e achei muito legal. Então, comecei a conversar com os colegas para empreender. A gente estava um pouco perdido e fomos conversar com o professor Ivan Moura Campos, do Departamento de Ciência da Computação. Foi uma tarde inspiradora", relembra Victor.


Depois dessa conversa, o professor Ivan mandou um e-mail com o assunto “empreendimento à vista”, e foi marcada uma reunião com a empresária Raquel Horta, que precisava desenvolver uma plataforma de monitoramento de mídias digitais. Com apenas 23 anos, Victor Salles começou esse negócio de sucesso. Assim nascia a Buzzmap, que futuramente seria a Hekima.

 


Victor participou da 2ª edição do Minas Summit, realizada em BH, em 26 e 26 de junho, pela FCJ Venture Builder e Órbi Conecta. O evento proporcionou um amplo espaço para discutir as implicações da inteligência artificial, ética, inovação e a necessidade de adaptação legislativa para fomentar o empreendedorismo no Brasil. 

 

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A inteligência artificial serve para tudo? 


A tecnologia IA tem a ver com a forma como você a aplica, o que chamamos de aprendizado de máquina ou machine learning. Essas máquinas são capazes de criar tarefas de acesso a modelos fantásticos que resolvem vários problemas. O iFood comprou exatamente a nossa capacidade de fazer determinadas tarefas usando big data e aprendizado de máquina. Toda essa experiência foi adquirida durante o nosso trabalho na Hekima.


O que mudou na capacitação dos talentos? Você e seus amigos da UFMG tinham vontade de empreender e arriscar. Isso vem mudando com o tempo? 


É mais comum você contratar pessoas que hoje já fizeram algum curso na área, mesmo que de forma amadora. Porém, o talento para lidar com as tecnologias continua o mesmo. Hoje, o mercado busca pessoas curiosas com capacidade de aprender rápido em áreas que são muito dinâmicas, como a inteligência artificial. Se você não consegue sobreviver ao ciclo de mudanças, é difícil se manter na área.


Resiliência é a chave para superar os desafios?

 

A Hekima soube surfar em um oceano azul na época em que poucas empresas nacionais pensavam na análise de dados preditiva. Como empreendedor, continuo acreditando que a resiliência é uma habilidade que falta um pouco hoje em dia. No entanto, existem muitos empreendedores com esse perfil.


A IA não amplia a desinformação?


Acho que a desinformação e as fake news são desafios, sim. Mas a sociedade pode desenvolver meios para fazer o lado bom da história e impedir que isso cause mais problemas. Já existem aplicativos que detectam fotos que não são verdadeiras, por exemplo. Ao criar uma IA eu preciso garantir de algum modo que a base de dados não seja fake news. Por isso, é fundamental a interferência humana.


E o viés preconceituoso da IA?


Da mesma forma que você cria um robô para dirigir um carro autônomo, você também cria protocolos para definir quais decisões ele deve tomar. Então, se a base de treino do modelo tem um viés de recorte racista, seu modelo será racista. O modelo pode até ter um viés racista, mas você pode mudar a máquina. O cientista de dados consegue mudar esse viés, remover isso e a máquina vai reaprender.


Como é o seu trabalho no iFood?


O iFood tem basicamente três grandes unidades de negócio: o delivery de comida, o Banco iFood Pago e o delivery de supermercado. Eu atuo nessa terceira área. Hoje, há, em média, 150 projetos de IA em desenvolvimento no iFood, desde a IA generativa até modelos para resolver uma série de problemas como logística, marketing, recomendação, antifraude, buscas etc.


O iFood está se transformando em uma grande plataforma de serviços?

 

Existe uma visão muito grande de criar um ecossistema que possa ajudar nossos parceiros a crescer, vender mais, melhorar a eficiência dos restaurantes, aumentar o faturamento com sistemas, aumentar o tráfego, implementar tecnologias antifraude, gestão de logística, entre outras. Tudo isso será oferecido aos parceiros para que consigam atrair mais e novos clientes.


Os drones vão entregar comida?


O iFood tem o sonho de alimentar o mundo no futuro a partir de três pilares: tecnologia, inteligência artificial e capacidade de resolver problemas complexos. Temos também bandeiras fortes na diversidade e na educação. A entrega por drone ainda é experimental, mas existem projetos em que testamos essa inovação. Há também a dependência de legislação local para a operação. Precisamos testar muito para saber como avançar.