César Lattes é homenageado do doodle -  (crédito: Google)

César Lattes é homenageado do doodle

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O Google homenageia, por meio de um doodle, os 100 anos do nascimento do físico brasileiro César Lattes, celebrado nesta quinta-feira (11/7). O pesquisador é um dos maiores nomes da ciência no país e descobriu o méson pi, também chamado de píon, partícula subatômica importante para os avanços nos estudos de física nuclear. A animação, que mostra o rosto do cientista e representações atômicas, está sendo exibida no Brasil, no Reino Unido, na Irlanda e no México.



Nascido Césare Mansueto Giulio Lattes em Curitiba (PR), em 11 de julho de 1924, César se formou em 1943 na Universidade de São Paulo (USP), como o único físico da turma. Por volta dos 20 anos, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o cientista começou a estudar os raios cósmicos, também chamados de partículas de alta energia do espaço. 



Em suas pesquisas, ele descobriu que, colocando boro nas placas fotográficas, conseguia visualizar as partículas se decompondo e pôde estudar cada próton. A partir daí ele localizou uma estrutura até então não observada: os píons.  Ele compreendeu que, ao adicionar boro a placas fotográficas, obteria imagem mais clara das partículas se decompondo, o que lhe permitiu ver cada próton.



“Para alcançar mais raios cósmicos, o pesquisador levou duas placas fotográficas ao topo de uma montanha. A placa que Lattes modificou mostrou rastros de uma partícula que nunca havia sido observada antes — o píon! Píons, ou mésons pi, são menores que um átomo e se formam quando a matéria espacial colide com a atmosfera da Terra. Ele não apenas descobriu sua existência, mas também descobriu que alguns mésons são mais pesados que outros”, destaca o Google.



 

“A descoberta do ‘méson pi’(partícula efêmera, com massa entre a do elétron e a do próton) foi essencial para os estudos sobre radiação”, destaca o site do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Para fazer suas pesquisas,  ele montou o laboratório de Chaclataya, na Bolívia. 



Em parceria com outros pesquisadores, César conseguiu reproduzir píons artificialmente Ele também ajudou na descoberta das “Bolas de Fogo”, que são as nuvens de mésons no interior dos átomos. Mesmo sendo crítico de Einstein, teve papel fundamental no desenvolvimento da 'Teoria da Relatividade', permitiu que se descobrisse os quarks, outra partícula subatômica fundamental para as teorias sobre a criação e a expansão do universo.


Prêmio Nobel


As pesquisas renderam para Lattes e sua equipe de pesquisadores o Prêmio Nobel de Física de 1950.  A láurea, no entanto, foi entregue para Cecil Powell, que foi considerado o líder do estudo. Ele ainda foi indicado ao Nobel em sete oportunidades, entre 1949 e 1954, mas não levou nenhuma vez.



“Sabe por que eu não ganhei o prêmio Nobel? Em Chacaltaya, quando descobrimos o méson pi, se publicou: Lattes, [Giuseppe] Occhialini e [Cecil] Powell. E o Powell, malandro, pegou o prêmio Nobel para ele. Occhialini e eu entramos pelo cano. Ele era mais conhecido, tinha o trabalho da produção de pósitrons em 1933. Depois, fui para a Universidade da Califórnia, onde foi inaugurado o sincrocíclotron em 1946. Já era 1948 e estava produzindo mésons desde que entrou em funcionamento em 1946, tinha energia mais que suficiente. Então, detectamos, [Eugene] Garden e eu, o méson artificial, alimentando a presunção de retirar do empirismo todas as pesquisas que se relacionassem com a libertação da energia nuclear. Sabe por que não nos deram o Nobel? Garden estava com beriliose, por ter trabalhado na bomba atômica durante a Guerra, e o berílio tira a elasticidade dos pulmões. Morreu pouco depois e não se dá o prêmio Nobel para morto. Me tungaram duas vezes”, lamentou ao Jornal da Unicamp, em 2001.



Em sua última entrevista, concedida à Superinteressante, em 2005, ele descartou que tenha sido desprezado por ser brasileiro, “Apesar de a comissão julgadora ser formada por ingleses, acredito que não foi minha nacionalidade que pesou na decisão do vencedor. Tanto na descoberta do méson pi, em 1946, como na sua criação artificial, em 1948, tive colaboração do Giuseppe Occhialini. Quem deveria ter ganhado era ele. E, em 1950, quem levou o prêmio foi o Cecil Powell, que também participou do trabalho. Mas deixa isso para lá. Esses prêmios grandiosos não ajudam a ciência”, afirmou.



Lattes conquistou diversas premiações, como o Prêmio Einstein da Academia Brasileira de Ciências e a Ordem do Mérito do Brasil e da Itália. Dezenas de escolas, estradas e praças da cidade são nomeadas em sua homenagem.


Política e ciência


César Lattes foi professor de física na USP e na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). No  Departamento de Física da Faculdade de Filosofia da USP, implantou o laboratório de emulsões nucleares, Na Unicamp, na direção do Departamento de Cronologia, Raios Cósmicos e Altas Energias do Instituto de Física, montou o laboratório de Síncroton. 



Lattes também integrou, entre 1950 e 1959, a Comissão de Raios Cósmicos da União Internacional de Física Pura e Aplicada, demonstrando a necessidade de integração em parcerias e cooperação entre nações em prol do desenvolvimento científico. Misturando ciência e política, ele fez campanha por mais financiamento governamental para as pesquisas, levando à formação do  Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), onde era diretor científico, o primeiro centro independente para pesquisa em física, agora ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia.  Lattes orientou muitos alunos que trabalhavam em suas teses de pós-graduação em emulsão nuclear (detecção de partículas) e geocronologia (datação de rochas) no Brasil, Estados Unidos e Itália.



“As suas participações perante organizações de fomento à pesquisa também foram decisivas como integrante da comissão responsável pela instituição do CNPq. Participou no período de fundação, nas primeiras reuniões e, posteriormente, como membro do Conselho Deliberativo de 1953 a 1955”, ressalta o site do Conselho. 




No final da década de 1940, foi Lattes quem criou o Projeto de Lei 164/1948, que propôs a criação do CNPq. Em agradecimento, o CNPq nomeou como Lattes seu sistema pioneiro de gestão de currículos, que em 2024 completa 25 anos com 8 milhões de pesquisadores cadastrados.



“Para ele, o desenvolvimento da ciência era a forma de colaborar com a evolução do país. Além da parte de desenvolvimento científico, ele era muito preocupado com a educação”, afirmou a filha de Lattes, Maria Cristina, durante sessão solene em homenagem ao pai na Câmara dos Deputados, em maio de 2024. 



César Lattes morreu em 8 de março de 2005, aos 80 anos. Até hoje, ele é lembrado como um precursor da física experimental na América Latina e no mundo todo.