Uma pequena fortuna. É quanto podem custar alimentos, bebidas alcoólicas ou roupas em Singapura, a cidade mais cara do mundo para se viver, segundo um ranking elaborado pela revista britânica The Economist.
Todos os anos, a publicação prepara a lista com base no que um dólar pode comprar em cada uma das cidades que são analisadas.
Quanto mais forte for a moeda local, maior será a posição das cidades do país na lista.
Isso significa que, quanto mais forte for a moeda, mais cara será a cidade. E quanto mais fraca a moeda, mais barato o local vai figurar na tabela.
Em Singapura, uma coisa que tem um valor de extremo luxo é o custo de um certificado necessário para comprar um carro: a versão mais barata deste documento superou a cifra de US$ 106 mil (R$ 521 mil) no início de outubro.
A cidade introduziu o sistema de certificado de titularidade (conhecido pela sigla COE) em 1990 como uma medida para aliviar os congestionamentos.
Os potenciais proprietários de automóveis devem ter um COE antes de poderem adquirir um veículo. A validade do título expira após 10 anos.
Os direitos são vendidos em leilões quinzenais e o governo controla a quantidade de certificados à venda, que depende do número de carros retirados das ruas e estradas.
Apesar de ser relativamente pequena, Singapura é frequentemente classificada como um dos países com maior número de milionários no mundo e, portanto, raramente sai do primeiro lugar do ranking: a cidade-Estado ficou no topo do pódio em nove dos últimos 11 anos.
A cidade-Estado asiática aparece empatada no ranking deste ano com Zurique. Ambos os locais são considerados capitais financeiros.
A maior cidade da Suíça é sempre cara, especialmente em setores como alimentos, utensílios domésticos e entretenimento. Zurique ficou em primeiro lugar em 2020 e raramente sai das dez primeiras posições do ranking.
"A ascensão [de Zurique] ao topo da lista deve-se principalmente ao fato de o franco suíço ter valorizado mais de 10% em relação ao dólar no ano passado", contextualiza a The Economist.
"A cidade de referência da pesquisa é Nova York, portanto, se a moeda de um país se fortalecer, as cidades geralmente subirão no ranking", explica a revista.
A fraqueza recente do dólar fez com que as cidades americanas caíssem no ranking este ano. Nova York, a cidade mais cara do ano passado, caiu para o terceiro lugar. Nessa posição, aparece ao lado de outra cidade suíça — Genebra.
Para a Unidade de Inteligência da The Economist, a crise global do custo de vida que começou em 2022 ainda persiste em 2023, apesar de os preços cobrados pela energia e os problemas da cadeia de abastecimento terem diminuído.
Mesmo assim, a inflação continua elevada em todo o mundo: os preços dos 200 produtos e serviços que foram analisados pela revista aumentaram em média 7,4% durante 2023.
Este valor é ligeiramente inferior aos 8,1% de 2022, mas ainda fica bem acima da média de 2,9% dos cinco anos anteriores.
As cidades mais baratas
A cidade mais barata no ranking continua a ser Damasco, a capital da Síria, apesar de a média de preço na moeda local ter aumentado 321% no ano.
A retirada dos subsídios governamentais e a desvalorização da moeda fizeram com que os custos de importação disparassem por lá.
Nas últimas posições do ranking, também aparecem Teerã (Irã) e Trípoli (Líbia). A taxa de inflação em Teerã é elevada, quase 49%, enquanto os preços em Trípoli subiram pouco mais de 5% no ano passado.
A The Economist afirmou que as três cidades são particularmente baratas em alimentos, bem como em itens domésticos e de higiene pessoal.
E a América Latina?
No estudo deste ano, as três cidades que mais subiram no ranking estão na América Latina. Foram Santiago de Querétaro e Aguascalientes, no México, e San José, capital da Costa Rica.
Embora o ranking deste ano abranja 173 das principais cidades do mundo, a média global foi calculada excluindo Kiev (Ucrânia) e Caracas (Venezuela), que continuam a enfrentar um ciclo de hiperinflação acima da curva.
Na América Latina, a Cidade do México é a mais cara.
"Em 2023, o peso mexicano provou ser uma das moedas mais fortes dos mercados emergentes, graças aos aumentos das taxas de juro e ao forte investimento interno", detalha a revista.
"Os bancos centrais de grande parte da América Latina foram os primeiros a seguir os aumentos das taxas de juros da Reserva Federal dos EUA para apoiar as moedas locais. Como resultado, o peso mexicano e o colón costarriquenho se fortaleceram", explica a publicação.
Três cidades brasileiras aparecem no ranking da The Economist: São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus. Elas têm uma posição intermediária na América Latina — são mais caras que Assunção (Paraguai) e Buenos Aires (Argentina), mas mais baratas que Quito (Equador), Santiago (Chile) e Montevidéu (Uruguai).
Buenos Aires, a mais barata da América Latina
Embora as autoridades estimem que a inflação na Argentina terminará 2023 em 180% ao ano, a capital argentina é a cidade mais barata da América Latina e do Caribe.
O principal motivo é a desvalorização sofrida pelo peso.
Atualmente, quem tem dólares na capital argentina pode conseguir em troca muito mais pesos do que há um ano.
"A Argentina tem uma trajetória fiscal insustentável, uma taxa de câmbio sobrevalorizada e uma balança comercial muito vulnerável. A inflação aumentou rapidamente, enquanto o peso argentino oficial enfraqueceu mais lentamente", afirma Mali Chivakul, economista de mercados emergentes do banco J. Safra Sarasin.
"Como resultado, a taxa de câmbio real valorizou-se de forma acentuada desde 2022."
"A estimativa do FMI sobre a sobrevalorização da taxa de câmbio real situa-se entre 15% e 20%. E o mercado paralelo argentino oferece um câmbio não oficial até 150% mais fraco que o oficial", acrescenta o especialista.
Por isso, embora a população da capital sofra intensamente com um ciclo de inflação, a comparação com o dólar torna Buenos Aires uma cidade relativamente barata em relação às demais.