A região metropolitana de Santiago é um dos principais locais escolhidos pelos brasileiros para conhecer a neve e esquiar. Apesar disso, a capital do Chile guarda muitos outros pontos turísticos interessantes que podem ser desfrutados durante o verão. Para conhecê-los, o Estado de Minas fez um passeio a convite do governo chileno. Vale lembrar que há um voo direto, saindo do Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins.

Antes de chegar à cidade, contudo, é de uma beleza capaz de superar qualquer elogio a vista de dentro do avião da Cordilheira dos Andes, que se apresenta gigantesca e com vários cumes pintados de branco pela neve. Já na cidade de Santiago, a cadeia de montanhas funciona como ponto de localização no horizonte, pois é possível vê-la de quase todos os lugares . O mesmo ocorre com a Cordilheira da Costa, menor e sem gelo nesta época do ano.



 

 A hospedagem foi na comuna – como são chamadas as 36 regiões da cidade – de Las Condes, área nobre com belas praças e parques, prédios novos e modernos. Do quarto do hotel é possível ver o Sky Costanera, o maior prédio da América do Sul. O passeio é um clichê, mas obrigatório, porque pode ser feito em pouco tempo. O imóvel foi aberto ao público em 2015, depois de a construção ser iniciada em 2006 e paralisada por causa da crise econômica.

Lá tem hotel, shopping, escritórios e um mirante, que fica no 42º andar. Os 300 metros são percorridos em pouco mais de 40 segundos pelo elevador, que é gigante. No último andar, uma grande área aberta cercada por vidros de todos os lados possui vista panorâmica para toda cidade. Nas paredes, há indicações dos pontos de referência; ainda há lente de aproximação para observar os pontos preferidos.

 

O QUE VISITAR

Palácio de La Moneda, sede do governo e local histórico na capital chilena

Alvaro Duarte/EM

Outra boa opção é conhecer o centro da cidade, que possui prédios importantes. A igreja de São Francisco de Assis é o edifício mais antigo ainda de pé no Chile. O começo da construção remete a 1572, poucos anos depois da chegada à capital chilena dos primeiros franciscanos. “Este templo foi testemunha do nascimento da pátria, como também dos câmbios que forjaram a identidade de nosso país”, diz uma placa dentro da igreja, que possui interior bem rústico, com as paredes feitas de pedra em uma estrutura que aguentou os terremotos da capital chilena.Para quem fugiu das aulas de geografia, vale lembrar que o Chile está localizado no encontro de duas placas tectônicas (a de Nazca, no Oceano Pacífico, e a Sul-americana, na América do Sul), o que provoca a instabilidade na região. Por causa dos fortes tremores, o país possui poucos edifícios históricos.

No início do século 20, os franciscanos passaram por dificuldade financeira e venderam parte do terreno ao lado da igreja, onde foi construído parte do bairro Paris-Londres, uma pequena área inspirada na arquitetura europeia daquele tempo. A rua é bem estreita e, aparentemente, trafega poucos carros. O piso é feito de paralelepípedo. Bem pertinho da igreja está o Museu e a Casa da Memória Londres 38, onde funcionava a sede do Partido Socialista até o golpe militar chileno (1973). O local virou um centro de reclusão clandestino, culminando com a morte de 96 pessoas, entre elas duas mulheres grávidas. Na calçada, há placas com o nome de todos os mortos, uma homenagem a esses chilenos brutalmente assassinados pela força do próprio estado.

Andando mais pelas ruas do Centro, se chega ao Palácio de La Moneda, que leva esse nome porque foi projetado para ser a casa da moeda, convertido em sede do governo em 1845. O prédio foi bombardeado pelo exército chileno e pela força aérea em 1973, ano do golpe militar. O então presidente Salvador Allende morreu no local. No dia da visita da reportagem do Estado de Minas, havia um evento na praça em frente. A beleza do edifício ficou eclipsada pelos toldos e equipamentos. Por perto, ficam outros prédios governamentais, como o antigo Congresso Nacional e o Palácio dos Tribunais de Justiça, além do museu de Arte Pré-Colombiana. É uma região muito bonita e viva, com gente pelas ruas e vendedores ambulantes.

BAIRRO ITÁLIA

Cristián Arismendi Barros tem de tudo na sua loja no bairro Itália: de cerâmicas originais chilenas a revistas de futebol

Thiago Madureira/EM

O Bairro Itália, localizado na comuna de Providencia, é um dos mais charmosos da capital Santiago. Os grandes prédios ficam para trás e dão lugar a pequenas construções de no máximo dois andares. Com amplas calçadas, jardins e árvores, as antigas casas foram vendidas para galerias de arte, antiquários, cafeterias, restaurantes e bares. Trata-se tipicamente de um ambiente cultural, onde as pessoas podem caminhar pelas ruas e comer da boa gastronomia de várias regiões do mundo (peruana, chilena, indiana, tailandesa, espanhola e francesa).

Quem recebeu a reportagem no bairro foi Cristián Arismendi Barros, dono da Antiguidades Arismendi. Os pais deles vieram do País Basco, na Espanha, e iniciaram o negócio de restauração de antiguidade. Ele conta como surgiu a região: “Este era um bairro residencial, era um local onde moravam os comerciantes da região. Com o passar do tempo, eles foram vendendo as casas para pontos comerciais, que foram crescendo”, disse Arismendi, que chegou no bairro nos anos 2000. “Com os anos começou a chegar gente de outros lugares. Eu comecei o negócio de restauração de antiguidade no Chile aos 19 anos porque meu pai morreu e tive que assumir. Com erros e acertos, estou aprendendo e aculturando-me”, acrescentou.

Arismendi tem de tudo na sua loja: de cerâmicas originais chilenas a revistas de futebol, passando por móveis, cadeiras de cinema, quadros e vitrolas. Com canais no TikTok e no Instagram, ele posta tudo nas redes sociais. “É possível viver e empreender no Chile, mas você tem que ter disposição, vontade de trabalhar. Se precisar abro a loja de segunda a segunda”, garante.


ONDE COMER BEM

Risoto com frutos do mar do restaurante La Mesa, que se destaca pela cozinha contemporânea e orgânica

La Mesa/Divulgação

O Chile tem frutos do mar e pescados da melhor qualidade em razão da sua longa costa pacífica, que recebe correntes geladas do Polo Sul. Por outro lado, também tem espaço para criação de animais, como gado e ovelhas. Portanto, não faltam ingredientes para cozinhar bons pratos. Em Santiago, há bons restaurantes por toda cidade. Um dos lugares onde se come bem é a comuna de Vitacura, região na qual há galerias de arte, lojas e hotéis, bem próxima ao parque bicentenário, considerado o pulmão verde da cidade.

Com uma proposta sustentável, como a plantação de horta local e a compra direta com fornecedores das redondezas, La Mesa recebeu o EM para um jantar. O local é amplo e tem três ambientes, um lobby na entrada, a parte interna, onde é possível ver o chefe trabalhando, já que a cozinha é aberta, e a parte dos fundos, muito bem decorada.

O chef Alvaro Romero apresentou a cozinha e explicou a concepção de sua cozinha. “Preparamos pratos simples por meio de processos de baixo impacto no meio ambiente, utilizando produtos de origem local, com relação pessoal e direta com nossos fornecedores. Queremos trocar conhecimentos e aprender a partir da experiência direta”, destacou. No menu, chamaram a atenção o nhoque de beterraba e os frutos do mar e carnes com preparação especial, tudo acompanhado de bons vinhos locais.

VALPARAÍSO: CIDADE DAS ARTES

Patrimônio pela Unesco, Valparaíso se destaca pelo casario colorido em estilo inglês

Chile Travel/Divulgação

 

Valparaíso é uma escolha óbvia e acertada de todo turista que visita o Chile. A cidade de quase 300 mil habitantes fica a 117 km de Santiago e foi declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco em 2003 por causa da sua parte histórica. A cidade é conhecida pelos seus morros coloridos à beira-mar – os dois principais são Cerro Alegre e Cerro Concepción. Os passeios devem ser feitos caminhando, aproveitando a arte de rua, já que muros, paredes, portas e até janelas de muitas casas são pintados por artistas da cidade – a chamada “street art”, ou arte de rua.

Para chegar a esses bairros, é necessário pegar um elevador urbano, que liga a parte baixa ao ponto mais elevado dos morros. Este meio de transporte foi pensado porque os ônibus têm dificuldade de acessar os morros em função da sua declividade. Hoje, também é muito procurado pelos turistas que visitam a região. Trata-se de um meio de transporte bem rústico, já que tem anos de uso – o primeiro foi construído em 1883 –, e eficiente.

Com português impecável, o guia Cristóbal Nilo apresenta Cerro Alegre e Cerro Concepción. Ao descer de um dos elevadores, já se começa a percorrer as ruas estreitas, sempre inclinadas; algumas apresentam limitação para veículos, sendo acessadas apenas por pedestres. A arquitetura de algumas casas são inspiradas em construções de origem inglesa e foram desenvolvidas em finais do século 19. A variedade da região contempla de prédios mais simples a palacetes erguidos por empresários que chegaram e se fixaram na cidade em função do porto.


GALERIAS URBANAS

Não à toa que Valparaíso é conhecida como a capital da arte urbana. Grafites colorem ruas e muros da cidade costeira

Chile Travel

Nos dois bairros, há uma mescla de casas residenciais, pousadas, hotéis, bares, restaurantes e galerias de arte. Em uma cidade que respira cultura, fica a galeria Rojo, que está localizada em uma linda casa construída em 1887, que aparenta, de fora, ser pequena, mas, pela geografia do local, é enorme e formada por três andares.

Curador da galeria, Cristian Rojo nos explicou seu objetivo: “Pretendemos mostrar o trabalho dos artistas nacionais, com o objetivo de fazer o turista e mesmo a população local conhecerem a cena artística cultural chilena”. No dia da visita, 60 artistas estavam com obras expostas na galeria, que tem uma varanda com linda vista para o mar e os morros da cidade. A Rojo tem quatro salas temáticas: obra contemporânea, montagens e gravuras, arte urbana chilena e artesanato exclusivo.

Quando a reportagem estava na cidade, foi lançada a segunda edição do livro "Valparaíso: capital del arte urbano". A obra apresenta parte do grande acervo a céu aberto da região, com gravura, nome dos artistas e outras informações.

ORIGEM DO POETA

Para quem gosta de arte, o Museu de Belas Artes de Valparaíso, assim como a casa museu do poeta Pablo Neruda, no Cerro Florida, também são boas opções.

A arte sacra também está presente na cidade, com a simples e bela catedral de Catedral Anglicana de Saint Paul (São Paulo), construída em 1858 por influência dos britânicos que estavam na região.

Em função da restrição de liberdade religiosa naquele momento histórico, ela não poderia parecer uma igreja, nem conter símbolos. Foi só em março de 2016 que foi declarada catedral pela Diocese Anglicana do Chile, a primeira catedral anglicana do país.


*O jornalista viajou a convite do governo do Chile

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