O Domingo de Páscoa (31/3) em Ouro Preto encerra as celebrações da semana santa com cortejo de anjos pelas ladeiras históricas da cidade mineira

       -  (crédito:  Jair Amaral/EM/D.A Press)

O Domingo de Páscoa (31/3) em Ouro Preto encerra as celebrações da semana santa com cortejo de anjos pelas ladeiras históricas da cidade mineira

crédito: Jair Amaral/EM/D.A Press

Vestidos de anjos, jovens e crianças fazem uma revoada sobre tapetes de serragens no Domingo de Páscoa. Lentamente, eles caminham por ruas estreitas sendo observados por centenas de fiéis, ornados de véus, túnicas e, nas mãos, terços diversos. No rosto, lágrimas escorrem diante do belo, do sagrado, em profundo desejo: Jesus vive! Esse ritual sagrado fecha a programação que começou na quaresma e que atraiu turistas do Brasil e do mundo para reviver a Paixão, a dor e a glória de Cristo em ladeiras históricas de Minas.

Vida, calvário, morte e ressurreição. Durante a semana santa, a representação dos últimos dias de Jesus Cristo na terra é celebrada com devoção, amor e lágrimas. O Brasil, com a maior população católica do mundo, revive, nos quatro cantos do país, todo sofrimento vivido por Jesus: do calvário à crucificação e, depois, a ressurreição.

De 25 a 31 de março, igrejas barrocas e ladeiras de pedras são palco, na semana santa, de missas, procissões luminosas, encenações da Paixão de Cristo na via-sacra, tapetes devocionais, anjos e cantos em latim, que dão um ar ainda mais solene e atraem milhares de turistas às cidades históricas mineiras.


Milhares de fiéis visitam Minas no feriado religioso. Eles buscam nesta data o contato direto com o divino e, não se cansam em acompanhar o ritual religioso, em procissões luminosas por ruas e vielas estreitas das cidades históricas ao som de cânticos melancólicos intercalados pelas badaladas dos sinos das igrejas barrocas.

 

Minas Santa

No alto da Serra da Piedade, a representação da Paixão de Cristo emociona

No alto da Serra da Piedade, a representação da Paixão de Cristo emociona

Jair Amaral/EM/D.A Press
 

Para celebrar as tradições e a religiosidade do período da semana santa no estado, o Governo de Minas apresentou a segunda edição do projeto turístico Minas Santa, nessa segunda-feira (19/2), no Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade, na Serra da Piedade, em Caeté.

O turismo religioso ganhou destaque nos últimos anos. O governo estadual quer aumentar a visitação nas históricas cidades de Minas Gerais e, com isso, gerar mais emprego e renda para os mineiros – um dos propósitos centrais do projeto Minas Santa. “Cerca de 36% do turismo que se faz em Minas é turismo cultural - e a fé também é cultura – gerando uma movimentação econômica de cerca de R$ 5 bilhões por ano. Minas tem uma especificidade muito grande no que se refere ao turismo da fé, e a semana santa e a Semana da Inconfidência foram os dois fatores que fizeram com que nosso turismo superasse esse recorde histórico, crescendo 720% acima da média nacional em 2023 ”, pontuou o secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas Oliveira.

Na edição deste ano, o programa conta com a adesão de cerca de 600 municípios e continua tendo como meta principal posicionar Minas Gerais como o principal destino turístico no país durante a semana santa, dando protagonismo às diversas expressões culturais e religiosas (católicas, evangélicas e das afromineiridades) relacionadas à fé, e valorizar o patrimônio cultural material e imaterial.

Para dom Walmor Oliveira de Azevedo, o patrimônio religioso do estado e a espiritualidade e a fé do povo mineiro são divulgados para os outros lugares do mundo com a realização do programa Minas Santa.“É importante destacar que 60% do patrimônio sacro do Brasil se encontra em Minas Gerais. É uma riqueza única, não apenas na beleza arquitetônica e de engenharia, mas da expressão do significado humano que eles apresentam. Por isso Minas Gerais é singular no cenário brasileiro” enalteceu Dom Walmor.

 

 


Ouro Preto

Tapetes devocionais feitos com serragem colorem a procissão da Ressurreição de Cristo na cidade histórica de Ouro Preto. Visitantes poderão participar de oficinas e aprender como confeccioná-los

Tapetes devocionais feitos com serragem colorem a procissão da Ressurreição de Cristo na cidade histórica de Ouro Preto. Visitantes poderão participar de oficinas e aprender como confeccioná-los

Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press


A exemplo de outros municípios mineiros nascidos nos tempos coloniais, a antiga Vila Rica tem suas particularidades: as paróquias de Nossa Senhora da Conceição, do Bairro Antônio Dias, e a de Nossa Senhora do Pilar se revezam na organização das cerimônias da Paixão de Cristo. A paisagem colonial, com seu casario e monumentos, se torna um espetáculo à parte, com o Centro Histórico emoldurado pela luz das velas que os fiéis carregam durante os cortejos. No domingo de Páscoa, os tapetes coloridos e os anjos dominam as ruas por onde passará a procissão da ressurreição. Materiais como serragem, borra de café, farinha e areia se transformam em encantamento pelas mãos da comunidade e de visitantes. Reconhecida como patrimônio da humanidade ela é visitada por gente do mundo inteiro.

 


Mariana

Procissão das Almas na sexta-feira Santa, em Mariana. Tradição ocorre desde 1850

Procissão das Almas na sexta-feira Santa, em Mariana. Tradição ocorre desde 1850

ÉLCIO ROCHA / PREFEITURA DE MARIANA


Vizinha de Ouro Preto, Mariana – primeira vila, primeira capital, sede do primeiro bispado e primeira cidade a ser projetada em Minas Gerais – com mais de 320 anos de existência, tem uma das celebrações mais tradicionais no estado. A procissão das almas, na madrugada de sexta-feira da Paixão, em que fiéis se cobrem com túnicas brancas e carregam velas pelas ruas do Centro Histórico. No domingo de Páscoa, a cidade se enche de cores. As ruas são enfeitadas e as janelas decoradas com colchas de retalhos, toalhas bordadas e vasos de flores. Os sinos anunciam o início da procissão, formada por crianças vestidas de anjo passando por ruas cobertas por tapetes de serragem. O palco principal das festividades é a Catedral da Sé e a Praça Minas Gerais, que conta com bailes, shows, malhação do Judas e tapetes de flores e serragens coloridas.

Congonhas

Diante do Santuário de Bom Jesus do Matosinhos, representação da Paixão de Cristo é encenada sobre os olhares dos Profetas de Aleijadinho

Diante do Santuário de Bom Jesus do Matosinhos, representação da Paixão de Cristo é encenada sobre os olhares dos Profetas de Aleijadinho

Beto Novaes/EM/D.A Press


Procissões, celebrações e encenações tomam as ruas de Congonhas durante a semana santa. A encenação da Paixão de Cristo é um dos pontos altos da programação, contando com a participação de mais de 200 atores e figurantes. Na quinta-feira, na Praça da Igreja Matriz, há encenação da santa ceia. Na sexta-feira à noite, é a vez da representação da crucificação de Cristo, no Adro dos Profetas. Casa do patrimônio mundial Santuário Bom Jesus de Matosinhos – título concedido pela Unesco –, a fé e a religiosidade da população local aflora nesse período e pode ser notada no cuidado dos moradores e fiéis com a organização dos festejos e confecção do tradicional tapete de serragem e flores.

Nesta época do ano, centenas de turistas visitam a histórica cidade de Congonhas, que integra o Circuito do Ouro, para ver de perto as obras de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814), maior artista brasileiro de todos os tempos. Ele deixou, no alto de um dos morros de Congonhas, a 89 quilômetros de Belo Horizonte, sua obra-prima: os passos da paixão de Cristo. Por três anos, entre 1º de agosto de 1796 e 31 de dezembro de 1799, ele executou, ao lado de ajudantes de seu ateliê, as 66 figuras em cedro instaladas em grupos: ceia, horto, prisão, flagelação, coroação de espinhos, cruz às costas e crucificação. Bem ao lado se encontra o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, que, mesmo em reformas, é cenário único com os profetas esculpidos em pedra-sabão.

Diamantina

Em Diamantina, 50 guardas romanos acompanham a saga de sofrimento de Cristo na encenação realizada na Sexta-feira Santa

Em Diamantina, 50 guardas romanos acompanham a saga de sofrimento de Cristo na encenação realizada na Sexta-feira Santa

Jose Leônidas/Divulgacao - Semana Santa em Diamantina 2017

A charmosa localidade mineira ostenta uma semana santa com tradições de três séculos. O município patrimônio cultural da humanidade segue sua tradição nas celebrações da semana santa, que se inicia no Domingo de Ramos, com programação todos os dias até o Domingo de Páscoa. Entre os eventos estão a procissão do encontro, a cerimônia do lava-pés, a encenação da crucificação e morte de Jesus, o descendimento da cruz e a ressurreição. Uma atração à parte é a guarda romana, quando mais de 50 homens se caracterizam como soldados romanos da época e participam da via-sacra. Além das missas e encenações, as ruas do Centro Histórico são enfeitadas com detalhado tapete de serragem, que é confeccionado pelos moradores e visitantes. Próximo a Diamantina, o município do Serro também tem tradicional celebração.

 

 


São João del-Rei

 Na Sexta-feira da Paixão em São João del- Rei, o ponto alto da fé católica é a cerimônia de Descendimento da Cruz, na escadaria da Igreja de Nossa Senhora das Mercês

Na Sexta-feira da Paixão em São João del- Rei, o ponto alto da fé católica é a cerimônia de Descendimento da Cruz, na escadaria da Igreja de Nossa Senhora das Mercês

Emmanuel Pinheiro

Fé, cânticos em latim e ritos que atravessam os séculos, sem perder as tradições e a devoção popular. Em São João del-Rei, na Região do Campo das Vertentes, a semana santa é um período de reflexão e também de muita beleza, com missas solenes acompanhadas por corais, orquestras e integrantes das irmandades religiosas nascidas no século 18. Entre os eventos estão a procissão do encontro, a cerimônia do lava-pés, a encenação da crucificação e morte de Jesus, o descendimento da cruz e a ressurreição. Além das missas e encenações, as ruas do Centro Histórico são enfeitadas com detalhado tapete de serragem, que é confeccionado pelos moradores e visitantes. Para quem nunca esteve na cidade, vale a pena participar do ofício das trevas com a presença da Orquestra Ribeiro Bastos e do Coral Gregoriano da Associação dos Coroinhas de Dom Bosco da Catedral.

Tiradentes


Na vizinha Tiradentes, distante 15 quilômetros de São João del-Rei, os visitantes vão encontrar muitas cerimônias que remontam igualmente aos tempos coloniais e têm como ponto de partida ou chegada a Matriz de Santo Antônio, no Centro Histórico. A charmosa localidade mineira ostenta uma semana santa com tradições de três séculos. Os passos, pequenos altares construídos no século 18, ficam fechados durante a maior parte do ano, mas abrem suas portas durante as procissões de Ramos e das Dores. Um dos eventos mais movimentados é a missa solene na igreja matriz, na quinta-feira santa, quando ocorre a cerimônia do lava-pés. No domingo de Páscoa, os moradores decoram suas janelas com toalhas bordadas, que mudam a paisagem da cidade.

 

Próximo de BH

Em Sabará, a abertura do Santo Sepulcro ocorre na quinta-feira santa, se diferenciando das demais igrejas de Minas

Em Sabará, a abertura do Santo Sepulcro ocorre na quinta-feira santa, se diferenciando das demais igrejas de Minas

Leandro Couri/EM/D.A Press

Ritos litúrgicos, procissões, anjos e devoção marcam as cidades ao lado de Belo Horizonte. Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, guarda um momento muito especial para a tarde da quinta-feira santa (27/3). Às 15h, na Igreja de São Francisco, começa a cerimônia de abertura do santo sepulcro do Senhor morto. O ritual remonta ao século 18 e é considerado único no país, pois retrata a morte de Jesus na quinta-feira – na véspera, portanto, da sexta-feira da Paixão, quando os católicos relembram a crucificação e acompanham a procissão do enterro. Outro momento especial em Sabará ocorrerá na sexta-feira da Paixão, às 4h. Trata-se da via-sacra da penitência, que sai da Igreja de São Francisco, chega ao Morro da Cruz e, depois, retorna ao ponto de origem, numa duração de cerca de três horas.

Santa Luzia

A semana santa em Santa Luzia é um momento de profunda emoção e reflexão para os fiéis da região. Na cidade vizinha à Belo Horizonte, são realizadas diversas celebrações religiosas que relembram a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. As procissões, os atos litúrgicos e as encenações da Via Sacra são momentos intensos de fé e devoção para a comunidade local. As tradições e os rituais unem as pessoas em oração e contemplação, fortalecendo a espiritualidade e a conexão com a história sagrada. É um período marcado por sentimentos profundos de esperança, gratidão e renovação espiritual.

Entre Serras

No município de Caeté encontra-se a menor basílica do mundo, a igreja da padroeira de Minas Gerais, que integra o complexo arquitetônico do Santuário Nossa Senhora da Piedade. As missas e a via-sacra no Santuário do Caraça também merecem ser acompanhadas pelos visitantes. Durante toda a semana santa está programada uma série de missas e vigílias e vale também destacar a “encomendação das almas”, quando os moradores, em procissão, rezam pelas almas que se encontram no purgatório, com diversas missas, celebrações e vigílias. Já em Barão de Cocais, um dos momentos mais aguardados nas comemorações é a bênção dos fogos, no sábado de Aleluia, realizada no Santuário de São João Batista. Também conhecida como “cerimônia da luz”, os fiéis renovam seus votos e promessas do batismo. Para finalizar, em Santa Bárbara, o grande destaque das comemorações da semana santa é a encenação da Paixão e morte de Cristo.