“A jornada é o que nos traz felicidade. Não o destino. Ouça seu coração, tenha fé e aproveite a paisagem. O resto virá por acréscimo”. A frase do filme Além da Vida é ponto de partida para aqueles que buscam o autoconhecimento e o sentido da existência. Ao caminhar pelas estradas de terra batida em Minas Gerais, cercadas por uma exuberante vegetação, os peregrinos são convidados a refletir, a se conectar consigo mesmos e com a natureza ao seu redor. Cada passo dado é carregado de significado, de superação e de fé.
As histórias se entrelaçam ao longo do caminho, revelando a força interior de cada peregrino em busca de respostas, de cura ou simplesmente de paz. As lágrimas de cansaço se misturam com sorrisos de gratidão a cada novo amanhecer, a cada encontro inesperado no trajeto.E é assim, entre desafios e superações, que as rotas sagradas em Minas Gerais se tornam muito mais do que uma simples jornada física. É uma experiência transformadora, capaz de tocar o coração daqueles que se permitem mergulhar nessa aventura espiritual.
Que cada passo dado nesse caminho seja guiado pela emoção e pela fé, revelando a verdadeira essência de Minas Gerais e de seus habitantes, que acolhem os peregrinos de braços abertos, compartilhando histórias, acolhendo sonhos e renovando esperanças a cada passo dado rumo à transcendência.
Turismo religioso
O Governo de Minas Gerais, por meio do Observatório do Turismo, realizou um levantamento sobre as manifestações religiosas e o perfil do turista da fé. Segundo a diretora de produtos turísticos da Subsecretaria de Estado de Turismo, Emanuelle Oliveira, foram catalogadas 17 rotas de peregrinação e 1.025 edificações religiosas. Em 2023, já foram realizados 300 eventos de fé em todo o Estado.
O Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) elaborou neste ano o Cadastro de Celebrações e Ritos da Quaresma e da Semana Santa. A gerente de Identificação e Pesquisa do Iepha, Ana Paula Gomes, explicou que o levantamento foi feito com um formulário on-line, por meio do qual prefeituras e paróquias puderam encaminhar suas informações.
Foram catalogadas 679 manifestações culturais em 571 municípios mineiros, como procissões, tapetes devocionais e encenações da Paixão de Cristo, além de apresentações em igrejas evangélicas e tradições de matriz africana. “É um guia importante para promover a difusão de informações e possibilitar a estruturação de roteiros religiosos”, afirmou a gerente.
O turismo da fé é o segmento que mais cria novas rotas turísticas no estado mineiro. O projeto Minas Santa terá programação em rotas do estado como o Caminho da Luz, Caminho da Fé, Caminho Nos Passos de Dom Viçoso, Caminho das Capelas, Caminhos Franciscanos e o Caminho Religioso da Estrada Real (Crer), que compreende 31 municípios, como Caeté, Itabirito, Mariana, Tiradentes e São Lourenço. O Caminho da Fé, percurso mais visitado do país, tem fluxo médio anual de mais 23 mil viajantes e geração econômica de R$ 24 milhões por ano.
Caminho da Fé
Devoção, histórias de gratidão, promessas, aventura, contato com a natureza, fé, superação de limites e de desafios e autoconhecimento caracterizam o roteiro do Caminho da Fé. O trajeto, que pode ser percorrido a pé ou de bicicleta, inclui desde montanhas e trilhas a trechos urbanos, com asfalto. Abrange 20 municípios do estado de Minas Gerais, cruzando a Serra da Mantiqueira entre os estados de MG e SP e possibilitando, também, uma vivência da cultura e um mergulho na história de cada cidade. Entre os municípios que integram o percurso estão, por exemplo, as mineiras como Águas da Prata, Andradas, Ouro Fino, Borda da Mata, Inconfidentes, Crisólia, Borda da Mata, Estiva, Luminosa, Tocos do Moji, Consolação e Paraisópolis. Cada uma dessas cidades contribui para enriquecer a experiência dos peregrinos, oferecendo acolhimento, histórias e paisagens únicas ao longo do Caminho da Fé em Minas Gerais.
O Caminho da Fé, no Brasil, foi inspirado no milenar Caminho de Santiago de Compostela e foi criado, em 2003, para oferecer estrutura para os peregrinos que sempre visitaram o Santuário Nacional de Aparecida. Ele oferece pontos de apoio, infraestrutura e informações essenciais. Com mais de 2000 km de extensão, sendo aproximadamente 400 km atravessando as montanhas da Mantiqueira por estradas vicinais, trilhas, bosques e asfalto, o Caminho da Fé proporciona belas paisagens e a oportunidade de interação com comunidades acolhedoras. Além disso, o percurso oferece momentos de reflexão e fé, contribuindo para a saúde física e psicológica, e promovendo a integração do homem com a natureza. Até 2021, 72 mil peregrinações foram registradas no Caminho da Fé, sendo 54 mil únicas, ou seja, pela primeira vez. Deste total, 44% percorreram o trajeto a pé e 56% de bicicleta. Só em 2021, foram 15.676 peregrinações e, em 2023, foram mais de 20 mil.
Para mais informações sobre o Caminho da Fé acesse o site.
Caminho da Luz
Durante toda a extensão do Caminho da Luz, pedaços de mica e cristais surgem do chão, proporcionando-lhe um brilho especial. A luz do Caminho se manifesta também na vasta visão e na grande luminosidade que se revelam nas cordilheiras do horizonte toda vez que, durante a jornada, deixamos um vale para trás. O caminho, todo sinalizado por setas, marcas amarelas e placas indicativas, tem início na cidade de Tombos (conhecida como Portal de Minas), a 383 quilômetros de Belo Horizonte – capital de Minas Gerais, e termina no Pico da Bandeira. São quase 200 quilômetros percorridos pelas montanhas de Minas em sete dias de caminhada (ou menos, se de bicicleta ou a cavalo), passando por fazendas centenárias, matas, cachoeiras, santuários e antigas estações ferroviárias. A rota é carregada de um magnetismo que encanta a todos que têm uma sensibilidade aguçada, pois sua força energética abre inúmeros portais mágicos, levando os caminhantes a uma viagem que ultrapassa a barreira do tempo.
Ao peregrinar pelo Caminho da Luz, o viajante terá a impressão de que estará viajando juntamente com os indígenas, tropeiros, religiosos, pesquisadores e aventureiros que se embrenharam pelas matas da região em busca do ouro, das pedras preciosas e das terras férteis que, ainda hoje, guardam importantes tesouros naturais e arqueológicos.
No site do Caminho da Luz você encontra informações de guias e como planejar a jornada.
Dicas para quem vai seguir os caminhos
Os caminhos de Fé e Luz são uma jornada física e espiritual que se desenrola quilômetro a quilômetro, etapa a etapa e paisagem a paisagem. Cada peregrino que percorre as rotas volta transformado pelas experiências e aprendizados que adquiriu ao longo do caminho. Embora cada pessoa viva a jornada de forma única, há lições comuns que se destacam:
Viver com o mínimo e valorizar as pequenas coisas: O caminho ensina a importância de carregar apenas o essencial, deixando para trás o supérfluo.
Igualdade no caminho: Independentemente de origem, raça ou religião, a jornada iguala a todos os peregrinos, unindo-os no mesmo percurso.
Companhia constante: No caminho, a solidariedade e a fraternidade prevalecem, garantindo que nenhum peregrino se sinta sozinho em sua jornada.
Superar limites: O caminho desafia os peregrinos a superarem seus limites físicos e mentais, mostrando que sempre há mais força para seguir em frente.
Disciplina e perseverança: A disciplina é fundamental para planejar e enfrentar os desafios diários do caminho, rumo à meta final.
Paciência: A jornada ensina a desenvolver a paciência necessária para lidar com contratempos e dificuldades ao longo do percurso.
Redescobrindo ritmos e prioridades: O caminho proporciona uma pausa no estresse da vida cotidiana, permitindo uma reflexão sobre prioridades e ritmos de vida alternativos.
Desintoxicação tecnológica: A desconexão digital durante o caminho possibilita uma pausa das distrações tecnológicas, permitindo uma conexão mais profunda com a jornada.
Conexão com a natureza: A natureza ao longo do caminho oferece momentos de contemplação e conexão com os tesouros naturais.
Conexão consigo mesmo: O caminho é um convite à espiritualidade e à reflexão interior, promovendo uma conexão profunda consigo mesmo e com o propósito da jornada.
Nos braços de Nossa Senhora
Michele Coelho mudou o rumo de vida em plena pandemia, em 2021. A empresária e guia do receptivo Caminho da Fé fala da transformação que a vida dela teve quando decidiu acatar o chamado de Nossa Senhora Aparecida e guiar os peregrinos, a cada 15 dias, para ter um encontro com a Padroeira do Brasil. Emoção não faltam em suas palavras para descrever a guinada pessoal e profissional desde então.
Quando a agência foi criada e como surgiu a ideia?
A agência foi criada em 2021, eu já conhecia o Caminho da Fé desde 2016, quando fiz meu primeiro percurso pelo caminho junto com meu pai, que na época tinha 71 anos. Eu me apaixonei pela rota, e desde então, não consegui ficar longe. Sou da cidade de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. A rota oficial do Caminho da Fé, com 700 quilômetros de distância, eu vou todos os meses e volto com a maior felicidade do mundo, e desde que eu a conheci, não consigo sair daquelas terras. Eu costumo dizer que eu me apaixonei pelo quintal da casa de Nossa Senhora. Em 2019, eu estava separada do meu marido, ele estava morando num hotel. Recebi uma proposta, de uma pessoa muito querida, para construir e tocar uma pousada em Andradas (MG). Ela sempre soube do amor que eu tenho pelo Caminho da Fé, e ela me convidou para a gente construir uma pousada no caminho, e eu topei. Porém, em 2020, veio a pandemia e meu marido voltou para casa e a gente acabou reatando o casamento. Quando nós voltamos eu falei para ele: ‘olha, a gente pode até voltar ao casamento, mas eu vou para o Caminho da Fé. Recebi uma proposta de tocar uma pousada lá e eu estou indo, e ele ficou um pouco ressabiado, e ele foi’. Meu marido tinha feito o primeiro caminho dele de bike, em 2016. Retornou em 2021, e quando voltou, ele teve a ideia de que eu fosse guia, que aí eu poderia ficar 15 dias no caminho, 15 dias em casa. E ele disse na época que me conhecendo como ele me conhecia, sabia que eu não ia conseguir ficar presa dentro de uma pousada. E falou que a questão de agenciar, guiar os peregrinos no caminho iria me fazer mais feliz. E ele tinha razão! Hoje, eu me encontrei, sou feliz, sou realizada, me sinto abençoada por Deus e por Nossa Senhora Aparecida por estar conduzindo os filhos dela no caminho que os leva pra casa de Maria".
Qual a quantidade mínima e máxima de pessoas para participar da caminhada?
"Os meus grupos são formados por no mínimo de 10 pessoas e máximo de 30/ 35 pessoas. Já cheguei em Aparecida com 36 pessoas. As pessoas sempre me perguntam assim, nossa, mas é difícil trabalhar com um grupo grande? Não. Eu acredito que com o grupo com mais participantes é mais fácil de se trabalhar. Essas pessoas têm mais convívio, uma com as outras. O networking fica mais fácil de acontecer e, aí, a gente consegue captar as coisas boas que o outro tem para nos oferecer num grupo maior. E num grupo pequeno, geralmente, a gente consegue ver mais as pequenas coisinhas das outras pessoas, aquelas coisinhas que nos incomodam, que são o espelho da vida, né? Eu costumo dizer que nós somos um espelho. Aquilo que o outro reflete em você, que te incomoda, é algo que você precisa mudar em você e não no outro".
Qual o mês e ano mais procurado pelos peregrinos?
"Todo mundo acredita que seja outubro, porém, não é. O mês mais procurado pelos peregrinos é julho. Então a nossa temporada começa em julho e vai até setembro. Por quê? Porque são os meses que são mais frescos e com menor possibilidade de chuva. Julho tem mais movimento do que o mês de outubro, que é o mês de Nossa Senhora Aparecida".