Onde começa a cozinha e terminam as histórias? Ter pessoas em volta da mesa compartilhando momentos é uma tradição que nos remete aos tempos de calmaria, de nos permitirmos aos encontros, a comer comida boa, aquela feita com tempo, comida com tempo. Na poética das trajetórias culinárias, um livro inspirou a chef Juliana Duarte a relacionar as mineirices dos ingredientes típicos às histórias comidas na esquina da Rua S. Domingos do Prata, 453, em Belo Horizonte, onde ficam o Cozinha Santo Antônio e as memórias do livro “Feijão, Angu e Couve”.
A Cozinha da chef e historiadora Juliana é formada apenas por mulheres. Num comer-discurso. Num reinventar-se da culinária mineira. Tudo já se sabe sobre Minas? Tudo já se sabe sobre as mulheres mineiras? E a comida, quem a inventou? O Cozinha Santo Antônio comemora 4 anos de reinvenção. Nascido na pandemia, reinventa todos os dias a beleza do trivial. Um restaurante que reverencia o simples, o caseiro com requinte. A história das histórias que não podem ser esquecidas.
Cardápio com história
No cardápio, referência a luta de mulheres como a Maria da Cruz, considerada rebelde, foi presa, e depois perdoada. Havia se juntado a escravizados, pequenos proprietários de terras contra a cobrança injusta de impostos, o “quinto”. Minas recém independente, ainda com bandeirantes e emboabas em busca de ouro. Na homenagem, o prato traz elementos da mesa do sertão mineiro, onde surtiu o levante: carne meia-cura, mandioca, milho, requeijão moreno, um toque de pequi, uma pimentinha e as águas do Rio São Francisco para amalgamar os sabores.
No Brasileirinho, o picadinho com pastel de queijo da Canastra e banana traz a simplicidade dos ingredientes cheios de sabores potentes. Privilegiados pela escolha de fornecedores locais. Tudo no cardápio tem a ver com o entorno, com o que o fornecedor tem de melhor naquele momento.
As carnes se desmancham, os ingredientes se misturam. De pipoca de milho crioulo a “Bifão do Agostinho”. Prove o que estiver no cardápio da semana, é a minha melhor dica! Compartilhe não só a mesa, mas essas e outras histórias. É a cozinha do abraço.
Cozinha Santo Antônio de adapta e se reinventa todos os dias
Na gastronomia sofisticada do Cozinha Santo Antônio, o feijão “pai de todos” – como diria Eduardo Frieiro, o torresmo, o angu, o arroz, a couve, as caças, as frutas, os queijos. Um almoço delicado e genuinamente mineiro.
E como disse a chef Ju Duarte “Essa semana o nosso cardápio está exageradamente caseiro, só aquelas comidinhas de casa mesmo. Não sei bem porque, mas o encontro do que tinha disponível nas listas dos nossos parceiros e o que a gente estava com vontade de cozinhar deu nisso.” Pois é chef, cozinhar com a alma, com o que se tem, com o que a natureza reservou, deu nisso. Parabéns!
Thiago Paes viaja o mundo em busca de experiências no turismo de luxo e gastronômicas. É apresentador do programa PaesPeloMundo no canal Travel Box Brazil, colunista de viagem e gastronomia e está nas redes sociais como @paespelomundo.