Nos anos de 1980, os desfiles dos alunos das escolas estaduais no 7 de setembro, em Nova Era, eram marcados por fanfarras, alegorias e representações dos bandeirantes, que foram os fundadores da cidade. Os tropeiros Antônio Dias de Oliveira e os irmãos Camargos fundaram a cidade entre 1703 e 1705 e seus feitos são lembrados até os dias atuais. Quem hoje passa pela BR-381 a caminho do Vale do Aço não imagina que na cidade às margens da rodovia e, separada ao meio pelo Rio Piracicaba que serpenteia o município, encontram-se tesouros barrocos em monumentos na localidade que completou este ano 321 anos de história.
A pequena cidade de Nova Era, com cerca de 17 mil habitantes, mira no passado para se projetar como um destino turístico no futuro. A valorização de bens tombados como a Matriz de São José da Lagoa, além dos monumentos históricos no adro da igreja, como o museu e a atual Câmara Municipal. Junta-se ao registro de bens com mais de 300 anos a antiga Fazenda da Vargem; Com toda essa riqueza, a cidade preserva um bem valioso – a história – para poder atrair visitantes para a cidade na Região Central de Minas Gerais.
“Nova Era tem um potencial turístico alto. O Circuito do Ouro é a possibilidade de conexão da cidade com outros destinos já consagrados no turismo. É poder inserir a cidade num mapa e atrair visitantes. Imagine um visitante que vai ao Santuário do Caraça, em Catas Altas, e queira conhecer localidades ao redor. O circuito divulga os roteiros e oferece outras possibilidades de passeios”, admira Txai Costa, o jovem prefeito de Nova Era.
Entusiasta do Circuito do Ouro, Txai aposta na cidade como um destino onde os turistas possam visitar por mais um dia, não apenas um local de passagem para outros roteiros. Por isso a importância de divulgar os monumentos históricos e culturais que a cidade oferece. Como gestor público, nada melhor que ele mesmo apresentar aos visitantes todos os tesouros escondidos em Nova Era.
Igreja Matriz de São José da Lagoa
Construída em formato de navio negreiro ( como outras igrejas em Santa Bárbara, Sabará e Milho Verde), a Matriz de São José da Lagoa foi edificada no século 18 e é considerada um Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, tombada pelo IPHAN em 1953. De acordo com registros históricos, a Igreja Matriz São José da Lagoa foi construída antes de 1754. O altar-mor, criado por Francisco Vieira Servas, escultor e entalhador da época de Aleijadinho, é uma das principais atrações da igreja. A pintura do teto da Matriz São José reflete o estilo rococó da transição entre os séculos 18 e 19. A planta da igreja se desenvolve a partir da nave, separada da capela-mor pelo arco-cruzeiro. O interior é marcado pela exuberante decoração em ouro, conjunto de talhas. Os altares abrigam imagens de São Francisco, Sant’Anna, São João Batista, São Sebastião, Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito. Destaca-se no altar-mor a imagem do padroeiro São José. Um dos altares colaterais possui uma curiosidade arquitetônica, com o camarim subdividido em dois níveis para abrigar Santana Mestra e São Francisco, um exemplo único no Brasil.
Lagoa de São José
Fruto de uma lenda do passado, é um local de devoção e acredita-se que suas águas são milagrosas. Ditos populares contam que dois bandeirantes, em exploração das riquezas das Minas Gerais, acabaram por se perder no sertão desconhecido. Estavam cansados de caminhar, a pele ressequida pelo sol, os pés calejados pelo chão sem fim. Totalmente desamparados, com fome e sede, viam as forças lhes fugirem e pouca perspectiva de salvação. Amparados apenas um no outro, encontraram na fé o único elo de perseverança e lucidez. Oraram por São José, santo que lhes era conhecido e querido. Pediram forças, vida e água. Prometeram erguer uma cidade, se e onde encontrassem água. Continuaram andando em meio às orações. De repente, depararam-se em uma clareira, e naquele local, uma bela lagoa de águas cristalinas. Saciada a sede, ao olharem o espelho d’água, viram ali a imagem refletida do santo em oração. Era 19 de Março, dia de São José. Promessa cumprida, nasce o arraial de São José da Lagoa, que hoje é conhecido como Nova Era. Hoje, o local funciona como Centro de Educação Ambiental.
Fazenda da Vargem
A Fazenda da Vargem, situada a 6 quilômetros da cidade, às margens da MG 120 no caminho de São Domingos do Prata, impressiona pela sua beleza e imponência arquitetônica com suas 48 janelas coloniais. Construída na primeira metade do século 19, a fazenda serviu como um importante ponto de comércio. A rodovia foi originalmente projetada como uma rota estratégica para o tropeirismo, interagindo com toda a região ao redor. Na década de 1950/60, parte dessa rota foi pensada como ramal ferroviário (Leopoldina) ligando Nova Era à Zona da Mata, mas que infelizmente o projeto não foi concluído. Elvécio Eustáquio da Silva, antigo pesquisador de Nova Era, descobriu que pela fazenda passavam as tropas seguiam para regiões onde hoje estão os municípios de Dom Silvério, Itabira, Ponte Nova, entre outros. Ainda de acordo com Elvécio, a fazenda também seria possivelmente ponto de venda da mão-de-obra escravizada. Nos anos de 1980, o local já serviu de palco de grandes artistas de renome nacional, como Elba Ramalho, Gilberto Gil, Luiz Gonzaga, Jorge Ben e Skank. Com a presença de atrações musicais, a FEANE ( Festa da Amizade de Nova Era) atraía um grande público, não apenas do município, mas também das cidades vizinhas.
Museu de Arte e História
O local abriga uma coleção de peças e documentos relacionados à história do município, provenientes principalmente de doações de famílias locais. O Museu Municipal de Arte e História de Nova Era está localizado em uma casa construída no século 18. As peças contam a história da cidade através de objetos tradicionais, como os ligados à liturgia da Igreja Católica, e também itens inusitados, como um gasômetro do século 19 e um antigo projetor cinematográfico a querosene. O espaço também documenta a presença de negros escravizados na região, exibindo objetos utilizados em sessões de tortura. Além disso, possui uma coleção de fotos representativas da evolução da região, suas características e manifestações populares. O local é utilizado para eventos sociais e culturais, recebendo visitantes locais, turistas e alunos de cidades vizinhas. Tombado pelo IPHAN, o espaço conta com mais de 500 peças, incluindo objetos religiosos, peças sacras, uma pinacoteca com destaque para o "Senhor Morto" do século 18, e dois Missais Romanum de 1782 e 1818.
Ponte Benedito Benedito Valadares
Os arcos icônicos da Ponte Benedito Valadares chamam a atenção dos visitantes. Inaugurada em 1940, a cerimônia trouxe para a cidade mineira o presidente Getúlio Vargas e o governador Benedito Valadares. Localizada no Centro da cidade, a construção em concreto armado é de grande utilidade para todos os habitantes de Nova Era. Em 2010, a ponte sofreu alteração em sua estrutura para impedir a passagem de veículos pesados, pois, estudos realizados na construção indicaram que a estrutura não suporta mais que dez toneladas. Já em 2016, foi tombada como Patrimônio Cultural do município.
Gruta de São José da Lagoa
Para quem tem fé, a pequena gruta é um local de devoção, de pedidos e de cura. Abaixo da Lagoa de São José, o barulho da cascatinha nas pedras é um local de relaxamento. É um portal espiritual que conecta o visitante ao divino. Situada às margens da BR 381, ela foi inaugurada em 19 de março de 1966. Nesse pequeno abrigo natural, que recebeu a imagem de São José Operário, a presença do pai de Jesus conforta os corações em aflito. Um lugar de adoração e contemplação em meio à natureza exuberante. Mesmo em dias quentes, prevalece o frescor proveniente das águas que escorrem pelas pedras. Um recanto de Paz que merece ser visitado.
Cascatinha da Pedra Furada
Entre Nova Era e Bela Vista, próxima à linha férrea e ao Rio Piracicaba, uma cascatinha desponta na paisagem. O local, conhecido como Pedra Furada, já era de conhecimento dos ‘novos tropeiros” – praticantes de trekking e bike –que descobriram o lugar em suas explorações. De acordo com o prefeito Txai Costa, análises feitas na água garantem que elas estão aptas para beber e se refrescar.