No último sábado (6/7), milhares de pessoas se manifestaram em Barcelona contra os impactos do turismo de massa sobre os moradores da cidade, que recebe milhões de visitantes por ano. Com o slogan "Basta! Limitemos o turismo!", alguns manifestantes usaram "pistolas" de água para molhar turistas que comiam em restaurantes e bloquearam a entrada de hotéis. Eles gritavam frases como "Fora, turistas, de nossos bairros" e "Barcelona não está à venda".
E a tendência do overturismo na Espanha é de piorar. De acordo com um relatório do Google e da Deloitte intitulado "NextGen Travelers and Destinations", o país Ibérico poderá receber o incrível número de 110 milhões de visitantes por ano até 2040. Isso representa um aumento impressionante de 24% em comparação com os 84 milhões de visitantes registrados em 2023. No momento, a França lidera com 90,9 milhões, seguida pela Espanha com 83,5 milhões e os EUA em terceiro lugar com 79,4 milhões.
As estatísticas atuais já mostram melhorias significativas. Em março deste ano, 6,3 milhões de turistas internacionais visitaram a Espanha, um aumento de 21% em relação a 2023, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística espanhol. Além disso, os gastos dos turistas atingiram um recorde de 8,65 bilhões de euros, representando um aumento de 29,7% em relação ao período anterior. Esses números extraordinários não são surpreendentes, considerando que a Espanha desfruta de uma média de 300 dias de sol por ano, com temperaturas de verão em torno de 30º e bastante Sol também no inverno.
Apesar dos esforços para manter as cidades habitáveis, como a proibição de aluguéis turísticos em Barcelona, restrições em Madrid e limitações ao turismo em Menorca, a Espanha está investindo significativamente em infraestrutura turística. Desde a implementação de lojas de souvenirs mais sustentáveis até o potencial de um trem rápido ao longo da Costa del Sol, há muito sendo feito para apoiar o setor do turismo.
Overturismo
Conforme a temporada de verão se intensifica, os residentes enfurecidos em Barcelona, que foram excluídos do mercado imobiliário, estão cobrindo as ruas e portas com slogans e adesivos, desde mensagens suaves como "Esta costumava ser minha casa" até expressões mais agressivas como "Vá embora para sua casa". Também na cidade espanhola, moradores do bairro La Salut conseguiram pressionar o conselho municipal para remover a rota do ônibus número 116 dos mapas do Google e da Apple, devido à superlotação de turistas que visitavam o Parque Güell, de Gaudí.
A Espanha, que ocupa a segunda posição como um dos destinos turísticos mais populares do mundo, já enfrenta os desafios do overturismo, um fenômeno que vem afetando profundamente a vida de seus moradores em diversas cidades. Com o aumento previsto de mais turistas, os impactos serão assustadores. O país Ibérico vem apresentando um crescimento acelerado no setor e deverá ultrapassar a França até 2040, atingindo a marca de 110 milhões de turistas anuais.
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Destinos como Barcelona, Mallorca, Ibiza e Madri são particularmente impactados por essa realidade. Nesses locais, a enxurrada de visitantes durante os meses de verão sobrecarrega a infraestrutura local, gerando problemas como congestionamentos, escassez de moradia acessível, aumento dos preços e até mesmo tensões sociais.
Os residentes dessas cidades têm vivenciado os efeitos negativos do overturismo de forma contundente. Em Barcelona, por exemplo, os moradores se queixam da dificuldade em encontrar aluguéis a preços razoáveis devido à proliferação de alojamentos turísticos. Já em Mallorca e Ibiza, a pressão sobre os recursos naturais, como praias e áreas verdes, gera preocupações sobre a sustentabilidade a longo prazo.
Para lidar com essa situação, algumas cidades espanholas têm adotado medidas mais rígidas de regulamentação do setor turístico. Em Barcelona, por exemplo, foi imposto um limite ao número de licenças para novos hotéis e alojamentos turísticos. Já em Mallorca, as autoridades implementaram restrições ao aluguel de imóveis por plataformas digitais, buscando preservar a oferta de moradias para a população local.
Além disso, há um crescente movimento de conscientização e engajamento da população local, que busca encontrar soluções equilibradas entre a necessidade de desenvolvimento econômico e a preservação da qualidade de vida. Manifestações, protestos e iniciativas comunitárias têm sido ferramentas utilizadas pelos moradores para reivindicar um turismo mais sustentável e responsável.
Sitges
Outro exemplo como o turismo de massa impacta localidades espanholas ocorre em Sitges, cidade costeira localizada a aproximadamente 35 quilômetros de Barcelona, na região da Catalunha. O balneário é famoso por sediar a Fiesta Mayor ou Festa Major. Este festival é uma celebração das tradições, costumes e danças locais. A festividade honra os santos padroeiros da cidade - Sant Bartomeu e Santa Tecla. Durante o evento, grandes figuras representativas dos santos dançam e desfilam pelas ruas. Além das danças e canções tradicionais, os fogos de artifício desempenham um papel importante no feriado. A pequena cidade não comporta a invasão turística que impacta o dia a dia dos moradores e aumenta a produção de lixo durante as festividades.
O desafio do overturismo na Espanha é complexo e requer uma abordagem multifacetada, envolvendo tanto o poder público quanto a sociedade civil. É fundamental encontrar um equilíbrio entre a atração de visitantes e a manutenção da identidade e bem-estar das comunidades locais, preservando a riqueza cultural e ambiental que torna a Espanha um destino tão cobiçado.