A embarcação Benjamim Guimarães é uma verdadeira relíquia da navegação fluvial brasileira, evocando um fascínio que transcende o tempo. O icônico vapor de 1913 foi o último exemplar entre os barcos de locomoção que navegaram pelo Rio São Francisco. Sua história está entrelaçada com a cultura e a economia do país, sendo um símbolo da era de ouro do transporte fluvial.


 

O fascínio pelo Benjamim Guimarães reside não apenas em sua construção robusta e elegante, mas também nas histórias que ele carrega. Durante décadas, o vapor foi um importante meio de transporte para mercadorias e passageiros, conectando comunidades ribeirinhas e promovendo o comércio e a troca cultural. A cada viagem, entre Pirapora e Juazeiro, na Bahia, ele se tornava um elo entre o passado e o presente, transportando não apenas pessoas, mas também tradições e memórias.

 

Em breve, os moradores e turistas poderão navegar a bordo do icônico vapor Benjamim Guimarães, um barco centenário tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) como patrimônio cultural de Minas Gerais. Depois de 10 anos parado, nas próximas semanas ele vai ser reformado, finalmente, pela Eletrobras. Os recursos que vão bancar o projeto são oriundos do processo de desestatização da Eletrobras, portanto são públicos na origem e serão destinados para ações de recuperação como contrapartida ao processo de privatização da Eletrobras, conforme determina a Lei nº 14.182/2021. “Era para as reformas terem começado há trinta dias, a equipe do restauro já está na cidade. Foi a própria Eletrobras e o Ministério de Minas e Energia que aconselharam o prefeito a fazer um edital e contratar uma consultoria para fiscalizar a verba. As negociações envolveram o governo de Minas, Iepha, Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e Ministério Público Estadual, e a previsão que ele volte a navegar daqui a quatro meses”, comemora Adélio Brasil, diretor de patrimônio histórico e cultural de Pirapora

 

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Demora

Benjamim Guimarães foi tombado pelo Iepha em 1985

Arquivo EM

O processo de restauração do barco a vapor Benjamim Guimarães, que já se arrasta há uma década, ganha importância extra e uma nova promessa de que, finalmente, vai sair do papel. Depois de acordos, definições e descumprimentos de prazo, segundo a Prefeitura de Pirapora, no Norte de Minas, proprietária da embarcação, a previsão é de que em janeiro de 2025 o barco seja finalmente entregue à população.


Com isso, a preservação do Benjamim Guimarães ganhou ainda mais importância. A embarcação foi tombada em 1985 pelo Iepha. Desde 2013, o processo de restauração se arrasta sem definição. O Iepha informou, em nota em janeiro deste ano, que “já realizou a entrega do projeto completo de restauração, flutuabilidade e navegabilidade do Vapor Benjamin Guimarães. E a sua execução se encontra a cargo da prefeitura municipal de Pirapora que é sua proprietária e responsável pela execução da restauração”.

 

Inicialmente, os recursos para a reforma seriam custeados pelo Executivo municipal, via financiamento pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). Agora, um acordo feito com o Ministério de Minas e Energia, a Eletrobras assume empreitada do projeto de restauração. O MME propôs a restauração aos comitês gestores dos recursos, que aprovaram a proposta e autorizaram o uso dos recursos da desestatização da Eletrobras para a recuperação do barco.

 

A Prefeitura de Pirapora informou que os custos total (reforma mais a fiscalização da obra) serão em torno de R$ 5,8 milhões ( valor disponibilizado pelos comitês gestores dos recursos da desestatização, os quais são presididos pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional e compostos por vários ministérios) e a previsão, diz o município, é que até janeiro do próximo ano o serviço esteja concluído e a embarcação, liberada.

 



Mistérios

 

 

Os mistérios que cercam o Benjamim Guimarães são igualmente intrigantes. Muitas histórias de aventuras, desafios e até mesmo lendas urbanas foram tecidas ao seu redor. Os relatos de suas viagens muitas vezes incluem encontros com a natureza exuberante do Brasil, como as tempestades repentinas que podiam ameaçar sua navegação ou os encontros com a fauna local. Além disso, o vapor é um testemunho da engenhosidade humana, refletindo as inovações tecnológicas da época e a adaptação dos navegantes às condições dos rios.

 

Quem visitar o barco vai ouvir o lamento da tripulação, mas poderá ouvir histórias curiosas, como o dia em que o Benjamim Guimarães foi atacado pelo bando de Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938), o Lampião. Dizem que o grupo do cangaceiro planejou saquear a carga do vapor, atirando contra o barco. Mas o comandante conduziu o vapor para margem oposta, longe do alcance dos disparos.

 

Hoje, o Benjamim Guimarães não é apenas uma embarcação; é um patrimônio cultural que representa a luta e a resiliência de um povo. Seu legado continua a inspirar novas gerações, despertando curiosidade sobre a história da navegação fluvial e o papel que esses vapores desempenharam na formação do Brasil moderno. O fascínio e os mistérios do vapor Benjamim Guimarães permanecem vivos, convidando todos a explorar as águas da memória e a se perder nas histórias que ele ainda tem a contar.

 

 

História

 

Construído pelos armadores James Rees Sons & Co. em 1913, não se sabe o mês de batismo do navio. Ele chegou ao Brasil para servir à Amazon River Plate Company, no Rio Amazonas. Pelos trilhos da Central do Brasil, chegou desmontado a Pirapora, no fim da década de 1920, e recebeu o nome do pai do dono da empresa, Júlio Mourão Guimarães. Seria destinado ao transporte de passageiros na primeira e segunda classes, além de puxar lanchas a reboque com lenha, gado e outros tipos de carga.

 

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