Por Liana Sabo*/CB
No primeiro domingo de Páscoa da nação, inaugurada em 1500, as caravelas portuguesas avistaram muito de longe um monte de 487 metros de altura e o capitão da esquadra deu-lhe o nome de Monte Pascoal. Não deu para toda a tripulação chegar perto da barra do rio (mais tarde batizada de Cahy), porque o mar estava revolto e havia ondas imensas — tanto que as naus rumaram mais adiante no litoral até encontrar um porto seguro.
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Assim nasceu a história do Brasil, como é contada em Prado, Sul da Bahia. Distante 206 quilômetros de Porto Seguro, e que se orgulha de comportar a primeira praia brasileira e o monte nomeado por Cabral como também a Terra de Vera Cruz. Com isso, a região faz parte da Rota do Descobrimento.
Com uma população de cerca de 28 mil habitantes, Prado é agradável em qualquer época do ano. Constitui um refúgio tranquilo que se destaca pelos seus 84 quilômetros de praias deslumbrantes, onde rios se encontram com o mar e falésias em tons brancos e terrosos emprestam uma bela moldura para o cenário de desconexão e contentamento.
Praias espetaculares
Na cidade, fica a Praia Novo Prado, e a visitação ao deslumbrante litoral começa na Praia das Falésias, localizada a apenas 6km do centro. Do mirante natural é possível admirar a grandiosidade das falésias em tons brancos e terrosos que se estendem ao logo da costa em uma paisagem que também se repete na vizinha praia das Amendoeiras.
Para quem ama aventura e quiser mergulhar, os recifes de Guaratiba são uma boa escolha. Durante a maré baixa, esses recifes de corais emergem e formam piscinas naturais repletas de vida marinha. É possível ver até tartarugas nadando livremente.
Ponto obrigatório é a Praia do Cahy, onde pelo menos uma nau de Cabral conseguiu acessar, capitaneada por Nicolau Coelho, que até fez contato com os índios tupiniquins, transformando a Barra do Cahy na primeira praia do Brasil.
Festival gastronômico
Prado já está preparada para sediar mais uma vez o Festival Gastronômico e Cultural que, este ano, em sua 18ª edição, será realizado em formato de circuito, abrangendo não apenas a sede do município, mas também os distritos de Guaratiba, Cumuruxatiba e Corumbau. Com o tema Sabores do Sertão ao Mar, o evento explora a diversidade culinária e cultural da região, proporcionando aos participantes uma verdadeira viagem por meio das tradições locais.
Com base no sucesso das edições anteriores, as expectativas são altas. Durante 11 dias, de 10 a 20 de outubro, o evento oferecerá uma programação rica e diversificada, capaz de atrair tanto moradores quanto turistas de diversas partes do país. Será uma opção a mais na cidade, cuja economia, além do turismo, está baseada na produção de pimenta, café e gado.
Beco das garrafas
Diante do frescor dos alimentos — dos peixes às hortaliças — pode-se dizer que é impossível comer mal em Prado. Todos os estabelecimentos inscritos no festival, entre restaurantes, bares e lanchonetes, praticam o seu melhor para conquistar o público e ganhar prêmios. A começar pelo Armazém, onde "cada prato é uma viagem para o paraíso", prega o slogan. Quem toca são duas irmãs Clélia e Shirley Goes, que começaram em Teixeira de Freitas, cidade próxima, onde mantém a primeira operação. A chef é Shirley, e o cardápio traz tanto carne como peixe, entre os quais, o filé de meca feito na pedra com legumes, batata-doce, cenoura e chuchu.
Em Prado, Armazém é destaque do Beco das Garrafas, espaço bem movimentado, especialmente à noite, com várias opções de comidas. Como na Casa de Vó, que participa do festival com moqueca de peroá salgado, polenta de milho, tapioca, banana da terra assada, broto de mostarda ao redor do prato e fora vinagrete de abóbora com abacaxi, pimenta dedo de moça, melaço e limão. Outra opção é o Banana da Terra, de Maria Marques, que serve uma deliciosa lagosta gratinada com molho de manteiga e arroz.
Tem até japinha que, com sua inquestionável cortesia oriental, oferece sabores diferenciados que só tem no Japa do Beco, como o combinado que reúne atum, peixe branco, salmão, camarão e polvo com molho especial da casa de cebola roxa e cebolinha. Outra delícia é o charutinho feito com uma lâmina de salmão maçaricada recheada com camarão empanado e frito e cream cheese, finalizado com molho tarê e geleia de maracujá.
Aconchego mineiro
Quem melhor interpreta o aconchego da região é uma mineira de Governador Valadares, que depois de viver nos Estados Unidos, casar com americano (diabético, ele faleceu 15 anos mais tarde), veio embora para o Brasil e buscou uma vida saudável em Prado. Maria Venturelli é uma guerreira com quem vale muito a pena conversar sobre tudo. Da alimentação (ela não come glúten e carboidrato, só arroz integral, tapioca, aveia) ao empreendedorismo. De tanto receber hóspedes em casa, abriu uma pousada distante apenas 250 metros do mar e a 600 metros do centro da cidade.
A Pousada Casa de Maria oferece piscina ao ar livre, sauna, espaço fitness, bar e restaurante que também participa do festival gastronômico. No cardápio, moqueca e filé de peixe, risoto de camarão, parmegiana de frango servidos em pratos individuais e para duas a três pessoas. O café da manhã, fartamente servido com sucos e frutas tropicais, está incluso na diária. Com vegetação tropical e orquídeas nas árvores, o espaço é absolutamente tranquilo, só não aceita crianças— nem os netos da proprietária, que mora ao lado, vão lá.
Construída com uma arquitetura que combina o rústico e o contemporâneo, a pousada se insere na categoria três estrelas. São 24 apartamentos nas categorias premium, luxo e standard, todos equipados com ar-condicionado split, TV de LED, frigobar, ventilador de teto e cofre digital. Se você tiver pet, pode levá-lo, são bem aceitos na pousada.
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Arte na madeira
"Quando cheguei ao Prado, me encantei com o trabalho dos artistas que fazem entalhe na madeira", contou Maria, que abriu a pousada em fevereiro de 1992 com seis apartamentos e logo procurou peças para a decoração. Entre elas, coloridos trabalhos do entalhador Josias Bispo dos Santos, uma referência na arte em madeira e móveis. Josias é autodidata, nunca participou de qualquer salão ou exposição de arte. "Sempre que eu conseguia reunir um lote, vinha alguém e levava", revela o artista.
Descendente de Pataxós, a nação que habita o sul da Bahia, Josias convive até hoje com a avó de 97 anos. "Minha bisavó foi abandonada no meio da mata e alguém da tribo a encontrou", conta Josias, de 41 anos. Menino ainda saía da escola e ia trabalhar com um gringo, que o chamava para lixar peças de madeira. Hoje, os entalhes de Josias estão na Itália, na França, em Portugal, no Canadá e nos Estados Unidos.
*A jornalista viajou a Prado a convite da Pousada Casa de Maria