70% do esgoto da região metropolitana do Rio de Janeiro é despejado sem tratamento na Baía da Guanabara - (crédito: Daniel RAMALHO / AFP)
crédito: Daniel RAMALHO / AFP
Enquanto a maioria das pessoas associa praias à paisagens idílicas de águas cristalinas e areias brancas, algumas regiões costeiras ao redor do globo ganharam notoriedade por motivos diametralmente opostos. Seja por intervenção humana desastrosa ou condições naturais hostis, esses locais desafiam qualquer noção romântica de paraíso tropical.
Estas praias funcionam como espelhos distorcidos de nossa relação com o meio ambiente, lembrando que mesmo os ecossistemas mais resilientes têm limites. Sua existência desafia-nos a repensar modelos de desenvolvimento e turismo, provando que a linha entre paraíso e inferno costeiro é mais tênue do que imaginamos.
Kamilo Beach, Havaí (EUA)
"Praia de Plástico", Kamilo é um dos locais mais afetados pelo acúmulo de lixo marinho
plasticgarbageproject.org
Conhecida como "Praia de Plástico", Kamilo é um dos locais mais afetados pelo acúmulo de lixo marinho. Localizada no sudeste do Havaí, sua posição geográfica a torna um ponto de convergência de correntes oceânicas que carregam detritos do Pacífico. Estima-se que 20 toneladas de plástico cheguem à praia anualmente (NOAA, 2021). Os microplásticos representam 90% da areia em algumas áreas (estudo da University of Hawaii).
Riscos: Contaminação por químicos tóxicos e risco de ferimentos com objetos cortantes. A praia é considerada inapropriada para banhos.
Baía da Guanabara, Rio de Janeiro (Brasil)
A poluição por esgoto não tratado e resíduos industriais tornou a Baía da Guanabara em um dos lugares mais poluídos do mundo
Daniel RAMALHO / AFP
A poluição por esgoto não tratado e resíduos industriais tornou a baía um dos corpos d’água mais poluídos do mundo. Apesar de promessas de descontaminação durante as Olimpíadas de 2016, pouco foi resolvido. 70% do esgoto da região metropolitana do Rio é despejado sem tratamento (Relatório do Instituto Estadual do Ambiente, 2022). Os níveis de coliformes fecais chegam a 1,7 milhão por 100 ml, 85 vezes acima do limite seguro (ONG Onda Azul).
Riscos: Infecções gastrointestinais, hepatite A e doenças de pele levaram ao fechamento de praias como Icaraí e Botafogo.
3. Margens do Rio Yamuna, Nova Delhi (Índia)
Um homem conduz seu barco pelo Rio Yamuna carregado de espuma tóxica
Money SHARMA / AFP
Embora não seja uma praia tradicional, as margens do Yamuna atraem peregrinos e turistas durante os festivais, apesar da espuma tóxica que cobre o rio. Os níveis de amônia até 3 vezes acima do limite seguro (Central Pollution Control Board da Índia, 2023). A espuma contém metais pesados como chumbo e cádmio (estudo do Indian Institute of Technology).
*Riscos: Contato com a água causa queimaduras químicas e problemas respiratórios. Autoridades proíbem atividades recreativas.
Praias de Fukushima (Japão)
Após o desastre nuclear de 2011, vazamentos de água radioativa continuam a afetar a costa próxima à usina de Fukushima, no Japão
REUTERS/Damir Sagolj
Após o desastre nuclear de 2011, vazamentos de água radioativa continuam a afetar a costa próxima à usina. Os níveis de radiação em áreas restritas chegam a 10 µSv/h (IAEA, 2023), 20 vezes acima do seguro para humanos. Peixes capturados na região ainda apresentam césio-137 acima dos limites (Greenpeace, 2022).
*Riscos: A exposição à radiação levou ao fechamento permanente de praias como Ukedo.
Border Field State Park, San Diego (EUA)
A contaminação por esgoto da vizinha Tijuana (México) torna esta praia um risco sanitário. Em 2023, 17 bilhões de litros de esgoto cru fluíram para o oceano (San Diego Coastkeeper). A praia teve qualidade da água classificada como "péssima" (Heal the Bay).
Riscos: Fechada permanentemente desde 2021, com multas para quem violar a restrição.
Alang Ship Breaking Yard, Gujarat (Índia)
Conhecida como "cemitério de navios", a Praia de Alang é palco do desmonte de embarcações que liberam amianto e óleo
India Shipping
Problema: Conhecida como "cemitério de navios", a praia de Alang é palco do desmonte de embarcações que liberam amianto, óleo e metais pesados. 95% dos trabalhadores sofrem exposição a químicos cancerígenos (Relatório da ONG Shipbreaking Platform, 2023). O solo e água apresentam chumbo 10x acima dos limites da OMS (Greenpeace Índia).
*Riscos: Acesso restrito a não autorizados devido a explosões e contaminação.
Após o desastre nuclear de 2011, vazamentos de água radioativa continuam a afetar a costa próxima à usina de Fukushima, no Japão
REUTERS/Damir Sagolj
"Praia de Plástico", Kamilo é um dos locais mais afetados pelo acúmulo de lixo marinho
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A poluição por esgoto não tratado e resíduos industriais tornou a Baía da Guanabara em um dos lugares mais poluídos do mundo
Daniel RAMALHO / AFP
Conhecida como "cemitério de navios", a Praia de Alang é palco do desmonte de embarcações que liberam amianto e óleo
India Shipping
Um homem conduz seu barco pelo Rio Yamuna carregado de espuma tóxica
Money SHARMA / AFP
70% do esgoto da região metropolitana do Rio de Janeiro é despejado sem tratamento na Baía da Guanabara
Daniel RAMALHO / AFP
Perigos Submersos: fauna e fenômenos Naturais
As águas da Praia de New Smyrna (Flórida) registram o maior número de ataques de tubarão do planeta, enquanto a Costa de Queensland (Austrália) abriga colônias de águas-vivas Irukandji, cujo veneno pode ser letal em minutos.
Impactos ambientais catastróficos
A Cidade do Cabo (África do Sul) enfrentou entre 2022-2024 invasões de algas tóxicas que tingiram o oceano de vermelho-sangue, enquanto o litoral do Golfo do México ainda sofre os efeitos do vazamento de petróleo da Deepwater Horizon (2010).
Alerta global
Estas praias refletem desafios como má gestão de resíduos, desastres industriais e desigualdade ambiental. Enquanto algumas são vítimas de acidentes, outras simbolizam negligência crônica. A proibição de visitação, embora necessária, não resolve as causas profundas. Como alerta o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a recuperação exige cooperação global e investimento em sustentabilidade.
Fontes: NOAA, Greenpeace, IAEA, Central Pollution Control Board da Índia, San Diego Coastkeeper.