O comando de teledramaturgia da Globo recebeu e aprovou o primeiro bloco de capítulos do remake de "Vale tudo", adaptação da novela de 1988 que está sendo planejada para ir ao ar em 2025 na emissora carioca. A autoria é de Manuela Dias, a mesma de "Amor de mãe" (2019-2021).

 


O que foi entregue foi muito bem avaliado por José Luiz Villamarim, principal executivo do setor. O diretor, porém, solicitou alterações. A principal delas foi um detalhamento maior para os núcleos paralelos da novela, com mais tempo de tela.

 


Outra mudança seria a antecipação da entrada de Odete Roitman, a vilã da novela, interpretada por Beatriz Segall (1926-2018). Na versão original, Odete só entra a partir do capítulo 28, em um close misterioso.

 

Quem matou?

 

Para o atual padrão da novela, um mês sem a vilã na tela é considerado inviável para conquistar o público.

 


Se a Globo aprovar o segundo bloco entregue por Manuela Dias, o projeto ganha sinal verde de vez e entra na fila de novelas oficialmente. A ideia é que a trama seja exibida no horário nobre em 2025, em comemoração aos 60 anos da Globo.

 


"Vale tudo" contava a história de Raquel (Regina Duarte), que é abandonada pelo marido e se vê obrigada a criar sozinha sua filha, a ambiciosa Maria de Fátima (Gloria Pires). O final da trama teve teor de suspense graças à pergunta que fez o Brasil parar: quem matou Odete Roitman? A revelação só veio no último capítulo.

 


Além da exibição original, "Vale tudo" teve três reprises: uma na Globo em 1992 (quando os padrões de exigência de qualidade de imagens não eram tão altos como a partir da década seguinte), e outras duas no canal Viva, em 2010 e 2018.

 

Nathalia Timberg, destaque do elenco de "Vale tudo", põe em dúvida a eficácia da onda de remakes de telenovelas brasileiras

Raquel Cunha/Globo

 

Onda de antigos sucessos

 

Nathalia Timberg, que interpretou Celina Junqueira de Assis, irmã de Odete Roitman, por quem é sustentada, está em dúvida sobre se o remake da novela "Vale tudo" possa dar certo.

 


"Num momento em que se pretende apostar no que não representa riscos para o desenvolvimento da programação, apelam para a segurança de um remake. Mas podem se enganar", disse a atriz, que ensaia para protagonizar um novo espetáculo, aos 94 anos.

 


"Toda vez que se procura retomar uma obra por causa do seu sucesso, há o risco de que não haja o mesmo impacto junto ao público", acrescenta.

 


A onda de remakes na Globo foi fortalecida pelo sucesso de "Pantanal", no ano passado. O canal refez também "Elas por elas", exibida agora na faixa das seis, e lança em janeiro "Renascer", nova versão da novela de Benedito Ruy Barbosa, de 1993.

 


A tendência escancara o desejo da televisão de se manter na zona de conforto, diz Timberg. "Todas as épocas conheceram crises de identidade. Essa não há de ser privilegiada."

 

Brasil só no cartão-postal

 

O remake de "Vale tudo" tem a difícil tarefa de criar uma versão palatável da vilã Odete Roitman. Uma das maiores antagonistas da dramaturgia brasileira, a milionária esnobe dizia frases que hoje seriam consideradas elitistas e preconceituosas.


A personagem afirmava que os brasileiros são preguiçosos e que gostava do Brasil, mas de longe, como um cartão-postal. "Falar do Nordeste antes da hora do jantar me faz perder o apetite", disse em uma cena. Em outro momento, afirmou que a única solução para a violência seria pena de morte.

 


"Depende de uma série de fatores. Às vezes acertam, às vezes não", diz Timberg, sobre a nova encarnação de Roitman. "Personagens como ela movimentam uma novela. Quem leva a história adiante é o antagonista, não o protagonista", garante. 

(Gabriel Vaquer e Guilherme Luis)

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