Nos palcos belo-horizontinos, André Senna colheu experiências que o levaram ao primeiro papel fixo no horário nobre da TV aberta. Na pele de Sérgio em “Elas por elas”, novela das 18h da Globo, o ator mineiro, de 41 anos, explora a complexidade de um personagem multifacetado, contando com a parceria do veterano Marcos Caruso.
Escrito por Alessandro Marson e Thereza Falcão, o folhetim caminha para a reta final. Trata-se da releitura da novela de Cassiano Gabus Mendes (1927-1993). O enredo, que estreou em 1982, foi atualizado para ficar de acordo com as mudanças ocorridas nos últimos 42 anos.
O personagem de André agora é menos machista. O ator diz que procura explorar as nuances do novo Sérgio. “Acho muito importante a gente se atualizar. O mundo é outro e a mudança se deu até nas protagonistas, em termos de representatividade. As sete, no passado, eram mulheres brancas. Ainda bem que hoje a gente consegue fazer essa reparação. Ainda temos um longo trabalho a ser feito, mas a gente já vê a televisão trazendo representatividade muito maior”, afirma.
A versão original era estrelada por Eva Wilma, Sandra Bréa, Aracy Balabanian, Joana Fomm, Esther Góes, Mila Moreira e Maria Helena Dias.
Agora, as protagonistas são vividas por Deborah Secco (Lara), Késia Estácio (Taís), Isabel Teixeira (Helena), Thalita Carauta (Adriana), Maria Clara Spinelli (Renée), Mariana Santos (Natália) e Karine Teles (Carol). Lázaro Ramos interpreta Mário Fofoca, papel de Luiz Gustavo nos anos 1980.
“O Sérgio é muito complexo. Ele é um homem mais velho, rico e muito misógino na versão original. Isso mudou. É um grande desafio fazer um personagem que te dá oportunidade de trabalhar duas nuances. Um presente para qualquer ator, porque, de certa forma, ele é vilão, mas também tem um lado muito fofo e empático, do qual as pessoas gostam”, comenta o mineiro.
Diálogo de gerações
André faz a versão jovem do personagem do veterano Marcos Caruso. “Admiro profundamente o Marcos Caruso. É muito legal desenvolver um personagem que dialoga com o trabalho que ele está construindo”, afirma.
“Apareço para trazer alguns segredos do passado, algumas circunstâncias em que o personagem se envolveu. Para minha alegria e sorte, Sérgio traz alguns fatos importantes que conduziram viradas significativas na trama”, comenta.
André nasceu em Juiz de Fora, na Zona da Mata. Na infância, mudou-se para Belo Horizonte, cidade que considera sua casa. Fez circo e curso de teatro. Fundou com Bruno Figueroa o Coletivo Novo, que lançou o curta “Mergulho” (2023), com direção da dramaturga Rita Clemente, do qual ele participa.
Em 2017, mudou-se para o Rio de Janeiro com o propósito de trabalhar na TV. Participou de novelas da Globo e ganhou papel no filme “O sequestro do voo 375” (2023), de Marcus Baldini. Interpreta o piloto de caça que recebe a missão de escoltar, e possivelmente abater, o avião comandado por um sequestrador que planeja assassinar José Sarney, presidente da República.
O caso ocorreu em 1988, quando o tratorista desempregado Raimundo Nonato Alves da Conceição, revoltado com a situação econômica do país, sequestrou aeronave da Vasp que durante voo de Porto Velho para o Rio. Ele embarcou em Confins (MG), exigiu que o avião mudasse a rota para Brasília. Matou com um tiro o copiloto Salvador Evangelista.
O comandante Fernando Murilo o convenceu a aterrisar em Goiânia, onde o tratorista foi preso e morreu no hospital. O filme está disponível plataforma Star+.
“Quando na vida eu poderia imaginar que estaria dentro de um caça da Força Aérea Brasileira simulando voo?. São coisas que só a profissão de ator dá para a gente”, diz André.
Feliz com as novas conquistas, o ator explica que apesar de focado na televisão, não abandonou o teatro, onde tudo começou. Recentemente, escreveu três projetos – dois no teatro e um audiovisual – em parceria com outros artistas.
“Já estreamos 'META”, com direção da Debora Lamm, no ano passado, que escrevi e idealizei. Pretendemos fazer nova circulação este ano”, diz ele sobre a peça assinada também por Daniel Toledo. “Procuro seguir fazendo meus trabalhos da melhor forma possível, aproveitando oportunidades para continuar abrindo portas”, conclui.
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria