Isso porque pesquisadores das universidades de Nottingham e Bradford usaram uma ferramenta de reconhecimento facial. O mecanismo de inteligência artificial indicou que o quadro ‘De Brécy Tondo’ (foto), que retrata a Virgem Maria, foi produzido pelo artista renascentista Rafael.
Inclusive, ao fazer uma comparação com a Madona Sistina, obra que possui a comprovação da autoria do italiano, o grau de semelhança foi de 97%.
No entanto, alguns peritos em arte acreditam que essa possibilidade é pequena. Por sinal, afirmam que esse tipo de tecnologia não possui a capacidade de diferenciar itens de arte verdadeiros e falsificados.
Richard Polsky, diretor de uma empresa especializada na autenticação de artistas americanos do século 20, acha que a inteligência artificial provavelmente não consegue identificar detalhes como os especialistas fazem quando analisam uma obra de arte.
“Se você está profundamente imerso no trabalho de um artista, já leu tudo sobre ele. Já esteve em todos os museus do mundo para ver originais, já esteve em exposições em galerias, talvez tenha alguma obra ou já as comprou e vendeu. Não acho que esse tipo de coisa possa ser ensinada”, explica.
Por outro lado, os universitários ficam na expectativa que seu experimento com a inteligência artificial dê um fim nessa discussão, a respeito da origem da pintura, e que ela possa ser agregada como um trabalho de Rafael.
Aliás, o professor de computação visual da Universidade de Bradford, Hassan Ugail, declarou que o episódio comprova que os peritos em arte precisam se modernizar com relação aos seus métodos de averiguação.
“Foi uma grande curva de aprendizado para entender o mundo da arte e como os especialistas quase não usam evidências científicas. Os pesquisadores do modelo usaram ferramentas de dimensões que o olho humano não consegue ver”, ressaltou.
Além disso, os incentivadores da utilização da inteligência artificial argumentam que o recurso ajudará no reconhecimento das obras de arte.
“A confiança no julgamento de um único especialista humano pode ser arriscada devido ao potencial de erro, à subjetividade ou aos vieses”, esclareceu Carina Popovic, executiva da Art Recognition, empresa responsável por autenticação de inteligência artificial.
Ela ainda frisa que o algoritmo possui alta precisão no processo de diferenciação entre produções falsas e originais. A propósito, Carina relembrou a ocorrência em que o falsificador, Wolfgang Beltracchi (foto), confessou, em 2012, ter criado itens artísticos de aproximadamente 50 autores.
O pintor Rafael Sanzio foi um dos gênios do Renascimento, movimento artístico que surgiu na Itália no século 14 e se estendeu até o século 17. Natural da cidade de Urbino, ele é filho do pintor e humanista Giovanni Santi.
Giovanni apresentou a pintura para Rafael e lhe deu os primeiros ensinamentos. Após a morte do pai, Rafael foi para a cidade de Perugia onde teve lições sobre a técnica do afresco com Pietro Perugino (direita). Logo o aprendiz superou o mentor.
Aos 19 anos, o artista prodígio finalizou a pintura ‘Retábulo Baroncio’ (foto), a pedido da igreja São Nicolau de Tolentino.
Seu primeiro grande trabalho foi o ‘Casamento da Virgem’ para a igreja de São Francisco, na Città di Castello, concluída em 1504. O aprendizado com Perugino fica perceptível na perspectiva e na proporcionalidade entre as figuras.
No mesmo ano, ele se mudou para Florença, onde Leonardo Da Vinci e Michelangelo eram expoentes. Graças ao contato com Leonardo, suas produções se sofisticaram. Ele incorporou a estética renascentista e criou a Madona do Prado, Madona Esterházy (foto) e A Bela Jardineira.
Em 1508, ele aceitou convite de seu amigo Bramante, arquiteto do Vaticano, para ir a Roma e fazer um trabalho para o papa Júlio II (pontífice entre 1503 e 1513 - foto). O líder religioso ficou encantado com os esboços de Rafael.
Assim, o papa solicitou que o jovem produzisse a decoração de todo o espaço. Inclusive, ordenando que os afrescos que haviam sido iniciados por outros artistas fossem destruídos.
Rafael ficou por 12 anos em Roma, focado na ornamentação de quatro salas do Vaticano: as ‘Stanzas de Rafael’. No caso, ‘Stanza dela Segnatura’, ‘Stanza di Heliodoro’, Stanza dell Incendio di Borgo’ e ‘Stanza di Constantino’.
Seu último trabalho foi a pintura ‘Transfiguração’, um pedido feito em 1517 e entregue três anos depois. Ela se destaca pelo desafio, pois foge do estilo renascentista e apresenta atributos do Barroco.
Rafael morreu em 1520, com 37 anos, depois de uma febre. Ele foi sepultado no Panteão de Roma, com honra. Aliás, foi o único artista do movimento Renascentista que recebeu glorificação tão impactante.
O Panteão fica no centro de Roma e representa a antiguidade, além do auge do poder e riqueza do Império Romano. A propósito, foi construído com o intuito de ser um lugar de adoração ao divino na estrutura do politeísmo.
Obras de Rafael estão expostas nos principais museus do mundo. Entre eles, o Louvre em Paris, o Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque, e os Museus do Vaticano.