Há mais de 90 anos, desde 1931, os bonecos gigantes sobem as ladeiras de Olinda, na região metropolitana de Recife, compartilhando alegria com a multidão.
A tradição dos bonecos gigantes no carnaval nasceu em outra cidade pernambucana: Belém do São Francisco, localizada a 481 km da capital Recife, no sertão do estado.
De acordo com o portal da Cultura Pernambucana, em 1919 Gumercindo Pires, morador de Belém do São Francisco, criou o primeiro boneco gigante do país e o batizou de Zé Pereira - homenagem a uma das icônicas figuras do carnaval carioca.
Gumercindo Pires teve a ideia de criar uma figura para as festas ao ouvir os relatos de um padre sobre a inclusão de bonecos gigantes em cerimônias religiosas na Europa medieval.
Em 1929, o jovem artista criou a boneca Vitalina para ser a companheira de Zé Pereira e desfilar com ele pelas ruas da cidade sertaneja. Os dois chegavam à cidade com a encenação de ritual às margens do Rio São Francisco.
Para preservar a memória da cultura local, além de registrar Belém do São Francisco como berço dos bonecos gigantes, a cidade conta com o Memorial Zé Pereira e Vitalina.
Em Olinda, a primeira aparição dos bonecos gigantes ocorreu em 1932 com o Homem da Meia Noite, obra dos artistas plásticos Luciano Anacleto de Queiroz e Bernardino da Silva.
O Homem da Meia Noite é considerado um patrimônio cultural e artístico de Pernambuco e desfila até hoje no carnaval de Olinda no bloco Clube da Alegoria e Crítica Homem da Meia Noite.
Em 1937, foi criada a Mulher do Meio Dia, que também passou a formar um bloco tradicional nos desfiles carnavalescos.
A Mulher do Meio Dia ficou conhecida pelos moradores da cidade como a Mona Lisa de Olinda por ter sido inspirada na mulher do famoso quadro do pintor Leonardo da Vinci.
Em fevereiro de 1990, um cortejo nas ladeiras de Olinda celebrou o casamento do Homem da Meia Noite com a Mulher do Meio Dia.
A partir do casal foram criados outros bonecos como o Menino da Tarde, o primeiro de muitos do artista plástico Silvio Botelho.
Silvio Botelho é considerado o principal mestre bonequeiro do carnaval de Olinda. De seu ateliê saem muitos dos bonecos que tomam as ladeiras da cidade no carnaval.
Na chamada terça-feira gorda, que encerra o período de folia, acontece o aguardado Encontro dos Bonecos Gigantes.
O cortejo do Encontro dos Bonecos Gigantes acontece há 35 anos. Ele sai do Largo de Guadalupe, onde ocorre a concentração, e se arrasta pelas ladeiras de Olinda.
Grandes personalidades da cultura de Recife e do Brasil são esculpidas para ganhar as ruas onlindeses no carnaval. Já foram homenageadas figuras como Elba Ramalho, Luiz Gonzaga, Pelé, Ayrton Senna, Chacrinha e Galvão Bueno.
Ícones do humor nacional, como Zacarias (Trapalhões), e internacional, a exemplo de personagens do seriado mexicano Chaves, já desfilaram pelas ladeiras de Olinda.
Até mesmo mitos do rock'n roll, como Freddie Mercury, David Bowie o quarteto dos Beatles, já foram representados na folia
Os bonecos, confeccionados com estruturas de arame, papel machê e tecidos, medem de três a quatro metros e chegam a pesar de 12 a 13 quilos.
Desde 2007, o cortejo costumava ser puxado pelo boneco do presidente da República que está no poder. Com a polarização política do país, a tradição foi rompida em 2003 e os organizadores optaram por abrir o desfile com a figura da Rainha Elizabeth II, morta em setembro de 2022.
“Desde a época de Dilma a coisa começou a ficar polarizada, e na última eleição tomou uma amplitude muito grande. Sempre tinha uma discussão ou outra, e, por isso, vamos dar uma parada', declarou ao G1 Leandro Castro, responsável pela embaixada dos bonecos.