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Serpente Sagrada deslizando na Avenida: Viradouro leva Estandarte de Comissão de Frente


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Reprodução de vídeo TV Globo

No regulamento do Carnaval Carioca, as escolas são avaliadas em nove quesitos. Com a virada do século, um deles passou por uma grande transformação e é muito esperado pelos foliões: A Comissão de Frente. Considerada como o cartão de visitas das agremiações, ela agora tem a missão de descrever o enredo e a cada ano surpreende com efeitos especiais e muita dança.

Diego Mendes/Flickr

A Comissão de frente é a primeira ala de um desfile de escola de samba. Ela tem a tarefa de descrever resumidamente o enredo, com elementos da história que será contada ao longo dos 70 minutos na Sapucaí. Os coreógrafos costumam trazer muitas surpresas no intuito de emocionar e encantar o público e contagiar a avenida para o restante do desfile.

Marco Antonio Teixeira/Riotur

Além disso, os membros deste quesito precisam realizar uma apresentação coreografada, com sintonia nos passos e interação com os elementos cenográficos. Necessitam estar com as fantasias completas e bem acabadas, assim como o tripé, que é uma 'mini alegoria', que costuma auxiliar na apresentação e guardar as surpresas.

Wigder Frota/Wikimedia Commons

A história da comissão de frente está intimamente ligada à velha guarda, que costumava apresentar as escolas logo no início dos desfiles. Ela era formada pelos integrantes mais antigos da agremiação e apresentavam o que viriam pela frente. Saudavam o público como forma de apresentação.

AF Rodrigues |Riotur

A primeira comissão de frente de que se tem notícia é da centenária Portela, em 1935. Naquela ocasião, a escola decidiu colocar os mais antigos na frente, com trajes de gala, como fraques, e bastões. Um sinal de respeito aos mais velhos que é tradicional no samba e muito cultuado nos desfiles. A partir de 1938, a comissão passou a ser quesito avaliado pelos julgadores.

Jorge Nogueira wikimedia commons

A partir da década de 1960, as escolas de samba passaram a ter comissões de frente diferentes, que não só saudavam o público, como começavam a apresentar o enredo.

Reprodução Avante Mangueira

Em 1965, o Acadêmicos do Salgueiro trouxe componentes que usavam fantasias que faziam referência ao enredo. Desenvolvido pelos célebres carnavalescos Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues, o desfile foi baseado na obra História do Carnaval Carioca, da escritora Eneida de Moraes.

Reprodução Facebook

Em 1969, foi a vez da Imperatriz Leopoldinense ter a primeira comissão de frente representada por mulheres, que faziam referência a tribos africanas. Nas décadas seguintes, as escolas passaram a investir ainda mais nas comissões, com as presenças de dançarinas, bailarinos profissionais e coreógrafos. A dança tornou-se frequente na abertura dos desfiles.

Wikimedia Commons

Nos anos 90, as figuras dos coreógrafos Fábio de Mello e Carlinhos de Jesus foram essenciais para uma transformação neste quesito. Outros elementos passaram a compor a fantasia e fazer parte da coreografia. Adereços de mão que ajudavam a apresentar o enredo como guarda-chuvas, malas, leques, entre outros. 

Wigder Frota/Wikimedia Commons

Com o passar dos anos, as comissões tornavam-se cada vez maiores e mais esperadas pelo público. Foi a partir disso que surgiram os tripés, que eram utilizados antes das alegorias triplicarem de tamanho. São 'mini carros alegóricos', com elementos do enredo, que contribuem para o melhor entendimento da apresentação. Atualmente, todas as escolas utilizam este recurso.

Tata Barreto | Riotur

A partir de 2010, as Comissões de Frente ganharam elementos de mágica e o intuito de também surpreender o público. Além de apresentar o enredo e saudar os espectadores, o quesito ganhou novos contornos, como a utilização frequente do tripé, assim como mais componentes escondidos nele. Só podem ficar visíveis 15, segundo o regulamento da Liesa. 

Scheila Chagas/Wikimedia Commons

Em 1984, ano de estreia da Marquês de Sapucaí, a Portela homenageou três importantes personalidades de sua história: Paulo da Portela, Natal e Clara Nunes e conquistou o título. A Comissão de Frente veio no estilo tradicional, com a presença da Velha Guarda saudando o público.

Reprodução de vídeo comissões de frente

Com o enredo 'Ziriguidum 2001: um carnaval nas estrelas', de Fernando Pinto, a Mocidade conquistou o título com um tema futurista, que entrou para a história. A Comissão de Frente era bem diferente das tradicionais, com jovens astronautas com a bandeira do Brasil. O patrono Castor de Andrade acompanhou tudo de perto.

Reprodução de vídeo Globoplay

O enredo da Unidos de Vila Isabel, em 1989, â??Direito é Direitoâ? comemorava os quarenta anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A comissão de frente inovou e apresentou mulheres grávidas para representar o primeiro direito: o direito à vida.

Reprodução/Youtube

Em 1989, Joãosinho Trinta foi o criador de um dos momentos mais emocionantes da Marquês de Sapucaí. O 'Cristo Mendigo' pela Beija-Flor, cercado por uma enorme ala de esfarrapados deixou o público em êxtase. A escola levou para a avenida duas comissões de frente, uma formada por mendigos (o lixo) e outra mais adornada de plumas e paetês (o luxo).

Divulgação

O coreógrafo Fábio de Mello começou a marcar seu nome na história do carnaval com a Comissão de Frente da Imperatriz Leopoldinense, em 1994. Os componentes portavam leques e esbanjavam sincronia e se tornaram uma das maiores da folia carioca. Eles representavam os dançarinos da corte.

Reprodução Facebook TaNToS CarNAVaiS

Com o dia claro, a Mocidade trouxe o enredo 'Criador e Criatura', do carnavalesco Renato Lage, e carimbou o título em 1996. A Comissão e Frente representava os Franksteins, que impressionaram pela caracterização e foram coreografados por Cláudia Ribeiro.

Reprodução Youtube

Conhecida como uma escola que se dá bem com homenagens, a Mangueira exaltou a vida e obra de Chico Buarque e conquistou o título em 1998, ao lado da Beija-Flor. Quinze malandros vieram na Comissão de Frente com uma caracterização e leveza que garantiram a nota 10. O coreógrafo foi Carlinhos de Jesus.

Reprodução Youtube

A Comissão de Frente da Mangueira, em 1999, entrou para a história do Carnaval carioca. Coreografada por Carlinhos de Jesus, os componentes representavam Pixinguinha, Donga, Sinhô, Cartola, Nelson Cavaquinho, Candeia, Ismael Silva, Natal, Mestre Fuleiro, Tia Ciata, Clara Nunes, Clementina de Jesus e Carmem Miranda. A caracterização marcou época e impressionou pela semelhança com os baluartes do samba.

Reprodução Youtube

Em 2001, a Comissão de Frente da Beija-Flor trouxe a Sacerdotisa de Agotime no ritual da pantera negra. Este enredo é um dos mais marcantes da história da escola de Nilópolis, apesar de não ter conquistado o título e ter ficado com a segunda colocação.

Reprodução Youtube

No ano seguinte, a Beija-Flor apresentou em sua Comissão de Frente o voo dos pássaros encantados. Durante a apresentação, vários beija-flores bailaram e bateram as asas. A coreógrafa foi Ghislaine Cavalcanti, que ficou quinze anos à frente do quesito da escola de Nilópolis.

Reprodução Youtube

Com um enredo sobre os dez mandamentos, a Mangueira trouxe, em 2003, uma Comissão de Frente impressionante. Ela representou Moisés levitando em seu encontro com Deus. Um truque de ilusionismo que não era tão utilizado e que levou o público da Sapucaí ao delírio, sob a batuta de Carlinhos de Jesus.

Reprodução/Canal Tiago Guimarães

Sob o comando do coreógrafo Sérgio Lobato, a Comissão de Frente da Unidos do Viradouro em 2007 trouxe coringas futuristas, que formavam palavras e muitas surpresas. Além da brincadeira de memória, a apresentação formava o nome da escola.

Reprodução Facebook

Em 2008, Fábio de Mello voltou a se destacar, desta vez em outra verde e branca, a Mocidade. Com máscaras incríveis para representar membros da família real, a apresentação chamou a atenção do público. A entrada foi luxuosa com a transformação de um passeio para um cortejo dos lusitanos. 

Reprodução Facebook Mocidade Independente de Padre Miguel

Com aquela Comissão de Frente que marcou a história do Carnaval e trouxe elementos de mágica para o quesito, a Unidos da Tijuca conquistou o título de 2010. O casal de coreógrafos Priscilla Mota e Rodrigo Negri surpreenderam o público com a troca de roupa de forma instantânea.

Flickr/Imagens_2009

A Unidos da Tijuca levou para 2011 o enredo 'Esta noite levarei sua alma' e a comissão de frente voltou a se destacar. Nela, coreografada por Priscila Mota e Rodrigo Negri, os componentes fazem um efeito como se a cabeça caísse e o corpo entortasse, assustando o lanterninha.

Mauro Samagaio/Wikimédia Commons

Com um enredo sobre Angola, a Comissão de Frente da Unidos de Vila Isabel trouxe uma Savana Africana no tripé, com um Rinoceronte ao centro. A coreografia chamou a atenção com a sincronia comandada por Marcelo Misailidis, ao representar a perseguição aos animais.

Flickr/AF Rodrigues

A Comissão de Frente do Salgueiro em 2015 representou o 'Delírio Ancestral'. O tripé tinha sete metros, 600 pontos de luz e representava o Bicho da Taquara. É um tronco que se transforma em telão. Os coreógrafos Hélio e Beth Bejani prepararam uma projeção em led, que se transforma no manto de Nossa Senhora.

Magerson Bilibio/Wikimédia Commons

A Mocidade conquistou o título em 2017, ao lado da Portela, com um enredo sobre o Marrocos. A Comissão de Frente surpreendeu com o Aladim sobrevoando a Avenida sobre um tapete mágico. Na verdade, os coreógrafos Saulo Finelon e Jorge Teixeira trouxeram um drone para causar um efeito de ilusão e magia.

Reprodução Globoplay

O Salgueiro trouxe, em 2018, uma Comissão de Frente que simbolizava o mistério da vida. Com uma cabaça no centro, os orixás fazem um súplica pela fertilidade e balões representando bebês flutuam durante a apresentação. Em seguida, essas mães têm seus bebês em mãos, com muita dança e uma coreografia sincronizada.

Reprodução/Youtube

Em 2018, a Paraíso do Tuiuti surpreendeu o mundo do samba com um desfile forte e recheado de críticas sociais, que as levaram ao vice-campeonato. Na Comissão de Frente, de Patrick Carvalho, representava um grito de liberdade e emocionou a Sapucaí. Mostra a redenção do capataz e a cura do escravo pela ancestralidade e a figura do Preto Velho.

Divulgação Riotur

Os componentes da Comissão da Estácio, em 2019, mostraram a síntese do enredo “A fé que emerge das águas”. Baseada no teatro, a apresentação mostrou a crucificação do Cristo Negro e a aparição da Mãe Negra, Nossa Senhora Aparecida.

Reprodução Globoplay

A Mangueira, em 2019, conquistou o título ao questionar os heróis dos livros e história e dar luz a personagens pouco valorizados. A Comissão de Frente dos coreógrafos Rodrigo Negri e Priscila Mota trouxe os quadros emoldurados com novos personagens. Entre elas, a vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018

Reprodução Globoplay

A Unidos do Viradouro conquistou o segundo título de sua história na elite do Carnaval carioca em 2020. Com um enredo sobre as 'Ganhadeiras de Itapoã', a escola de Niterói levou uma Comissão de Frente com mulheres quarando roupas e a presença de um aquário, com uma sereia que encantou o público.

Gabriel Nascimento/ Riotur

A Comissão de Frente da Grande Rio, em 2020, chamou a atenção. Com um enredo sobre Joãosinho da Goméia (Tata Londirá), a escola trouxe a apresentação do início da vida do sacerdote do candomblé até entender sua mediunidade e a relação com os caboclos e guias espirituais.

Reprodução/Youtube

No primeiro título do Acadêmicos do Grande Rio na elite do Carnaval carioca, o enredo foi Exu. A Comissão chamou a atenção com uma enorme esfera que levantava, assim como a performance do ator Demerson D'Alvaro. O profissional fez com perfeição todos os trejeitos da entidade ao longo da avenida.

Divulgação Riotur

A União da Ilha levou para a disputa da Série Ouro, segunda divisão do carnaval carioca, um enredo sobre Nossa Senhora. Coube a atriz Cacau Protásio interpretar a santa na Comissão de Frente e encantar o público presente na Marquês de Sapucaí.

Reprodução de vídeo Globoplay

No Carnaval de 2023. o famoso casal 'segredo' voltou a se destacar com uma comissão que uniu dança, coreografia e efeitos especiais. Ao contar a história de Rosa Maria Egipcíaca, enredo da Unidos do Viradouro, Rodrigo Negri e Priscila Mota utilizaram um belo tripé e ventiladores para efeitos de ventania. 

Flickr/Alexandre Vidal