Muitos montam tendas para viver. Ali fazem tudo e, dependendo do caso, contam com a ajuda de instituições que fornecem alimentos. Mas muitos até têm emprego. Só que ganham pouco e não conseguem arcar com as despesas.
Mais de 600 brasileiros que vivem em Portugal já pediram ajuda à Organização Internacional para as Migrações (OIM), da ONU, para retornar ao Brasil. Desde 2016, a entidade já recebeu mais de 4,2 mil solicitações desse tipo.
No total, a OIM conseguiu auxiliar na repatriação de mais de 1,7 mil cidadãos que passaram pelos critérios adotados para o benefício. Após a entrada do pedido de repatriação, o órgão da ONU faz um aconselhamento individualizado e permite que os autores desistam ou mudem de ideia no meio do caminho.
Os brasileiros representam a maioria na lista de espera de imigrantes de vários países que passam pela mesma situação e pedem ajuda financeira para pagar a passagem aérea de volta aos seus países.
Casos de xenofobia também vêm sendo registrados pelas autoridades portuguesas. Apesar de terem a mesma língua, alguns brasileiros podem sofrer preconceito por serem estrangeiros e terem dificuldade no mercado de trabalho.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil estima que 360 mil brasileiros vivam em Portugal, segundo dados divulgados em meados de agosto de 2023.
São pelo menos, três fatores que se destacam entre os motivos para os pedidos de ajuda: desemprego e dificuldade no acesso ao mercado de trabalho, dificuldades na regularização e situação econômica.
Esse contexto tem relação com a inflação, câmbio desfavorável e crise imobiliária, esses fatores são mencionados indiretamente como influenciadores da decisão de retorno.
Enquanto o salário mínimo é de 760 euros, o custo de um aluguel pode chegar a 400 ou 500 euros. Com isso, os imigrantes já representam 10% da população de rua de Portugal. O número de sem-teto mais que dobrou desde 2017. E muitos deles são brasileiros.
Após o retorno ao Brasil, o cidadão fica impedido de voltar a Portugal por um período de três anos, segundo a OIM. Do contrário, o brasileiro precisa restituir ao governo português os gastos com o pedido de ajuda fornecido anteriormente.
“A admissão só será aceita depois de restituir ao Estado Português o valor dos gastos referentes ao seu apoio, nomeadamente: o preço do bilhete de avião, o dinheiro de bolso que recebeu no aeroporto e o valor do apoio à reintegração (caso tenha beneficiado deste apoio). Esses montantes serão acrescidos de juros à taxa legal”, diz a OIM.
A situação só não é mais alarmante, porque vários brasileiros em dificuldade estão sendo socorridos por Organizações Não Governamentais (ONGs), igrejas e mesmo pela embaixada do Brasil.
'Imigrar requer planejamento, não é um processo para ser feito com base em notícias falsas', disse o senador Chico Rodrigues (União Brasil-RR) ao portal Correio Brasiliense.
O parlamentar brasileiro foi escalado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, para avaliar as condições de vida dos brasileiros no país europeu.
O senador também ressaltou que seu dossiê também percorrerá as regiões de Faro e do Porto, onde o Brasil tem dois consulados, além de Lisboa.
Ele se queixa que parcelas importantes dessas pessoas migraram para a terra de Cabral baseadas em notícias falsas difundidas por youtubers, que disseminam a versão de que havia um Eldorado do outro lado do Atlântico e, em pouco tempo, todos ficariam ricos.
'Há casos de brasileiros que venderam tudo o que tinham no país e se mudaram para Portugal. Mas, em pouco meses, o dinheiro acabou, não havia recursos nem para comer. Temos de lembrar que Portugal e toda a Europa passam por momentos complicados, com inflação elevada e aluguéis e alimentos muito caros', disse.
'Pelo que sei, não temos nenhuma informação sobre esse processo no Brasil. Os brasileiros que desejarem migrar para Portugal devem ter tranquilidade e segurança', frisou.