Com 8,6 mil metros de altura, o K2 fica na cordilheira de Karakoram, uma das cadeias do Himalaia, na fronteira entre o Paquistão e a China. E é o segundo monte mais alto do mundo, atrás apenas do Everest.
A morte do alpinista e seu consequente abandono são mais um exemplo do que tem ocorrido com frequência nas montanhas mais desafiadoras do mundo. Quando o alpinista não resiste, é deixado no local, até por causa da dificuldade de remoção no ambiente gelado e inóspito.
Um dos retratos mais dramáticos dessa realidade ocorreé no Monte Everest, o mais alto do planeta. Com seu pico a a 8.848 metros de altitude, essa montanha atrai centenas de alpinistas todos os anos, mas a beleza da paisagem contrasta com o aspecto de abandono.
Cadáveres não removidos se espalham pelas trilhas, além de lixo e fezes. O acúmulo de resíduos na montanha transformou o Everest no mais alto depósito de lixo do planeta. Estima-se que, a cada temporada, cerca de 50 toneladas de lixo sejam deixadas no Everest e 75 toneladas sejam produzidas no acampamento base
A dificuldade de acesso complica a organização de um sistema eficaz de coleta e reciclagem. O jornal britânico Daily Mail publicou que, anualmente, entre 900 e 1.000 toneladas de resíduos sólidos são levadas ao parque pelos turistas
O Exército do Nepal informou que em 2022 removeu cerca de 34 toneladas de resíduos do Everest e das montanhas adjacentes. Em 2021 haviam sido 27,6 toneladas.
Por isso, uma medida recente é a obrigatoriedade de os alpinistas retornarem da escalada carregando as fezes num saquinho apropriado. Esse recipiente contém um produto químico que retira o mau cheiro e preserva as fezes para que elas sejam 'conferidas' .
A medida foi tomada porque o governo recebeu queixas sobre o mau cheiro na montanha e fezes visíveis sobre as rochas, já que a temperatura de 60 graus negativos impede a deterioração. Há até um caminho que já é chamado de 'trilha do papel higiênico'
Em uma postagem que viralizou rwcentemente na internet, o alpinista Tenzi Sherpa definiu assim um trecho da montanha nepalesa: 'Acampamento mais sujo que já vi'
Tenzi Sherpa é guia de trekking ('caminhada') no Everest desde 2019 e compartilhou um vídeo no Instagram para mostrar o lixão na montanha
Em entrevista à revista Newsweek, Sherpa disparou: 'Acho que o governo deveria estabelecer regras rígidas para aqueles que deixam lixo no Everest. E elaborar um projeto de campanha de limpeza mais eficaz'
O cenário de detritos é sortido, com barracas abandonadas, instrumentos de escalada, cilindros de oxigênio vazios, lixos plásticos, sapatos, talheres (!!!) e quantidade assombrosa de excrementos
Antes de iniciar a escalada, os alpinistas devem fazer um depósito de coleta de lixo para o governo do Nepal no valor de 4 mil dólares . O montante é devolvido integralmente ao fim da expedição caso o turista acondicione na bagagem oito quilos de resíduos
De acordo com a National Geographic Society, oito quilos são o peso médio de lixo produzido por uma pessoa durante a escalada da montanha
O documentário Everest Sustentável, exibido no Canal Off em 2020, mostrou ação de moradores de uma comunidade local para triturar o lixo. Eles sugerem a turistas que levem de três a quatro quilos desses resíduos para o sistema de coleta do aeroporto
Além do acúmulo imenso de lixo, o Everest também abriga cadáveres não recolhidos de alpinistas malfadados
O trecho final, que leva ao cume da montanha, foi batizado de 'zona da morte'. Nessa área estreita, acima de 7.900 metros, e de baixa visibilidade é onde ocorre a maioria dos óbitos
A dificuldade de remoção dos restos mortais se dá pelos desafios de acesso e o custo da operação (em torno de 70 mil dólares)
O derretimento de geleiras devido ao aquecimento global tem feito corpos virem à tona na região
Alguns corpos passaram a servir de guia e alerta de riscos para os alpinistas que tentam desbravar a montanha
Há casos de cadáveres que se transformaram em marcos. O mais conhecido deles recebeu o apelido de 'Botas Verdes' (Green Boots). O 'Botas Verdes' repousou por anos na trilha para a 'zona da morte' e desapareceu de forma enigmática em 2014. A identidade mais provável é do alpinista indiano Tsewang Paljor
As estimativas apontam para quase 300 o número de mortos durante a escalada do Everest até hoje
Há pouco mais de 50 anos, em 29 de maio de 1953, o neozelandês Edmund Hillary e o guia nepalês Sherpa Tenzing Norgay foram os primeiros aventureiros a completar a escalada do Everest com sucesso