O Palácio Quemado fica localizado na Praça Murillo, em La Paz. Atualmente, o prédio funciona apenas para atos protocolares.
Imagens que circularam nas redes sociais mostraram um veículo blindado forçando a porta de entrada do palácio até conseguir arrombá-la.
Houve montagem de barricadas e bombas de gás lacrimogêneo foram disparadas.
Líder do movimento, o ex-comandante do Exército do país, Juan José Zúñiga, acabou preso momentos depois.
O atual presidente da Bolívia, Luis Arce, estava em um prédio ao lado e foi até o local. Testemunhas que estavam por perto registraram o momento de discussão entre ele e o ex-comandante do Exército.
Durante o bate-boca acalorado, o presidente ordenou que Zúñiga retirasse as tropas das ruas. O militar permaneceu em silêncio.
Depois de ser detido pela polícia, Zúñiga disse à imprensa que o próprio presidente Luis Arce teria arquitetado um 'autogolpe' para aumentar a popularidade visando as eleições presidenciais de 2025.
'No domingo (23/06), no colégio La Salle, me reuni com o presidente e ele me disse que 'a situação está muito ferrada, esta semana será crítica. Então é preciso preparar algo para levantar minha popularidade'', declarou Zúñiga.
No dia anterior à tentativa de golpe, Zúñiga havia sido destituído do cargo de chefe do Exército boliviano por conta de ameaças contra o ex-presidente Evo Morales.
“Se for necessário, não permitirei que ele pise na Constituição, desobedeça ao mandato do povo”, disse Zúñiga em referência à Morales.
Luis Arce (foto) e Morales eram aliados políticos até o ano passado, quando o ex-presidente anunciou a intenção de se candidatar à presidência em 2025.
Morales vem tentando reverter uma decisão judicial que impede um cidadão de ocupar mais de duas vezes um cargo público.
Em várias cidades da Bolívia, incluindo La Paz, a população saiu às ruas para protestar contra a tentativa de golpe.
Em um discurso televisionado, o presidente Arce afirmou que o governo segue 'firme'. 'Saudamos vocês, organizações sociais, e cordialmente os convidamos a mostrar mais uma vez a democracia ao povo boliviano', pontuou.
Em uma cerimônia na Casa Grande del Pueblo, o general José Wilson Sánchez foi escolhido pelo presidente Arce para assumir o comando geral do Exército.
Enquanto a cerimônia acontecia na sede do governo, os militares que haviam tomado a Plaza Murillo começaram a se retirar.
Após os momentos de tensão, o presidente fez um pronunciamento na varanda da sede do governo: “Com vocês, com o povo, nunca desistiremos. Ninguém pode tirar a democracia que conquistamos nas urnas e com o sangue do povo boliviano”.
Segundo a mídia boliviana, o ex-comandante será processado por terrorismo e 'atentado armado contra a segurança e soberania do Estado'.
Além de Zúñiga, o ex-comandante da Marinha boliviana Juan Arnez Salvador também foi detido.
A ex-presidente boliviana Jeanine Áñez condenou a tentativa de golpe, assim como a Suprema Corte da Bolívia, que reforçou o pedido de apoio à democracia.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a Organização dos Estados Americanos (OEA) também condenaram a tentativa de golpe.
O embaixador do Brasil na Bolívia, Luis Henrique Sobreira, afirmou que a oposição de vários países à tentativa de golpe ajudou a enfraquecer o movimento.
Nos últimos anos, a Bolívia vem enfrentando períodos de instabilidade política. Em 2019, Morales deixou o poder após um golpe de Estado que ocorreu depois de uma série de greves e protestos eclodirem pelo país.
Evo Morales tinha sido reeleito para um quarto mandato presidencial no primeiro turno das eleições, o que não tinha base legal. Enfraquecido, ele acabou renunciando à presidência e deixando a Bolívia.
Em seguida, Jeanine Áñez Chávez, que apoiou o golpe, se declarou presidente interina da Bolívia.
De acordo com a Agência Boliviana de Informação, em 2021 ela e o ex-comandante do Exército boliviano Jorge Pastor Mendieta Ferrufino, que liderou o golpe de 2019, foram presos.