Antes do Plano Real, a vida cotidiana no Brasil era marcada pela hiperinflação, caracterizada por preços que subiam a cada dia.
Na ocasião, a hiperinflação enfrentada pelo Brasil era resultado de uma política de ampliação dos gastos públicos, que aumentou significativamente a dívida do país durante a ditadura militar.
Em 1993, a taxa de inflação anual atingiu um pico de 2.475%, um índice surreal que ilustra o caos econômico do período.
Nesse cenário, as pessoas enfrentavam filas quilométricas para comprar produtos básicos, salários perdiam valor real em questão de dias e a poupança se tornava inviável.
'Era muito comum as pessoas dormirem nas filas ou chegarem na madrugada para garantir 2 kg de carne, ou um pacote de arroz, feijão, açúcar, óleo de soja', contou em entrevista ao g1 o administrador de empresas Gilberto Rodrigues, de 62 anos.
O Brasil passou por várias trocas de moeda na tentativa de controlar a inflação, mas todas as tentativas anteriores ao Plano Real falharam.
Algumas das moedas anteriores ao real incluíam o cruzeiro, o cruzeiro novo e o cruzeiro real.
Em 1993, foram implementadas medidas fiscais e monetárias para preparar o terreno para o Plano Real, entre elas a redução do déficit público e o controle da emissão de moeda.
Em meio a esse cenário desolador, o governo do presidente Itamar Franco, sob a liderança do então ministro da Economia Fernando Henrique Cardoso, lançou o Plano Real em 27 de fevereiro de 1994.
Fizeram parte da equipe de FHC nomes como Pérsio Arida, Edmar Bacha, Gustavo Franco, Pedro Malan e André Lara Resende.
O plano consistia em um conjunto de medidas inovadoras e abrangentes que visavam atacar a hiperinflação pela raiz. Confira quais foram os pilares do Plano Real:
Nova Moeda: A criação da Unidade Real de Valor (URV), uma moeda indexada ao dólar americano, serviu como âncora para estabilizar os preços.
Uma tabela de conversão foi publicada, e a população teve algumas semanas para trocar as antigas notas de cruzeiro pelas novas cédulas de real.
Além disso, houve uma fiscalização rigorosa para evitar aumentos indevidos e injustificados de preços, com punições para os comerciantes que tentassem se aproveitar da mudança de moeda.
Congelamento de Preços e Salários: Uma medida impopular, mas necessária para conter a inércia inflacionária, congelou preços e salários por um período inicial.
Privatizações: A venda de empresas estatais ineficientes contribuiu para reduzir o tamanho do Estado, melhorar a alocação de recursos e gerar receita para o governo.
Autonomia do Banco Central: O Banco Central conquistou autonomia para definir a política monetária sem interferência política, permitindo um combate mais eficaz à inflação.
O Plano Real foi um enorme sucesso na época. Em apenas alguns meses, a hiperinflação foi controlada e a economia brasileira começou a se recuperar.
A inflação anual caiu para menos de 10% em 1995 e se estabilizou em níveis baixos nos anos seguintes.
Além disso, o plano impulsionou o crescimento do PIB, a criação de empregos, a redução da pobreza e o aumento da renda da população.
O Real se tornou uma moeda forte e confiável, permitindo o desenvolvimento do mercado financeiro e a atração de investimentos estrangeiros.
Desde então, o real sofreu uma desvalorização significativa. A inflação oficial acumulada no país alcançou 708% nesses últimos 30 anos. Hoje, uma moeda de R$ 1 teria o valor equivalente a R$ 0,12 naquela época.