Ela descobriu a condição por acaso, depois de ir a uma consulta no Hospital Regional Dr. José de Simone Netto, em Ponta Porã (MS).
Segundo o hospital, Daniela Almeida Vera deu entrada na unidade no dia 14 de março com um quadro de infecção que já era considerado grave pelos médicos.
Depois de um tempo, a mulher passou a ter dores e mal-estar e decidiu procurar atendimento novamente. Ela foi internada 10 dias depois.
Depois de uma bateria de exames, o hospital informou que 'foi detectada uma condição rara chamada de litopédio', durante um exame de imagem.
Litopédio se caracteriza pelo óbito de um feto durante a gravidez, seguido pela calcificação dele dentro do abdômen da mulher.
A equipe médica desconfiou que o 'bebê de pedra' estava na barriga da idosa há pelo menos 56 anos, que foi quando ela ficou grávida pela última vez.
“A partir da infecção constatada, equipe médica da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) decidiu pela realização cirúrgica de emergência, com a finalidade de remover o feto e controlar o processo infeccioso”, comunicou a instituição, em nota.
O hospital explicou que a cirurgia foi feita para tentar salvar a vida da mulher, pois ela estava com sepse, uma condição grave causada por uma infecção que se espalha pelo corpo.
Infelizmente, mesmo com a realização do procedimento cirúrgico, a idosa não resistiu e faleceu.
Segundo o secretário de saúde de Ponta Porã, a senhora vivia em Aral Moreira, que fica a 84 km de distância do hospital.
Ela já estava sendo tratada por uma infecção urinária em sua cidade. Como seu estado de saúde piorou, ela precisou ser levada para o hospital em Ponta Porã, onde os médicos suspeitaram inicialmente de câncer.
Em entrevista, a filha da idosa, Rosely Almeida, então com 21 anos, disse que a mãe tinha medo de ir ao médico e sempre deu preferência a 'tratamentos alternativos'.
'Ela era 'antiga' e somos indígenas. Ela não gostava de ir ao médico, tinha medo dos aparelhos para fazer exame', contou a filha.
'A gente tá em choque, é muita tristeza. Ela era nossa mãe, a única que protegia a gente e agora ela se foi, ficamos meio perdidas', lamentou Rosely. A idosa deixou sete filhos e 40 netos.
O hospital divulgou uma nota lamentando o falecimento da paciente e se solidarizando com familiares e amigos: 'Importante pontuar que a unidade manteve acolhimento e diálogo com os familiares, que ainda podem contar com apoio psicológico do hospital”.
Essa não é a primeira vez que um caso desse tipo acontece no Brasil. Em 2023, se tornou viral nas redes sociais a história de uma senhora de 84 anos do interior do Tocantins, que descobriu que havia um feto calcificado de sete meses em seu corpo por mais de 40 anos.
Na época, especialistas disseram que essa condição, embora seja muito rara, pode acontecer quando o feto acaba se desenvolvendo fora do útero.
'Acontece quando é uma gravidez ectópica, em que o feto morre e não é reabsorvido pelo organismo da mãe e se calcifica. É como se se formasse uma concha de cálcio envolta do feto, 60% dos casos acontecem com mulheres acima dos 40 anos”, explicou a obstetriz Mariana Betioli à CNN.
Esses casos podem ocorrer quando não se retira o feto do corpo imediatamente após sua morte, muitas vezes devido à falta de conhecimento e acesso à saúde em comunidades carentes.
“Normalmente a mulher não apresenta sintomas, por isso essa condição acaba sendo diagnosticada por acaso somente anos depois da gravidez”, disse a obstetriz.