No dia 07/11, o Diário Oficial publicou a Lei 10.562/23 sancionada pelo governador Cláudio Castro que declarou o Cacique de Ramos “patrimônio imaterial” do Rio de Janeiro.
A lei enfatiza a importância do bloco para a cultura do Rio de Janeiro e destaca a necessidade de incentivar as apresentações do Cacique de Ramos para preservar sua tradição.
O texto também reforça que são proibidas manifestações preconceituosas e discriminatórias de qualquer natureza contra os integrantes do bloco.
'Só temos a agradecer pelo que o Cacique e seus músicos fazem há mais de 60 anos, engrandecendo o Carnaval, o samba, e alegrando foliões nas suas rodas e nos seus desfiles por todo esse tempo”, declarou o governador Cláudio Castro
Fundado no bairro de Ramos, na Zona Norte do Rio, em 20 de janeiro de 1961, data que homenageia o padroeiro da cidade São Sebastião, o bloco carnavalesco costuma atrair foliões de diversas regiões da cidade.
Entre os fundadores do Cacique de Ramos está Ubirajara Félix do Nascimento, o Bira Presidente. Hoje com 87 anos, ele é um estandarte do samba carioca.
O bloco ganhou fama por seus desfiles empolgantes com indumentárias indígenas, que tornaram o Cacique de Ramos inconfundível.
Em carnavais do passado, o bloco levava mais de dez mil componentes para espaços icônicos da folia da época, como a Praça Onze e a Avenida Presidente Vargas.
Desde os anos 70, o bloco tem uma sede permanente que tornou-se famosa por reunir nomes emblemáticos da história do samba. Ela fica no bairro de Olaria
Além do protagonismo no Carnaval, o Cacique de Ramos é conhecido também por seu papel na história da música carioca e brasileira.
No Cacique de Ramos surgiram nomes que hoje estão no altar do samba, como Almir Guineto (1946 - 2017), Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008), João Nogueira (1941 - 2000), Arlindo Cruz, Sombrinha, Jorge Aragão e Zeca Pagodinho.
No fim dos anos 70, Beth Carvalho (1946 - 2019) começou a frequentar as rodas de samba do Cacique no que seria um divisor de águas na história do bloco e do próprio samba.
Beth se encantou com compositores que compareciam ao Cacique de Ramos e passou a gravar canções criadas por eles.
Logo, ela se transformou em “madrinha do bloco e do grupo Fundo de Quintal, composto por alguns desses compositores”, conforme destaca o verbete do “Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira”.
Integrantes do Fundo de Quintal introduziram instrumentos que deram uma estética nova para as rodas de samba a partir do Cacique de Ramos.
O tantã, inventado por Sereno, o repique de mão, criado por Ubirany, e o banjo de quatro cordas entraram no ambiente dos bambas.
O disco “De Pé no Chão”, lançado em 1978 por Beth Carvalho, é um dos mais importantes da história do samba. Ele reproduz o estilo das rodas do Cacique com suas inovações instrumentais, dando popularidade a essa sonoridade.
Entre as faixas do álbum está “Vou Festejar”. A música de Jorge Aragão se tornou um clássico do samba que passou a ser entoado em carnavais e por torcidas em estádios de futebol. O disco traz ainda canções de lendas do gênero, como Cartola, Martinho da Vila, Candeia, Nelson Cavaquinho e Monarco.
Um símbolo do Cacique de Ramos é a tamarineira, árvore que está no local onde ocorrem as rodas de samba do bloco. Ela é citada na canção “Doce Refúgio”, de Luiz Carlos da Vila.