Alcione Dias Nazareth é a quarta de nove irmãos: Wilson, João Carlos, Ubiratan, Alcione, Ribamar, Jofel, Ivone, Maria Helena e Solange. Ela tem outros nove irmãos que seu pai, João Carlos Dias Nazareth, que era policial, teve com outras mulheres.
O nome de batismo foi ideia do pai, inspirado na personagem Alcíone, do romance 'Renúncia', psicografado por Chico Xavier. Aos 18 anos, se formou como professora primária na Escola de Curso Normal. Lecionou por dois anos, quando foi demitida por ensinar a seus alunos como se tocava trompete, que aprendeu com seu pai quando pequena.
Em São Luís, Alcione iniciou sua imersão na cultura popular ao abrir o calendário de festas, na companhia do pai, quando cantava em ladainhas na “Queimação de Palhinha” em Dia de Reis. O carnaval estava em seu coração desde o início, quando era uma jovem foliã, quando fantasiava suas irmãs, com roupas feitas por sua mãe, Dona Felipa.
Anos mais tarde, conseguiu uma vaga em um sorteio e apresentou-se na TV do Maranhão. Ficou fixa na TV, apresentando-se lá nos anos 1960 até o início dos anos 1970. Além de cantar na TV, também ecoava sua voz em bares e boates em várias cidades do Maranhão.
Com os ensinamentos de seu pai na “Orquestra Jazz Guarani”, onde João Carlos era maestro, foi para o Rio de Janeiro com o sonho de ser cantora nos anos 60. Trabalhou como vendedora de loja na 'Império dos Discos' e, em seguida, participou de concursos de calouros na noite carioca.
O apelido Marrom, dado pelos integrantes da orquestra de seu pai, surgiu nessa época. Alcione afirmou que seu pai era 'bom homem' e incentivava as filhas a serem independentes desde muito cedo, a nunca obedecerem homem nenhum, além de lhes ensinar valores morais rígidos.
Ganhou destaque ao ser convidada para trabalhos também na capital paulista e fez turnês pelo Brasil e no exterior. Durante esse período, cantou diversos gêneros musicais como jazz, bolero, blues, em especial obras interpretadas por vozes femininas. Mas foi o samba que mudou a sua vida.
No início dos anos 70, lançou um EP contendo duas faixas, “Figa de Guiné” e “O sonho acabou”. Foi a guinada que abriu o caminho para se tornar uma das maiores cantoras de samba do Brasil, com 40 discos e 50 anos de carreira, unindo negritude, feminilidade e potência da cultura nordestina.
Alcione também participou do programa 'A grande chance', de Flávio Cavalcanti, na TV Tupi, e selou assim seu primeiro contrato profissional. Depois de iniciar turnês, lançou 'A Voz do samba', seu primeiro álbum. O disco inclui uma das faixas mais tocadas de sua carreira: 'Faz uma loucura por mim'
Os sucessos radiofônicos de Alcione na época foram 'Não deixe o samba morrer' (Edson Conceição e Aloísio Silva, 1975) e 'O surdo' (Totonho e Paulinho Rezende, 1975). O título do álbum foi inspirado no samba 'A voz do morro' (Zé Kétti, 1955), incluído por Alcione no LP, lançado pela gravadora Philips.
O repertório do álbum 'A voz do samba' foi arquitetado por Roberto Menescal na esteira da explosão da cantora Clara Nunes (1942 – 1983), no ano anterior, com o álbum 'Alvorecer' (1974). O estouro de Clara na gravadora Odeon motivou as outras companhias fonográficas a investirem em cantoras de samba. Surgiu, então, a oportunidade da Marrom deslanchar e conquistar o Brasil.
Com uma voz grave e volumosa, da tessitura dos contraltos, Alcione estourou no mundo da música e se tornou amiga de Clara Nunes. No ano anterior, em 1974, visitou a quadra da Mangueira pela primeira vez e foi convidada a desfilar pela agremiação.
Em seguida, os álbuns 'Alerta geral' (1978) e 'Gostoso veneno' (1979) disseminaram o canto da Marrom pelo Brasil. Entre as músicas do disco estão 'Sufoco', 'Gostoso veneno' e 'Menino sem juízo'. Em seu sexto disco, regravou 'E vamos à luta', de Gonzaguinha (1945 - 1991) e demonstrava maturidade artística e a voz cada vez mais potente e popular.
Para completar, a cantora fundou, em 1979, ao lado de Clara Nunes, Martinho da Vila e Dona Ivone Lara, o Clube do Samba, com o objetivo de criar um movimento sócio-cultural para fortalecer suas raízes, já que naquela época as estações de rádio e televisão privilegiavam as músicas de discoteca.
A cantora gravou mais um álbum na Philips antes de se transferir para a RCA. A partir de 1982, iniciou outra fase bem-sucedida da carreira, com ênfase em baladas românticas, que apresentaram maior diversidade rítmica e conquistaram um forte apelo popular.
Na RCA, iniciou a fase com o álbum 'Vamos Arrepiar', mas ganhou disco de ouro com 'Da cor do Brasil', de 1984, A primeira faixa declarava todo seu amor pela Estação primeira de Mangueira e sua forte relação com a tradicional agremiação do carnaval carioca.
Entre 1985 e 1987, lançou uma sequência de sucessos nessa linha romântica: “Garoto Maroto” (Franco e Marcos Paiva), “Meu Vício é Você” (Carlos Colla e Chico Roque), “Ou Ela ou Eu” (Flávio Augusto e Carlos Rocha) além de “Estranha Loucura” e “Nem Morta”, ambas da dupla Michael Sullivan (1950) e Paulo Massadas (1950).
Em 1987, participou da fundação da escola de samba mirim Mangueira do Amanhã. Atualmente, ela é presidente de honra do grupo.
Ainda em 1987, lançou um álbum intitulado 'Resistência'. Nele, estavam músicas que são entoadas até hoje pela população brasileira. A Marrom trouxe 'Meu vício é você' e 'Estranha loucura', que caíram no gosto popular e tornaram-se dois dos maiores sucessos da carreira da artista.
Nos anos 1990, a cantora acompanhou a tendência de sucesso do pagode e participou dos álbuns de artistas associados ao gênero, como Só Pra Contrariar, Grupo Raça e Art Popular. Em 1997, dedicou um álbum inteiro a esta geração.
A partir dos anos 2000, reapareceu com força na mídia com as músicas 'Você me vira a cabeça', 'A Loba' e 'Meu ébano'. As obras estiveram na trilha de novelas como 'Da cor do pecado' (2004) e 'América' (2005), o que as impulsionou pelo país inteiro.
Em 2018, a tradicional escola de samba de São Paulo Mocidade Alegre homenageou os 70 anos de vida e os 45 anos de carreira de Alcione, com o enredo 'A voz marrom que não deixa o samba morrer'.
Marrom revelou, em papo com Pedro Bial, que durante uma época descobriu um grave problema em sua voz que a deixou durante um tempo sem falar, apenas se comunicando por meio da escrita. Até que um amigo a apresentou ao médico espiritualista Edson Queiroz, que recebia o Dr. Fritz, e a curou.
Em 2016, a cantora passou por um problema cardíaco e precisou se submeter a uma angioplastia para colocar dois stents para desobstruir as artérias do coração. O tratamento a fez emagrecer 24 quilos.
No transcorrer da carreira, Alcione ganhou 26 Discos de Ouro, sete de Platina, dois de Platina Duplo, três DVDs de Ouro e um de Platina.
Na Rede Globo, a cantora fez participações em novelas e programas como: Por Amor (1997), O Clone (2001), Amazônia (2007), Zorra Total (2011), Cheias de Charme (2012), Salve Jorge (2013), Mister Brau (2015) e A Força do Querer (2017).
Em 2024, Alcione foi homenageada pela Estação Primeira de Mangueira, no Carnaval do Rio de Janeiro, com o enredo 'A Negra Voz do Amanhã'.