De acordo com dados do Ministério de Assuntos Internos e Comunicação do Japão, 14% dos imóveis residenciais do país estão 'às moscas'.
Um reflexo da crise populacional vivida pelo Japão. O Ministério do Interior divulgou em julho de 2024 que a população é de 121,6 milhões de pessoas, pois ao longo de 2023 o país perdeu 861 mil habitantes.
A queda de 0,7% em relação a 2022 foi a maior no país desde o começo dos registros em 1968. Assim, a população japonesa sofre redução pelo 15º ano consecutivo.
Quarta maior economia do mundo atualmente, o Japão vê a expectativa de vida aumentar constantemente acompanhada de uma queda acentuada na taxa de natalidade.
O número de mortes em 2023 foi de 1,58 milhão, enquanto nasceram 730 mil japoneses. Até 1º de janeiro de 2024, a população do Japão era de 124,9 milhões.
Cada vez mais são encontradas “akiya” em grandes centros urbanos por todo o país, inclusive na própria capital, a movimentada Tóquio.
“Esse é um sintoma do declínio populacional do Japão”, confirmou à CNN o especialista Jeffrey Hall, professor da Universidade Kanda de Estudos Internacionals, na província de Chiba.
“Não é um problema de construir muitas casas, mas de não ter gente suficiente mesmo”, completou o acadêmico.
Por tradição, as 'akiya' costumam ser herdadas e isso explica parte do problema. Com a queda nas taxas de natalidade, há muitos casos em que não há uma nova geração para receber o imóvel.
Em relação às moradias nas áreas rurais, há cada vez mais casos de herdeiros desinteressados em permanecer nessas localidades, preferindo migrar para grandes centros urbanos.
Segundo especialistas ouvidos pela CNN, ainda há um aspecto financeiro contribuindo para essa realidade do aumento de residências abandonadas.
Muitos proprietários optam por não modernizar os imóveis porque fica mais barato mantê-los do jeito que estão, ainda que envelhecidos.
Uma consequência problemática do fato de haver tantas casas abandonadas é o aumento dos riscos à segurança em situações de desastres naturais.
Como o Japão é muito suscetível a terremotos e tsunamis, a falta de manutenção de tantos imóveis torna mais complexas as operações de resgate e reconstrução de cidades.
Existem ainda os riscos sociais associados ao aumento de casas abandonadas para a segurança pública e preservação do meio ambiente. É um quadro que pode deteriorar a qualidade de vida nessas cidades.
Estudiosos da Universidade de Tóquio dizem que é preciso haver políticas públicas que aproveitem os espaços ocupados por essas casas abandonadas para criar novas estruturas que tragam proveito à comunidade.
A diminuição na quantidade de casamentos é um dos fatores que agravam esse cenário. E a taxa de fecundidade é uma das menores registradas no mundo: 1,2 filho por mulher. Ou seja, a população tende a diminuir cada vez mais com o passar do tempo.
O governo japonês tem feito esforços ao longo dos anos para estimular o número de nascimentos. Oferece, por exemplo, subsídios governamentais para casais que desejam ter filhos, além de auxílios com educação e saúde. Tem até aplicativo de namoro.
Mas o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, descreveu a situação como crítica, pois o país tem fracassado nas tentativas de estimular o aumento na taxa de natalidade.
A queda populacional gera problemas nas empresas. E o governo se vê obrigado a incentivar a imigração, que vem aumentando para suprir as necessidades do país. A quantidade de estrangeiros no Japão aumentou para mais de 3,3 milhões de pessoas.