Na madrugada daquele verão europeu, uma quadrilha formada por 17 criminosos (15 ladrões e dois informantes) roubou mais de uma centena de malotes de dinheiro de um trem que transportava valores bancários de Glasgow, na Escócia, para a estação de Euston, em Londres, capital da Inglaterra.
De acordo com as investigações conduzidas à época, Bruce Reynolds (foto), líder do bando ao lado de Ronald Biggs, foi avisado por um informante de Glasgow que o comboio havia partido com os milionários depósitos bancários na bagagem.
A quadrilha interceptou a locomotiva quando ela passava sob uma ponte distante 65 quilômetros de Londres, nas proximidades da cidade inglesa de Cheddington.
Para isso, Reynolds utilizou um dispositivo que adulterou as luzes do semáforo, o que fez o trem parar abruptamente.
O ajudante do maquinista desceu do trem para averiguar o porquê da parada e foi surpreendido pelos bandidos. Disfarçados de soldados, integrantes da gangue o amarraram e invadiram o veículo ferroviário.
No interior do trem, o maquinista Jack Mils reagiu e acabou atingido por um violento golpe de barra de ferro. Em seguida, os ladrões transferiram um total de 118 malotes de dinheiro da locomotiva para caminhonetes. A operação durou cerca de 20 minutos.
O montante roubado pelo bando de Reynolds e Biggs - 2,6 milhões de libras (o equivalente a 4,2 milhões de dólares, à época - fez do crime o maior assalto a uma ferrovia no século 20. Apenas a quantia de 300 mil libras foi recuperada pelas autoridades britânicas.
Bruce Reynolds, morto em 2013 aos 81 anos, ficou conhecido como o “cérebro” do assalto. Após deixar a cadeia, onde cumpriu pena por roubos de joias, ele articulou o crime com o amigo Ronaldo Biggs, atraindo uma série de conhecidos para o plano.
Nos meses seguintes, a polícia inglesa conseguiu capturar todos os criminosos, exceto justamente a dupla Reynolds e Biggs.
Roger Codrey e Willian Boal foram os primeiros detidos, em um apartamento londrino. Em menos de um ano, 11 integrantes do bando foram presos e condenados a penas entre 20 e 30 anos de reclusão.
Bruce Reynolds passou cinco anos foragido, período em que fez cirurgias plásticas, alterou sua identidade e viveu entre o México e o Canadá. Em 9 de novembro de 1968, ele, enfim, foi capturado e condenado a 25 anos de prisão.
Em uma fuga com ares cinematográficos, Ronald Biggs passou por vários países antes de desembarcar no Rio de Janeiro munido de passaporte falso. Ele viveu por mais de 30 anos no Brasil.
No Brasil, Biggs teve um filho, Michael Biggs, que ficou famoso nos anos 80 como integrante da banda infantil Turma do Balão Mágico, ao lado de Simony, Toby e Jairzinho.
Em 1974, Biggs foi identificado pelo repórter de um tabloide britânico em Copacabana. Na época, a bailarina Raimunda de Castro já estava grávida do filho do criminoso e, sem acordo de extradição entre Brasil e Inglaterra, ele pôde permanecer em solo brasileiro.
No Rio de Janeiro, Ronaldo Biggs levou uma vida nada discreta. Ele lançou uma autobiografia, fez ponta em filme, abriu uma casa noturna e até participou da gravação de uma faixa de disco do Sex Pistols, grupo de punk rock britânico.
Apenas em 2001, Biggs se entregou à polícia britânica e foi conduzido à prisão de segurança máxima de Belmarsh, em Londres.
Com a saúde fragilizada, Biggs foi libertado em 2009 e morreu em um asilo para idosos quatro anos mais tarde, aos 84 anos.
Por sua engenhosidade e repercussão, o assalto ao trem pagador no Reino Unido cometido pelo bando de Reynolds e Biggs acabou inspirando filmes.
Entre os longa-metragens inspirados no episódio está 'Os 26 do Expresso Postal' (1967). Livros sobre o crime também foram publicados na Inglaterra.