Exposição inédita

Exposição inédita "conta" história da cerveja em Montes Claros

crédito: Luiz Ribeiro/DA Press

A cerveja surgiu na Mesopotâmia, antes de Cristo (assim como o vinho), e teria sido descoberta por acaso, na fermentação de cereais. Esta e outras curiosidades são abordadas em uma exposição inédita sobre a história da cerveja, que será aberta neste sábado (6/1), com entrada gratuita, em Montes Claros, no Norte de Minas.


A mostra poderá ser conferida até o dia 27 de janeiro, no Museu Regional do Norte de Minas, vinculado à Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). A exposição é intitulada “Da Mesopotâmia ao Sertão: Uma Breve História da Cerveja”.

 


A cerveja é a bebida alcóolica mais consumida pelos brasileiros. O país tem um consumo anual da ordem de 15,4 bilhões de litros de cerveja, de acordo com pesquisa encomendada pelo Sindicato das Indústrias de Cerveja (Sindicerv), que reúne grandes grupos da bebida industrializada, como a Ambev. Mas, além de contar a história da bebida desde o surgimento na antiga Mesopotâmia até os dias de hoje, a exposição inédita de Montes Claros terá como atração a produção artesanal da cerveja, seguimento no qual Minas Gerais se destaca como o terceiro maior produtor nacional.


De acordo com o Anuário da Cerveja, divulgado em julho de 2023 pelo Ministério da Agricultura(Mapa), o estado conta com 222 cervejarias registradas, atrás de São Paulo (387 estabelecimentos) e do Rio Grande do Sul (310 unidades fabricantes).


A exposição “Da Mesopotâmia ao Sertão: Uma Breve História da Cerveja” será aberta neste sábado e seguirá até o dia 27 de janeiro. Durante a mostra, por meio de painéis, imagens e vídeos, serão apresentados ao público a história da cerveja desde o surgimento da bebida, na antiga Mesopotâmia, até os dias atuais.


O público poderá conhecer todas etapas da produção da cerveja artesanal e terá contato direto com os equipamentos e as matérias-primas da bebida: lúpulo, cevada (malte) e leveduras (fermentação) e água. Com isso, será possível sentir a textura e os aroma dos produtos. No interior do Museu Regional será improvisada uma unidade de produção artesanal da cerveja. O processo produtivo será iniciado neste sábado, com a bebida passando processo de “maturação” no próprio local, devendo ficar pronta para o consumo no dia 27 de janeiro, quando terminará a mostra.

 


Neste sábado, a partir das 8h, os visitantes da exposição poderão acompanhar a brasagem. “A brasagem é uma etapa inicial da produção da cerveja, em que os cereais são cozidos em água aquecida. Esse processo permite a atuação das enzimas que vão transformar o amido dos grãos em açúcares fermentáveis (maltose) ou não fermentáveis (dextrinas)”, explica o mestre cervejeiro Éder Queiroz Araújo, que também é empreendedor do setor em Montes Claros.


Também neste sábado, antes da abertura oficial da exposição, Eder Queiroz vai proferir uma palestra no local da mostra sobre o tema “Cerveja: a magia a partir de quatro ingredientes (água, malte, lúpulo e levedura)". Ele vai explicar a importância de cada uma das matérias-primas da bebida.

 

Conheça a história da cerveja


A importância da cerveja para a antiguidade foi bastante documentada em escritos antigos e iconografias, particularmente encontradas nas culturas egípcia e mesopotâmica. Na China também aparecem registros datados de 4.000 anos a.C. sobre a "kiu", cerveja feita à base de cevada, trigo, milho e arroz. No entanto, relatos antigos sobre a bebida supõem origem mitológica: a cerveja seria criação de Osíris, deus egípcio dos vegetais, do julgamento e dos mortos.


O Livro dos Mortos, do Antigo Egito, faz menções sobre cerveja fabricada com cevada. Porém, a origem das primeiras cervejas e a prática da cervejaria origina-se na antiga Mesopotâmia, mais precisamente da Suméria – na região conhecida como Crescente Fértil, entre o Tigre e o Eufrates –, onde a cevada crescia em abundância.


De acordo com registros históricos, a cerveja feita de cevada maltada era consumida na Mesopotâmia, em 6.000 a.C., e não era usada somente na dieta, pois ainda exercia função medicinal e cosmética. Antigos escritos encontrados em tábuas de argila revelam que a fabricação de cervejas era uma ocupação muito respeitada na antiga Mesopotâmia, e que a maioria dos fabricantes de cerveja eram mulheres. O ofício da fabricação de cerveja foi a única profissão na Mesopotâmia que derivou de sanção social e proteção de divindades femininas, especialmente de: Ninkasi, deusa da cerveja; Siris, patrona da cerveja, e Siduri, a taberneira, deusa associada a fermentação do vinho e da cerveja.


Descoberta acidental


A cerveja teria descoberta de forma acidental - acredita-se, que possivelmente, fruto de mulheres, através da fermentação não induzida de algum cereal. Ela foi descoberta pouco tempo depois do surgimento do pão: os sumérios, como outras sociedades antigas, descobriram que molhando a massa do pão ela fermenta, e o resultado ficava melhor. Surge, então, a cerveja primitiva como espécie de "pão líquido", até que os sumérios chegaram a um gênero de cerveja que consideravam “bebida divina”, geralmente, oferecida aos seus deuses.

Minas já tem 222 cervejarias. Na foto: unidade fabricante de cerveja artesanal em Montes Claros

Minas já tem 222 cervejarias. Na foto: unidade fabricante de cerveja artesanal em Montes Claros

Luiz Ribeiro/DA Press

Em 500 a.C. e no período subsequente, gregos e romanos deram preferência ao vinho, divina bebida entregue aos homens por Baco. A cerveja passou então a ser a bebida das classes menos favorecidas, muito apreciada em regiões sob domínio romano, principalmente pelos germanos e gauleses.


Muitos romanos consideravam a bebida desprezível e típica de povos bárbaros. Praticamente só se encontrava cerveja fora dos limites do Império Romano, onde era difícil comprar vinho. Apesar da cerveja ter evoluído ao longo dos séculos, apresentando diferentes tipos e qualidade. Na Idade Média, as mulheres assumiram a responsabilidade pela produção caseira da cerveja, que era servida para toda família, inclusive no desjejum. Era uma opção barata e acessível, diferente do vinho, que era caro e de difícil acesso para os menos afortunados.


Nesta época, os mosteiros do século VI tiveram uma importância fundamental no desenvolvimento de técnicas e receitas que melhoraram muito a qualidade da cerveja. No século IX, monges beneditinos alemães começaram a produzir cerveja em larga escala, por motivo religioso: considerando que naquele tempo, durante a Quaresma, nos monastérios medievais só se podia fazer uma refeição ao longo do dia, os religiosos passaram a tomar cerveja, já que a abstenção não se estendia aos líquidos.


A cerveja assim torna-se um símbolo da cultura germânica. Foi por volta do ano 700 d.C, a Bavária abriu sua primeira cervejaria, que ficava dentro de um mosteiro. A partir de então, a cerveja foi sendo difundida para os demais países da Europa, que foram aperfeiçoando suas produções locais até chegarem ao que conhecemos hoje.


Cerveja no Brasil


A popularização da cerveja brasileira se dá a partir do século XVII, através de sua chegada com a colonização holandesa (1634-1654), pela Companhia das Índias Ocidentais. Em 1637, o holandês Maurício de Nassau chegou ao Brasil junto com o cervejeiro Dirck Dicx. Em outubro de 1640, eles abriram a primeira fábrica de cerveja das Américas. Na residência chamada “La Fontaine”, fabricavam uma cerveja encorpada, com cevada e açúcar.


No Brasil colonial, o vinho e a cachaça eram as bebidas mais populares. Isso porque, os portugueses impunham leis de incentivo à venda dos seus vinhos, e o comércio de importação e exportação era exclusivo com Portugal. Em 1785, a rainha Dona Maria I assinou um alvará que proibia a existência de fábricas e manufaturas na colônia.


Em 1808, quando a Família Real portuguesa desembarcou no nosso país, muita coisa mudou. Logo ao chegar, D. João IV decretou a abertura dos portos às nações amigas e revogou o alvará da rainha Dona Maria I. Até 1814, a abertura dos portos beneficiou exclusivamente a Inglaterra, o que significava que a cerveja consumida no Brasil era de origem britânica. Os ingleses dominaram o mercado das cervejas importadas até 1870. A partir da segunda metade do século XIX, por influência da imigração, a preferência passou a ser pela cerveja alemã. Ela vinha em garrafas e em caixas, ao contrário das inglesas, que vinham em barris. A cerveja alemã era o oposto da inglesa: clara, límpida, conservava-se melhor e agradava mais ao paladar. Foi então que nasceu o hábito de beber cervejas em garrafas de vidro.