A recente mudança do nome do bufê para A Chef reforça o desejo de Gabriela Gontijo e Bruna Costa de valorizar o protagonismo das mulheres -  (crédito: Gustavo Andrade/Divulgação)

A recente mudança do nome do bufê para A Chef reforça o desejo de Gabriela Gontijo e Bruna Costa de valorizar o protagonismo das mulheres

crédito: Gustavo Andrade/Divulgação

Agora são elas. Mulheres inseguras, mas também corajosas. Mulheres receosas, mas também determinadas. Mulheres que têm o pé no chão para enfrentar a realidade, mas também se jogam nos sonhos. Neste 8 de março, o caderno é dedicado a todas as mulheres. Sendo assim, amigo leitor, te convidamos a pegar uma saborosa xícara de café, se sentar numa confortável poltrona e embarcar em quatro histórias de empreendedoras mineiras que saíram da zona de conforto, correram atrás do que amam e hoje são destaque na cena gastronômica belo-horizontina.


Nossa primeira parada é no antigo bufê Chef Chad Catering, que passou a se chamar A Chef. Na língua portuguesa, o artigo definido é utilizado para determinar de forma precisa os substantivos que o seguem, e isso reflete muito na história que vamos conhecer.


Gabriela Gontijo Miranda, proprietária e sócia do bufê, era casada com o chef Chad Pritchard. Eles moravam nos Estados Unidos e tiveram uma filha. Em 2012, retornaram ao Brasil para o batizado da bebê e fizeram um brunch, que foi um grande sucesso entre os convidados.


“Eu decorei e ele cozinhou. Naquela época, era um tipo de festa muito pouco conhecido aqui em Belo Horizonte, então todo mundo ficou enlouquecido e achou o máximo. Vimos ali uma oportunidade de negócio e, em 2015, voltamos para o Brasil e começamos com o Chef Chad”, conta.


A empresa já caminhava bem quando Bruna Costa, atualmente sócia do bufê, entrou como estagiária para ajudar na cozinha. Ficou por cerca de um ano e só retornou em 2019, já como contratada. “Quando o Chad retornou para os Estados Unidos, a Bruna, que já estava como sous chef, assumiu o cargo de chef executiva”. Em 2022, Bruna se uniu a Gabriela como sócia do negócio.

Com o bufê encabeçado por mulheres e a cozinha exclusivamente feminina, as sócias sentiram a necessidade de mudar o nome, que já não as representava mais. Então, uma pequena alteração do português trouxe tudo o que elas estavam buscando.


“Entendemos que a mudança do artigo se encaixou perfeitamente com o que estávamos buscando. Não só pela Bruna ser nossa chef executiva, mas também pelo fato de que eu tive que virar chefe de família. Então, A Chef tem muito a ver com a nossa história e com o que queremos representar. Na cozinha, brincamos que somos todas as chefes (risos)”, comenta Gabriela.

 

Veia feminina

 

A caminhada nem sempre foi tranquila. “A minha mãe é uma mulher muito forte. Cresci numa casa de quatro mulheres, sabe? Então, sempre tive essa veia feminina muito forte em mim. Tenho duas filhas e sou realmente uma grande defensora das mulheres. Porém, logo que o Chad saiu, escutei pessoas falando que não conseguiria. Também escutei que me achavam com cara de jovem demais e que, por isso, não seria capaz de me colocar na hora de negociar valores”, relembra.


As sócias seguem unidas e fazendo um bom trabalho. Nunca pensaram em desistir. “Não desistam nunca, nós somos capazes de tudo e muito mais. O futuro é feminino, não tenho a menor dúvida disso, e juntas somos mais”, diz Gabriela. Bruna acrescenta: “Sejam persistentes que uma hora as coisas acontecem. Então, não fiquem paradas e corram sempre atrás daquilo que acreditam.”


O lançamento da nova marca, com novo nome e nova identidade visual, que representa um novo passo rumo àquilo que elas acreditam e desejam expressar para mundo, será no dia 20.


O bufê atua em todo o Brasil com cardápios personalizados e decoração de primeira para festas especiais, como Páscoa, batizados, Natal e aniversários. No cardápio, pratos que tem como proposta misturar a culinária mineira com itens contemporâneos internacionais. Entre eles, tartar de carne de sol com banana-da-terra e molho francês béarnaise de manteiga de garrafa e filé-mignon com roti de rapadura, crocante de amendoim e aligot com queijo minas defumado.

 

Da necessidade, um negócio

 

A segunda história tem como protagonistas Virgínia Cândida e Josi Guimarães. Elas são sócias da Viveg, uma das primeiras queijarias artesanais plant based (à base de plantas) do Brasil – e do mundo, que nasceu em 2016, em Belo Horizonte.


Em busca de uma solução para unir o veganismo à vontade de saborear queijos, Virgínia relembrou suas tradições familiares e criou um queijo com leite de amêndoas. Com soluções disruptivas para substituir os produtos de origem animal e diminuir os impactos ambientais gerados pela indústria do leite, ela fez da necessidade um negócio.


“Estava com muita saudade de comer queijo, que sempre fez parte da minha vida na hora do café. Então, quando fiz a receita, vi que deu certo e postei no Instagram, cerca de quatro mil pessoas vieram me pedir para ensinar. Porém, fazer queijo é muito delicado, tem todo um processo, então comecei a dar consultorias na área”, ela conta.


Todos os queijos da Viveg são fabricados de modo artesanal. Possuem rótulo limpo, são probióticos e livres de aromas artificiais. Não contêm glúten, leite, lactose ou caseína. “A Viveg ressignifica a tradição do queijo minas e o seu fazer artesanal com uma grande variedade de produtos. O ingrediente principal é a castanha de caju orgânica e os processos de fabricação são inspirados nas técnicas da queijaria tradicional”, explica.


Atualmente, há no cardápio opções como o queijo “Limone”, que é campeão de vendas. A casca revestida com raspas de limão siciliano, pimenta preta e pimenta rosa entrega um sabor intenso, mas com o frescor do limão. Existe uma versão dele no pote, que é tipo um cream cheese com raspas de limão siciliano e pimenta preta. Já o “Rubi” é um queijo autoral, de sabor umami, com casca revestida com frutos vermelhos e maturado em cachaça mineira de amburana.

 

Desistir nunca foi uma opção para Virgínia Cândida e Josi Guimarães, que desbravam o mercado de "queijos" à base de plantas com a Viveg

Desistir nunca foi uma opção para Virgínia Cândida e Josi Guimarães, que desbravam o mercado de "queijos" à base de plantas com a Viveg

Julia Godinho/Divulgação

 

Só mulheres

Com a produção em alta, Virgínia começou a dar aulas por todo o Brasil e foi com o avanço da empresa que ela encontrou sua futura sócia. “Em uma aula, a Josi me perguntou se eu não precisava de ajuda na produção dos queijos, pois, além das consultorias, ainda produzia os queijos da Viveg. Então, ela entrou como minha sócia, colocando investimento e ajudando em toda a produção. Foi uma etapa muito importante para a empresa”, conta a queijeira.


Como mulheres batalhadoras e pioneiras no ramo, elas enfrentaram inúmeros desafios e percalços. “Uma vez, fizeram uma denúncia contra a nossa fábrica e vieram aqui dois agentes da Vigilância Sanitária. Quando eles chegaram e perceberam que só havia mulheres trabalhando, cresceram para cima da gente. Então, ficamos pensando: e se tivesse um homem aqui? Com certeza, a situação seria bem diferente”, relata Virgínia, relembrando uma das várias situações pelas quais já passaram.


Com resiliência e amor pela produção, elas seguem superando as adversidades e criando um cardápio cada vez mais diverso. “Por mais difícil que seja, nós estamos aqui para fazer a transformação acontecer, e eu acho que ela vai acontecer pela força feminina, então desistir não deve nem ser uma opção. Temos que ter força e confiar em nosso trabalho e no nosso propósito.”

 

Além do que se vê

Tudo começou em 2018. “Fui fazer um curso de barista e me apaixonei pelo ramo. Comecei por hobby, igual quem gosta de vinho quer fazer um curso para entender mais sobre vinho. Mas aí me apaixonei e comecei a entrar no universo do café”, conta Marília Balzani, proprietária do Café Magrí, que tem duas unidades em BH: uma no Mercado Novo (Centro) e outra no Parque do Palácio (Mangabeiras).

Barista e sócia do Café Magrí, Marília Balzani entende que, para se destacar no mercado, é importante não se desviar das suas crenças e valores

Barista e sócia do Café Magrí, Marília Balzani entende que, para se destacar no mercado, é importante não se desviar das suas crenças e valores

Lucas Hallel/Divulgação


Formada em artes plásticas, Marília quis fazer uma homenagem ao pintor surrealista belga René Magritte, daí o nome do estabelecimento. “Queria falar que as coisas estavam para além do que a gente vê. O artista usa muito dessas expressões de que as coisas estão para além das imagens”, explica.

 

A especialidade do café é o brunch à mineira, com tudo o que se tem direito: cafés, doces, pães e variadas bebidas. Entre as opções, “Queijo quente 2.0”, sanduíche de pão de miga com requeijão de raspa, carne louca desfiada e picles de pepino, e o “Dalí”, com ovos mexidos, fonduta de queijo artesanal de Alagoa, pão de fermentação natural e fatias de bacon.

 

Sempre renovado, o menu do Magrí agora recebe o Queijo quente 2.0, sanduíche de pão de miga, requeijão de raspa, carne louca desfiada e picles de pepino

Sempre renovado, o menu do Magrí agora recebe o Queijo quente 2.0, sanduíche de pão de miga, requeijão de raspa, carne louca desfiada e picles de pepino

Cadu Passos/Divulgação


Criado pelo marido de Marília, Rafael Brito, o menu é sempre renovado e a curadoria dá atenção especial a ingredientes de pequenos produtores e que fazem parte de uma cadeia de produção sustentável. “O cardápio tenta ser sempre sazonal. Temos um cardápio de Natal, outro para festa junina e outros dois que variam entre essas duas festividades. Sendo que tudo passa por nós. Aprovamos todos os produtos com que vamos trabalhar”, ela destaca.


Apesar de a cafeteria ser do casal, que divide as tarefas de forma igualitária, Marília já passou por experiência de lidar com fornecedores que só fecham negócio na presença de Rafael.


“Vivemos uma questão estrutural que desvaloriza tanto o nosso trabalho quanto quem somos, mas não podemos nos deixar abater por essas coisas, somos mais fortes. E o mais importante é não desistir do que a gente confia e acredita. Porque o que vai te destacar no mercado não é tanto o que você faz no seu dia a dia, mas quem você é, os valores e conceitos em que você de verdade”, opina a barista e empresária.

 

Dona da sua história

 

“As pessoas acham que é só fazer drinque, porém, não lembram que tem que limpar balcão, limpar o chão, recolher o lixo e quebrar gelo. Tem uma série de outras coisas que são importantes e ninguém vê. Mas, se você ama, vai encarar”, avisa Cibelle Guimarães, conhecida como Jezebel, mixologista há 13 anos em Belo Horizonte.


Jezebel descobriu a paixão pelo bar em uma viagem para Barcelona, onde acompanhou o trabalho de uma amiga numa drinqueria e entendeu melhor sobre as minúcias dos drinques. Ao retornar para o Brasil, um amigo lhe deu uma oportunidade de trabalhar no bar Arcângelo, no Edifício Maletta, Centro de BH, e lhe ajudou com os primeiros ensinamentos como bartender.


“Fiquei lá durante dois anos, até que surgiram novas propostas para trabalhar como bartender. Até então, só reproduzia as cartas de drinques. Quando entendi que era essa área que eu realmente queria, comecei a estudar para criar minhas próprias cartas”.


Sem nenhum curso no currículo, “apenas” muitas leituras e materiais para estudo, Jezebel começou a fazer misturas autorais, criando os próprios xaropes e insumos. Encarregou alguns amigos de experimentar as bebidas e, com o sucesso dos feedbacks, viu ali a porta aberta para correr atrás dos seus sonhos.


Ela criou a própria marca, “Drinks por Jezebel”, que é conhecida e requisitada por toda Belo Horizonte para a elaboração de cardápios de drinques. O nome Jezebel surgiu do apelido carinhoso de um amigo. “Ele dizia que eu sou uma mulher muito forte, tenho uma voz muito forte e uma personalidade muito forte, então me deu esse apelido e pegou. Nada mais justo do que ser ele na marca.”

 

O nome Jezebel surgiu do apelido carinhoso que um amigo deu a Cibelle Guimarães, "uma mulher muito forte, com uma voz muito forte e uma personalidade muito forte"

O nome Jezebel surgiu do apelido carinhoso que um amigo deu a Cibelle Guimarães, "uma mulher muito forte, com uma voz muito forte e uma personalidade muito forte"

Wikie B/Divulgação

Entre as criações da mixologista, está o drinque nomeado com seu próprio apelido. O “Jezebel” é feito com rum prata, molho Jezebel (doce e picante), suco de limão, calda de pêssego e abacaxi, além de um toque de bitter. Já o “Traçado” mistura o destilado de cerveja Lendário com os aperitivos Brasilberg e Jurubeba Leão do Norte e uma pitada de xarope de groselha.


Atualmente, Jezebel não está fixa em nenhuma casa, apenas trabalhando com consultoria, e, às vezes, atua como bartender convidada. Nos últimos tempos, ela assinou as cartas de drinques de diversas casas como Uluru Café, Gira Drinks, Xangô, Madame Geneva, Espaço Yanã, Juramento 202 e Casa Baanko.


Há dez anos, quando começava na área, a profissão de bartender era majoritariamente masculina. Hoje ela já consegue notar uma maior participação de mulheres. “O cenário está diferente, há muitas 'minas' legais. Quando eu comecei, trabalhávamos como bartender em BH apenas eu e mais uma mulher. É bacana demais acompanhar essa mudança de cenário e uma maior participação das mulheres.”


Aí vai o conselho dela para as mulheres que querem entrar nesse mercado: “Estude e se dedique, porque tem espaço para todo mundo nessa profissão que, por anos e anos, era tida como masculina. Não deixe ninguém te calar nem falar que você é menos ou que você não consegue. Nós, mulheres, nos destacamos pela dedicação, força, delicadeza e energia para trabalhar.”


Panacota de queijo de cabra com goiabada cascão e crocante de castanha (A Chef)

Panacota de queijo de cabra com goiabada cascão e crocante de castanha do bufê A Chef

Panacota de queijo de cabra com goiabada cascão e crocante de castanha do bufê A Chef

Gustavo Andrade/Divulgação

Ingredientes
100g de cream cheese; 70g de queijo boursin; 100ml de creme de leite fresco; 30g de açúcar refinado; 4g de gelatina sem sabor; 25ml de água; 100g de goiabada cascão cremosa; 100g de castanhas trituradas (pode ser qualquer tipo de castanha); 20g de manteiga

Modo de fazer
Hidrate a gelatina sem sabor com água morna e reserve. Em uma batedeira, adicione o cream cheese, queijo boursin, creme de leite fresco, açúcar e a gelatina. Bata bem até ficar bem cremoso. Misture as castanhas trituradas com a manteiga e uma pitada de açúcar. Leve ao forno a 160°C por 7 minutos. Reserve. Em uma taça, coloque o creme de queijo de cabra. Em seguida, a goiabada cremosa. Leve para a geladeira por pelo menos 2h. Na hora de servir, finalize com as castanhas.

 

Serviço


A Chef – Art of Catering & Home (@achefcatering)
(31) 97111-2332

Viveg Queijaria Plant Based (@viveg_queijaria)
(31) 97170-0013

Café Magrí (@cafemagri)
Mercado Novo (Avenida Olegário Maciel, 742 – 3? andar, Centro)
Parque do Palácio (Rua Arquiteto Rafaello Berti, 330, Mangabeiras)

Drinks por Jezebel (@drinksporjezebel)
belpguimaraes@gmail.com


*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino