O chapli kabab (R$ 20,99) geralmente é feito de carne moída em formatos pequenos, parecidos com hambúrguer -  (crédito: túlio santos/em/d.a. pressi)

O chapli kabab (R$ 20,99) geralmente é feito de carne moída em formatos pequenos, parecidos com hambúrguer

crédito: túlio santos/em/d.a. pressi

Reinventar uma vida. É o que o afegão Billal Azizi tem feito desde que chegou a Belo Horizonte, há oito meses. O vendedor de carros, que também atuava como ativista político no Afeganistão, saiu de seu país após o território ser dominado pelo grupo terrorista Talibã. Em terras mineiras, ele e a família agora se ocupam de vender comida típica de seu país de origem por meio de delivery.


Azizi chegou ao Brasil somente com a mãe e a esposa - até o filho havia ficado no país em conflito. Aos poucos, outros familiares foram vindo, e atualmente já são oito parentes que residem em Belo Horizonte.


Agora cozinheiro - junto da mãe e esposa -, o afegão abriu sua Cozinha do Azizi no dia 16 de fevereiro, no Bairro Colégio Batista, Região Nordeste da capital. No local, são preparadas receitas da culinária persa afegã, como o sanduíche falafel (R$ 18,50). Ainda na lista de preparos da casa, a samosa é um tipo de pastel triangular recheado com carne e vegetais (custa R$ 16,99). O kabab sina morgh (R$ 19,50) é um espetinho de carne grelhado, enquanto o chapli kabab (R$ 20,99) geralmente é feito de carne moída em forma de hambúrguer. Na ala das sobremesas, o firnee consiste em um pudim afegão com infusão de cardamomo.

 


As opções são divididas em dois cardápios. O menu ‘comida rápida’ é destinado aos pratos individuais. Já o ‘menu familiar’, como o próprio nome diz, serve mais de duas pessoas.


Azizi conta que quando se vive em comunidade, é preciso custear o seu sustento. Pensando nisso, quando ele, sua mãe e sua esposa chegaram no Brasil, resolveram abrir o novo empreendimento. “Decidimos abrir um negócio para obter sustento legal, preservar nossa identidade e fazer uma nova história na sociedade brasileira”, explica.


Os três compartilham ideias e trabalham juntos, desde a lida na cozinha até a administração do estabelecimento. Os ingredientes utilizados para o preparo dos pratos são, em sua maioria, encontrados na capital mineira, mas algumas especiarias são típicas do Irã e do Afeganistão.


PRESENCIAL SOB CONSULTA

 

O gerente da casa conta que tem planos para receber os clientes presencialmente em maior quantidade, e está preparando um lugar para isso, mas, por enquanto mantém a cozinha em formato de entrega. No entanto, algumas exceções podem ser feitas caso a pessoa queira fazer sua refeição presencialmente, mas a visita precisa ser agendada com antecedência, sob consulta. Ele destaca o desejo de compartilhar a hospitalidade e generosidade que herdaram no Afeganistão. “Quero que o povo brasileiro conheça a cultura e o sabor da comida afegã”, reflete.


Os pedidos podem ser feitos via WhatsApp e as entregas são realizadas por meio dos serviços das plataformas Uber e Lalamove. A cozinha funciona todos os dias de 9h às 20h.


REFÚGIO

 

A família Azizi é afegã e está há um ano e quatro meses em solo brasileiro, e há cerca de oito meses em BH. O gerente Billal Azizi conta que chegaram ao Brasil com visto humanitário – válido por 180 dias –, após a queda do governo afegão e domínio do Talibã, um grupo islâmico extremista.
Com o vencimento do visto, a família teve cerca de 90 dias para se apresentar à Polícia Federal e concluir o registro da solicitação da condição de refugiado ou de residência humanitária.


RELEMBRE O CONFLITO

 

Após a derrota por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos por sua recusa em entregar o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, depois dos ataques de 11 de setembro de 2001, o movimento islâmico Talibã tomou o poder do Afeganistão pela segunda vez em 20 anos.


Billal relembra que o movimento assumiu o controle novamente em 15 de agosto de 2021, quando o ex-presidente do país, Mohammad Ashraf Ghani Ahmadzai, fugiu, à medida que as tropas do Talibã avançavam sobre a região central de Cabul, capital do Afeganistão.


O grupo islâmico ocupou Cabul pela primeira vez em outubro de 1996 e, pelos cinco anos seguintes, lideraram um governo que ficou conhecido pela repressão brutal a mulheres, até sua expulsão do território.


Segundo Azizi, o cenário continua o mesmo, o que lhe fez deixar o país. “Até hoje as escolas e universidades estão fechadas às meninas e elas não podem continuar a sua educação. Além disso, as mulheres não são autorizadas a trabalhar no setor governamental. Por isso, nós escolhemos o Brasil para continuar nossas vidas”

 

* Estagiária sob supervisão do subeditor Rafael Rocha

 

Cozinha do Azizi
R. Plombagina, 155 - Colégio Batista, Belo Horizonte,
(31) 98430-4243. Todos os dias, das 9h às 20h