RAÍZES DA COZINHA

BH ganha espaço voltado à comida afro-brasileira: o Território Kitutu

Território Kitutu é um espaço gastronômico e cultural, resultado de 11 anos de trabalho de Kelma Zenaide, mestra culinarista

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Há historiadores que apontam o continente africano como o berço do surgimento da humanidade. E a culinária africana tem raízes em vários cantos do mundo. No Brasil, é mais do que presente, está na base da alimentação dos brasileiros, que ainda tem a herança das tradições indígenas e europeias misturadas com as africanas. Em Belo Horizonte, um novo espaço para viver a experiência afro-brasileira afetiva tem nome: Território Kitutu, no Centro da capital mineira. 

O comando do Território Kitutu é de Kelma Zenaide, que se apresenta como mestra culinarista, mulher negra, lésbica, umbandista, escritora e palestrante: "Remanescente do kilombo de Pinhões e nascida em Contagem. Desde criança, aprendi a cozinhar com o avô, a mãe e o pai. Sou graduada em letras e especializada em literatura africana e afro-brasileira e, recentemente, recebi o título de 'Mestra da Cultura Popular BH'. E sou a matrigestora da kitutu - Gastronomia Afro-brasileira: cozinha afetiva inspirada na tecnologia ancestral. Com foco no protagonismo e na valorização do ofício da mulher negra cozinheira".

Kelma Zenaide conta que o Território é um espaço gastronômico e cultural: "É o resultado destes meus 11 anos trabalhando em prol da arte de alimentar. E fica no chamado 'Baixo Centro', que abrigará as artes em um todo, possibilitando uma nova vida a uma região que tem muito à oferecer para a cidade".

No Território, Kelma destaca que há uma exposição permanente da artista Massuelen Cristina, de Nova Lima, que a presenteou com quadros grandes que fazem a releitura das fotos de sua família: "Temos também uma biblioteca com obras de artistas negrxs, receberemos artistas para lançamento de livros e exposições, jogos de origem africana e música preta na vitrola. É um espaço conceitual que irá se transformando com o decorrer do tempo".

Kelma Zenaide

Kelma Zenaide é graduada em letras, especializada em literatura africana e afro-brasileira e, recentemente, recebeu o título de 'Mestra da Cultura Popular BH'

Letícia Souza/Divulgação
 

Kelma enfatiza que no Território nem tudo estará acabado: "Ele sempre vai estar em movimento, transmutando e transformando. Esse espaço é importante para a cidade como referência de uma gastronomia que se apresenta afro-brasileira".

A comida afro-brasileira

Kelma ensina que a origem da comida afro-brasileira carrega influências quilombolas e são traços marcantes do Território, sobretudo os modos de fazer e receber: "O alimento que produzo traz características e insumos não só da culinária mineira, mas engloba toda minha referência ancestral. Meu DNA é 96% africano. E na cozinha da Kitutu tem quiabo, amendoim, acaçá, dendê, arueira, batata-doce de várias espécies, inhame, carne de lata, tutu de feijão, macarrão com sardinha e muitos pratos autorais e um cardápio que muda frequentemente".

E como BH e os mineiros recebem esta gastronomia? Kelma revela que, para aqueles mais conservadores os pratos mais procurados ainda são o tropeiro e a feijoada. Mas, mesmo esses, sempre têm uma surpresa nos acompanhamentos"

E as versões veganas saem muito, já que, enfatiza Kelma, ela preza pela diversidade alimentar: "O tropeiro Veg é servido com purê de abóbora feito com leite de coco e dende e leva também molho de tomates. A feijoada tem cenoura, chuchu, moranga, berinjela e cogumelos. Não uso 'embutidos Veg'. Não é minha pretensão fazer da feijoada e tropeiro Veg, algo que se assemelha aos com carne".

Moqueca de banana da terra

Mas a estrela da vez dos veganos/vegetarianos e para quem gosta de boa comida é a moqueca de banana da terra: "Ela é servida com acaçá e farofa de dendê. É a campeã de vendas e agrada até os amantes de camarão. As pessoas gostam do inusitado e, neste ponto, viemos para surpreender a clientela com pratos simples e saborosos". 

Para Kelma Zenaide, a gastronomia é mais uma das formas que ela encontrou para contar a história do seu povo: "Fiz uma cozinha próxima da entrada. Gosto de prosear com as pessoas, falar dos pratos, trocar saberes com as pessoas. Não é possível compreender uma civilização sem antes observar seus modos alimentares. O que faço exatamente é resgatar a importância dos povos africanos em diáspora, sobretudo em Minas Gerais. Falar da culinária mineira sem citar os povos da Costa da Mina (corresponde a uma região do golfo da Guiné de onde proveio grande parte das pessoas escravizadas que foram embarcadas para as Américas) e suas influências é, simplesmente, impossível e inaceitável".

 

Fachada do Território Kitutu

Território Kitutu: espaço importante para BH como referência de uma gastronomia que se apresenta afro-brasileira

Carolina Mara /Divulgação


Serviço

Território Kitutu

  • Endereço: Rua Aarão Réis, 496, Centro, Belo Horizonte
  • Contato: (31) 99839-2297

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