As características sensoriais do destilado: graduação alcoólica entre média e alta e aroma frutado, visto que remete muito a fermentação natural do fruto do café -  (crédito: Laís Podestá Fotografia/Divulgação)

As características sensoriais do destilado: graduação alcoólica entre média e alta e aroma frutado, visto que remete muito a fermentação natural do fruto do café

crédito: Laís Podestá Fotografia/Divulgação

Vai um cafezinho aí? E se for destilado? Conhece? Quer provar? O universo da bebida surpreende mais uma vez e reforça a criatividade do mineiro para inventar, inovar, desenvolver e entregar ao mercado um produto, até então, desconhecido: união do café com a cachaça. Desta vez, a novidade vem da cidade de Cabo Verde, no Sul de Minas, precisamente da destilaria João Fortes Destilado de Café, propriedade de Henrique Palma Neto, criador do destilado de café, tecnólogo em cafeicultura e cafeicultor.

 

 

Henrique comanda um negócio de família. Diante das dificuldades enfrentadas por pequenos produtores no mercado de commodities, a propriedade entrou em nova fase, partindo para a diferenciação na produção, com produção de cafés especiais que venceram e foram finalistas em vários concursos municipais e estaduais de café.

 

"Criamos uma marca para cafés torrados, vendidos para todo o país, e, diante da explosão do números de marcas e o mercado estar se voltando para a produção de cafés especiais, conseguimos inovar, criando o primeiro 'destilado de cerejas de café' do mundo", garante.

 

café, vermelho, antes de secar

As lavouras do café de Henrique Palma Neto estão localizadas em altitude entre 1.000 e 1.150 metros. E do fruto do cafeeiro, quando maduro, recebe o nome de cereja

Arquivo Pessoal

 

O cafeicultor conta que, em 2019, foram feitos os primeiros testes do que seria o destilado de cerejas de café: "A receita foi sendo aperfeiçoada ao longo dos últimos anos e a destilação era em alambique de amigos até chegar em 2023, ano em que resolvemos montar nossa própria estrutura, focada na produção de bebidas destiladas e fermentadas diversas, juntamente com cervejas artesanais e charcutaria".

 

Primeiro no mundo

 

"O primeiro e único destilado de café é extraído de frutas cerejas de café, colhidas de forma seletiva recém-colhidas, que passam pelo processo de mostura e fermentação, antes da destilação em alambique de cobre, explica Henrique, garantindo que a bebida tem sabor singular e "proporciona a sensação de notas sensoriais únicas e marcantes, produzida de forma natural, sem aromatizantes artificiais".

 

 

Ele afirma que as características sensoriais do destilado foram avaliadas pela engenheira agrônoma e cachaceira Luciane Reis Sales, que citou em sua descrição olfativa graduação alcoólica entre média e alta e o aroma frutado é o que mais se destaca, visto que remete muito à fermentação natural do fruto do café.

 

Gengibre e flores de café

 

Na avaliação da especialista, são perceptíveis também toques de vegetais, havendo um equilíbrio entre especiarias (gengibre), fermentado, adocicado e floral (flores de café).

 

Já na descrição gustativa, Henrique enfatiza que há equilíbrio entre a suavidade e a doçura. "É possível sentir refrescância vegetal e, ao mesmo tempo, um leve picância do alcóolico. O retrogosto é positivo e leve. Dentre os gostos básicos, os que mais se destacam são o doce e o amargo".

 

Henrique Palma Neto e Marcela de Almeida Machado,

Henrique Palma Neto, ao lado da mulher Marcela de Almeida Machado, destaca que lidera um negócio de família e ele faz parte da quinta geração

Laís Podestá Fotografia/Divulgação

 

Na avaliação final, os principais atributos que se destacam no destilado de cerejas de café foram a harmonia entre o alcoólico e o frutado do café, entregando personalidade e fineza ao destilado. "Essa harmonia faz com que a aguardente de café entregue no paladar aquilo que ela promete no olfato".

 

Devido ao aroma e sabor marcante do destilado de café, Henrique diz que ele é utilizado por profissionais da coquetelaria na composição de drinques e na culinária, principalmente, em pratos que são flambados,  visando que o álcool evapore, evidenciando apenas o sabor da bebida e deixando a preparação levemente caramelizada devido à doçura presente na bebida.

 

No momento, o destilado de café está sendo comercializado neste site e também neste outro link.

 

Mineiro autêntico 


Em relação ao nome da marca, João Fortes, Henrique explica que a escolha foi uma homenagem a João Batista Fortes, que foi um homem de responsabilidades para com a sua família desde jovem. Era bem-humorado e conduzia os trabalhos na fazenda em que trabalhava com profissionalismo. Sempre bem apresentado com seu chapéu, bota e um facão na cintura, ele e seu cavalo chamado Gaúcho cortavam as serras de Cabo Verde pelas lavouras de café o dia todo.

 

No fim de cada dia de trabalho, segundo a história, havia parada garantida em pelo menos um dos bares que estavam em sua rota para casa. Nessas paradas, João Fortes, além de molhar a palavra com uma boa cachaça, era solidário com o seu fiel companheiro Gaúcho, que também tinha direito a uma dose servida no chapéu do cavaleiro. Depois, seguiam juntos para o descanso merecido, garantindo que no outro dia antes que o sol raiasse os dois já estavam no “pé do eito” para mais um dia de trabalho.

 

Cachaça com café

 

"Diante destas breves histórias envolvendo dois produtos tão apreciados pelas pessoas de todo o mundo - o café e a cachaça, nasceu um novo produto com sabor único, originado do exato ponto de intersecção das duas bebidas: o destilado de café. Esta bebida única leva o nome de João Fortes em homenagem a este homem simples que deixou um legado e histórias contadas até os dias de hoje e que não podem ser esquecidas", alerta o cafeicultor.

 

Para Henrique, diante da imensidão de informações e novidades que se acessa com um clique e velocidade inimaginável, o cafezinho, em muitos lares, áreas de trabalho ou mesmo em espaços de recreação, é ainda mais consumido e a exigência do consumidor pela qualidade e variações sensoriais acompanham o mesmo ritmo.

 

safra do café secando

O cafeicultor produz em torno de 200 a 300 sacas de café, resultado do ultimo ano (2023) e aproximadamente 80% das sacas classificadas como especiais de acordo com a classificação da Specialty Coffee Association of America (Associação Americana de Café Especiais), a SCCA

Arquvo Pessoal

 

"Podemos fazer uma analogia com a frase de Albert Einstein, que disse ‘A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original’. Podemos dizer que a pessoa que experimenta um café especial jamais voltará a beber um café convencional. Dessa forma, devido às variações de atributos que podem ser encontrados nos cafés especiais, por que não experimentar uma bebida diferente com a mesma matéria prima que é o café?", indaga o cafeicultor.

 

Para Henrique, paradigmas estão sendo quebrados e muitos estão por vir. "Primeiro, era o café tradicional, depois os cafés especiais foram inseridos, cafés gelados e agora o destilado de café e vem mais novidade por aí. Ainda estamos testando e, num futuro, vamos oferecer mais um produto inovador, com sabor do nosso café". Segredo industrial, receita guardada a sete chaves, o jeito silencioso do mineiro, mas que, neste mundo atual, vale ao menos um spoiler: será uma bebida fermentada. Cenas dos próximos capítulos. 

 

Quinta geração

 

Henrique conta que é da quinta geração da família de produtores de café em Cabo Verde, cidade privilegiada com solos de características singulares pertencentes a região vulcânica e cultura marcante na tradição do seu povo herdada da região Sudoeste de Minas.

 

 

Desde criança, Henrique teve contato direto com o café. Depois de se formar na área da cafeicultura, continuou a produzir café, trabalhando em empresas do ramo, adquirindo conhecimento para se tornar consultor e auditor na área de certificação de produção agrícola e gestão de propriedades. Atualmente, atrelado a essas três ocupações, ele faz a gestão da destilaria e é o atual presidente da Associação de Produtores de Cafés Especiais de Cabo Verde – ASSPROCAFÉ.

 

Henrique destaca que "a produção é familiar e envolve quatro gerações. Produzimos em torno de 200 a 300 sacas de café no último ano (2023). Nossas lavouras estão localizadas em altitude entre 1.000 e 1.150 metros, com os tratos culturais feitos de forma adequada que, combinado com essa altitude, a planta já nos entrega um fruto de ótima qualidade". Ao lado da mulher, também filha de cafeicultores, já estimula a paixão pelo café nos filhos.

 

Ele revela que, na colheita e pós-colheita, trabalham com diversidade de processos, como natural, cereja descascado, fermentação aeróbica, anaeróbica e dupla fermentação, obtendo cafés partindo de notas chocolate e caramelo, podendo variar também para notas florais, especiarias ou frutadas de acordo com o processo de pós-colheita: "Nossa comercialização se dá de forma verde (in natura), torrado em grãos e torrado e moído enviado para todo o Brasil".

 

Serviço

João Fortes Destilado de Café 

Telefones: (35) 99875-3654 e (35) 99858-0107

Instagram: @joao_fortes_destilado_de_cafe