O mercado de food truck pelo qual muitos se encantaram, investiram e se tornaram clientes fiéis anos atrás mudou completamente, na visão de Simone Lopes, analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-MG). Não existe mais naqueles moldes, até mesmo na percepção dos clientes que saíam para consumir alimentos em caminhão-restaurante. “Agora, os eventos são o mercado para os food trucks”, sinaliza.
Sim, ela continua, o negócio permanece interessante como entrada no setor de alimentação, pela facilidade do investidor e menor custo em comparação ao ponto físico, presença da tecnologia. Enfim, mais pontos positivos do que o contrário.
Porém, a especialista avisa que, para ser promissor, é fundamental participar de eventos fechados, corporativos, presença em shows em estádios e arenas esportivas, feiras e praças. Para isso, o empreendedor tem que se posicionar como fornecedor, o que é mais interessante sob o ponto de vista da demanda: “Tem suas vantagens, entre elas o fato dele levar sua estrutura para os eventos, tem a cozinha itinerante, o que facilita a operação, e há muitas opções de feiras gastronômicas e eventos pela cidade que atrai público e clientela.”
Para Simone, outra mudança no setor, que muitos empreendedores não enxergaram e desistiram, ou viram o movimento cair, é a maneira como o mineiro consome a gastronomia. Segundo ela, os belo-horizontinos e mineiros buscam certo tipo de comida, não só a novidade.
“No momento, o perfil de cliente do food truck procura por uma comida com outra influência, com lado afetivo, comida de boteco, mineira e, sim, se torna bairrista. E o empreendedor precisa fazer essa leitura, adaptar o cardápio, que tem de ser diferente de São Paulo e ter outro posicionamento, não o da origem, quando tudo era gourmet e artesanal.”
Simone enfatiza que essa mudança remete ao tradicional, ao antigo, enfim, à comida mineira afetiva, acolhedora: “Muitos food trucks não se adaptaram a essa nova linguagem, não fizeram uma engenharia do cardápio e não conseguiram se manter. Além de outros fatores, como o enfrentamento da pandemia.”
Mas a especialista do Sebrae-MG garante que o mercado continua interessante, mas exige empreendedores qualificados, que pensam no cardápio, na estratégia, no planejamento e no algo a mais em que possam investir.
“Não vivemos o boom de retorno imediato, mas é um negócio seguro com estratégia e posicionamento. Fazer networking com produtores de eventos, se posicionar como empresa, ter marca definida, qual gastronomia vai entregar, de que eventos participar, explorar as feiras de BH e de Minas Gerais onde a comida é grande atração. Assim, vai se inserir no meio e fazer acontecer. Reforço que, para todo negócio, é fundamental planejar, pensar sobre preço, cardápio e público que vai atender e investir em automação e tecnologia”, destaca.
Encontros nas praças
Apesar de o mercado se direcionar para os eventos, ainda há muitos food trucks espalhados pela cidade, sejam sozinhos ou em grupos, estacionados em praças importantes da capital, com dias e horários definidos. O presidente da Associação Mineira de Food Trucks (AMOFT) e dono da Food Truck BH Oficial, Felipe Corrêa Borba, destaca que os encontros ocorrem de terça a sexta-feira, das 18h às 22h. Na terça-feira, eles estão no Gutierrez; quarta no Castelo; quinta no Cidade Nova; e sexta retornam para o Gutierrez. No fim de semana, vão para os eventos.
Daqueles que sobreviveram à instabilidade do mercado, ele destaca os segmentos que seguem mais promissores e buscados pelo público: hambúrguer artesanal, massa, pizza, calzone, lasanha, espeto e hot dog artesanal, com salsicha alemã (aquele dogão!). Food truck de bebida não tem tanto espaço assim, ainda mais em eventos que são patrocinados por grandes players do setor. Quanto aos doces, o volume de vendas é menor. Alguns fazem sucesso com o açaí ou vendem crepioca doce e salgada.
Regras de trânsito
Os interessados em ter um food truck devem participar de um edital de convocação para cadastro, análise de documentos e posterior vistoria e licenciamento. De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte, os veículos podem atuar em qualquer área de estacionamento permitido, com atenção aos estabelecimentos de ensino, hospital, clube e tempo religioso (onde não podem ficar em frente à portaria) e lanchonete, bar, restaurante e similar (de onde devem manter distância de 50m). Ainda segundo a PBH, o último licenciamento está em análise e, ainda este ano, serão mais 250 licenciados, somados aos 299 que já estão nas ruas.