Entre pães, folhados e doces, o Les Deux Magots serve um café da manhã ao estilo parisiense com toda a pompa e circunstância paulistana -  (crédito: Gihad Terra Arabi/Divulgação)

Entre pães, folhados e doces, o Les Deux Magots serve um café da manhã ao estilo parisiense com toda a pompa e circunstância paulistana

crédito: Gihad Terra Arabi/Divulgação

 

Somando 17 estrelas Michelin, São Paulo – a maior cidade da América Latina – é uma porta aberta para a boa mesa do mundo inteiro. Num fim de semana prolongado, é possível conhecer um pouco da gastronomia paulistana, num apanhado que vai do novo brunch no Conjunto Nacional (de cara para a Avenida Paulista) até o novo menu degustação do Maní, de Helena Rizzo (a única chef mulher com estrela Michelin no Brasil). O tour também pode passar pelas novidades do A Baianeira no MASP, a nova casa do chef carioca (e flamenguista) Ricardo Lapeyre, no Itaim Bibi, e, claro, o caldinho de mocotó do pai do chef Rodrigo Oliveira, uma receita irretocável que já dura 50 anos. Pode arrumar as malas e partiu São Paulo!

 

Maní

 

O menu degustação do Maní passeia pelas cores do arco-íris, terminando com a sobremesa de batata-doce roxa, bacuri e rosas

O menu degustação do Maní passeia pelas cores do arco-íris, terminando com a sobremesa de batata-doce roxa, bacuri e rosas

Victor Collor/Divulgação
 

 

Uma estrela Michelin é pouco para Helena Rizzo (a única chef do Brasil estrelada), o verdadeiro tempero do programa MasterChef Brasil. Primeiro pela impressionante entrada do Maní, uma casa diminuta no coração do Bairro Jardim Paulistano, por onde se atravessam três salões de decoração mediterrânea contemporânea. Tudo lindo. Segundo, pelas apostas da gaúcha no Brasil e na comida orgânica (90% dos ingredientes). E terceiro, pela liberdade. Não quer o menu degustação? Vai no a la carte que você vai ser feliz do mesmo jeito. Ou quase isso. No menu degustação, de 12 etapas (R$ 680), um arco-íris vai se formando aos poucos, trazendo todas as cores, até desembocar na inebriante sobremesa de batata-doce roxa, bacuri e rosas. É cozinha autoral, senhoras e senhores, e da melhor qualidade. Um dos snacks requer esforço para não sair dali apaixonado: melancia, carabineiro, ponzu, tomate e borago. Na ala das entradas, tem feijão-manteiguinha, nibs de cacau e vinagreira, além de ostra fresca com limão-caviar. A comida da Helena é política. A ova de tainha, por exemplo, é do Projeto A.Mar, servida com katsuobushi. Boom de sabor, umami puro. Destaque total para o palmito com ouriço, caldo de rabada, cítricos e beldroega do mar. De chorar de alegria. Tem a opção da harmonização (+ R$ 550). Nada sai errado nesta combinação estrelada. A sommelière do Maní, Gabriela Bigarelli, lançou para o novo menu o projeto de harmonização chamado “Por Elas”, que, além dar maior ênfase aos vinhos naturais, orgânicos e/ou biodinâmicos, busca destacar o trabalho de produtoras mulheres. E sempre tem alguma sommelière convidada. A da vez são duas, Cássia Campos e Daniela Bravin, do Sede 261. A próxima, ainda sem data definida, será a argentina Cecilia Aldaz, do restaurante Oro, no Rio de Janeiro.

 

  • Rua Joaquim Antunes, 210, Jardim Paulistano
  • (11) 97473-8994
  • @manimanioca

 

A Baianeira MASP

 

Meio mineira meio baiana, Manuelle Ferraz segue o caminho da comida regional com pratos como o bobó de camarão

Meio mineira meio baiana, Manuelle Ferraz segue o caminho da comida regional com pratos como o bobó de camarão

Fabiana Kocubey/Divulgação

 

Minas e Bahia, quando se juntam, não tem para ninguém. Duas das gastronomias mais emblemáticas do Brasil agora reunidas no subsolo do museu de arte mais importante do Hemisfério Sul, o Museu de Arte de São Paulo (MASP). Responde pelo cardápio Manuelle Ferraz, a chef natural de Almenara, no Vale do Jequitinhonha, meio mineira meio baiana. Portanto, não espere nada menos do que bobó de camarão (R$ 99), baião de dois com suculenta carne de panela, galinha caipira ensopada (R$ 72) e creme bruleé de banana-da- terra. “A escassez do interior do Brasil gera preciosidade”, diz a chef. O que também chama atenção ali é o ambiente descolado, mesões para compartilhar, uma trilha sonora 100% brasileira e uma fila de funcionários simpáticos, fazendo jus à cozinha de excelência regional. Não à toa, incluído no Guia Michelin como Bib Gourmand (restaurante de qualidade e bom preço). A carta de drinques é um capítulo à parte, assinado pela mixologista, pesquisadora e escritora Néli Pereira, do Espaço Zebra. Uma das suas criações é o Acorda Menino (R$ 41), cafezinho coado batido na coqueteleira com vodca, uísque, rapadura e suco de laranja.

 

  • Avenida Paulista, 1578, Bela Vista
  • (11) 91107-4074
  • @abaianeira

 

Mocotó

 

Receita do pernambucano Zé Almeida, pai do chef Rodrigo Oliveira, o caldo de mocotó do Mocotó é servido há 50 anos com o mesmo sabor

Receita do pernambucano Zé Almeida, pai do chef Rodrigo Oliveira, o caldo de mocotó do Mocotó é servido há 50 anos com o mesmo sabor

Mocotó/Divulgação

 

Na lista de indicações Bib Gourmand do Guia Michelin, esse talvez seja o CEP de maior relevância em SP. Daqueles que, se tiver que escolher um, é ele. O pernambucano Zé Almeida, pai do consagrado chef Rodrigo Oliveira, foi quem criou a receita que mais se aproxima da melhor memória das nossas vidas: o caldinho de mocotó. Faz 50 anos que é servido com o mesmíssimo sabor, garantiu um funcionário. “Os olhos no mundo e os pés fincados no sertão”, acredita Oliveira, o criador do dadinho de tapioca e da espetacular carne de sol na brasa com manteiga de garrafa. Uma cozinha nordestina sertaneja clássica, passada de pai para filho. O Mocotó é um milagre. E faz por onde. O lema da casa é “tornar o mundo um pouco melhor”, o que ele também faz, ao lado da esposa, a historiadora Adriana Salay. Ali funciona o “Quebrada Alimentada”, um programa social que, desde 2020, distribui quentinhas aos que mais necessitam. E quem entrega a marmita na mão do dono é o segurança do bar, Bruno. Já são mais de 100 mil refeições e 105 toneladas de alimentos para famílias vulneráveis do entorno. A força e o talento do sertão estão ali, na morada do bem.

 

 

Brasserie Le Bulô

 

São Paulo nunca esteve tão perto do mar com os lagostins na brasa do Brasserie Le Bulô

São Paulo nunca esteve tão perto do mar com os lagostins na brasa do Brasserie Le Bulô

Duda Gulman/Divulgação

 

Nada é tão bom que não possa melhorar. Não é, chef Ricardo Lapeyre? Carioca, flamenguista e um dos nomes que melhor propagam a culinária francesa no eixo Rio-SP, ele vem fincando raízes no bairro nobre Itaim Bibi, onde exibe uma coleção de iguarias do Brasil ao modo Côte d’Azur. Comece pelo clássico plateau de frutos do mar (R$ 220) sobre uma caminha de gelo. “Tudo pode variar de acordo com os produtos mais frescos”, avisa o chef, já sugerindo o delicado carpaccio de vieira, salicórnia e pipoca de quinoa (R$ 98). O lagostim (R$ 170) sai da churrasqueira direto para o prato, bem macio, quase desmanchando na boca. Ideal para uma taça de Via Saint Jacques Riesling, da Schieferkopf, da região da Alsácia, suave e redondinho para seguir até o fim. “É uma casa de frutos do mar com sotaque francês. Navega um pouco entre regiões ou entre produtos franceses”, acrescenta Lapeyre. São ao menos dez variedades vindas do mar – de polvos, lulas, camarões, vieiras, cavacas e lagostas a diferentes peixes (os que estiverem mais frescos no dia). O craque Jonny Paes não pensou duas vezes e também partiu para lá, onde executa os drinques. Quem assina a carta é Jessica Sanchez (ex-gerente do bar do Copacabana Palace, eleita a melhor bartender da América Latina pela revista Forbes). Muita atenção para o Oyster Martini, da seção “Des Mers”, que reúne coquetéis com ingredientes provenientes das águas. Esta releitura do clássico Dry Martini, além de gim e vermute seco, tem água de ostra e azeitona e chega à mesa acompanhada de uma ostra com salicórnia. Para fazer jus ao lema da casa: “São Paulo nunca esteve tão perto do mar”.

 

 

A Casa de Antonia

 

Omelete com creme de espinafre: uma das opções de café da manhã no emblemático Conjunto Nacional, onde fica o A Casa de Antonia

Omelete com creme de espinafre: uma das opções de café da manhã no emblemático Conjunto Nacional, onde fica o A Casa de Antonia

Estúdio Mió/Divulgação

 

Só de entrar no imóvel, o Conjunto Nacional, que trouxe inovação e modernidade para os paulistanos e marcou o início da verticalização da Avenida Paulista, já bate um arrepio gostoso pelo apuro estético. É onde estão a Livraria Cultura e a sede do CasaCor, que se transforma num camarote imenso para a Parada Gay. Mas é ali no térreo, de cara para a rua, que fica o novíssimo A Casa de Antonia, da chef Andrea Vieira. A opção mais celebrada é o brunch, cujas opções passam por ovos beneditinos, omeletes e gravlax, além de sanduíches, toasts, bolos e doces. Andrea veio de Curitiba para São Paulo em razão da mudança da filha, a Antonia em questão, que passou no vestibular na capital paulista. Apesar do ambiente classudo (entenda por isso aconchegante), é tudo bem informal, do serviço à apresentação dos pratos: moqueca de caranguejo (R$ 75) a cassoulet de frutos do mar (R$ 93). Como pede a ocasião: estar num dos pontos mais emblemáticos de São Paulo.

 

 

Casa do Saulo

 

Tambaqui é um dos peixes que chegam de Santarém para compor o menu do Casa do Saulo, com acompanhamentos servidos à vontade

Tambaqui é um dos peixes que chegam de Santarém para compor o menu do Casa do Saulo, com acompanhamentos servidos à vontade

Agência Lour/Divulgação

 

São caixas e mais caixas térmicas abarrotadas de pirarucu, tambaqui, feijão, jambu, farinha de mandioca, cupuaçu, taperebá, tucupi e muito outros ingredientes diretamente de Santarém, no Pará, com destino a São Paulo, semanalmente. O primeiro voo de Saulo Jennings em São Paulo – depois de Santarém, Belém e Rio – mantém a tradição da casa que surgiu na região banhada pelo rio Tapajós: peixe de água doce e de manejo sustentável. Famoso pelo uso de castanhas, ervas, temperos e frutas típicas do Pará, o chef serve filé de pirarucu grelhado, molho de castanha do Pará, banana-da-terra e camarão rosa, finalizado com castanha torrada e cebolinha, acompanha arroz de chicória da Amazônia (R$ 129,90). Ou então a Piracaia (R$ 249,90), peixe assado na brasa que dá para uma família inteira, que pode ser tambaqui, surubim, filhote, mapará ou ventrecha de pirarucu, com acompanhamentos servidos à vontade (e sem acréscimo). São eles banana-da-terra, arroz de chicória, vinagrete de feijão de Santarém, farofa e farinha de piracuí. Tudo ali tem gosto da floresta, até as sobremesas (tiramisu de bacuri) e os coquetéis, como o Tacacá Drink, que leva cachaça de jambu, tucupi, xarope de chicória e mix cítrico alcoólico. Não saia sem passar na lojinha, onde se vendem louças, perfumes, temperos e artigos decorações, além do chocolate da Dona Nena, da Ilha do Combu.

 

  • Rua Gomes de Carvalho, 1.666, Vila Olímpia
  • (11) 91687-0039
  • @casadosaulosp

 

Les Deux Magots

 

O café parisiense que abriu no fim do ano passado contém pompa e circunstância à paulista: funcionários de gravata borboleta, taças de vinhos tilintando no salão, cheiro de croque monsieur e um cardápio que, se não tomar cuidado, a gente perde um dia inteiro tentando escolher. Ali tem uma variedade boa de pães, folhados, doces e pratos como tartar de carne (R$ 73), coxa de pato confitada com batatas salteadas e molho rôti (R$ 180) e o entrecôte de angus (R$ 120). A casa é linda, com vidraças por todos os lados, por onde entram feixes de luz do sol. Como um daqueles encontros de cinema: Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Pablo Picasso.