A cada ida ao supermercado, uma surpresa. Se você consome azeite, já deve ter notado que os preços estão nas alturas - e só sobem. O que justifica esse aumento, a ponto de o líquido extraído da azeitona ser considerado artigo de luxo em todo o mundo? Quem explica é a azeitóloga e comunicóloga Ana Beloto.
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De acordo com a especialista, o aumento no valor dos azeites decorre da quebra histórica na safra de azeitonas da Europa, em 2022 e 2023, devido à seca gerada por fenômenos climáticos principalmente na Espanha, atual país líder mundial em produção de azeites. Isso gerou uma redução de 20% na produção mundial do produto. Em consequência, impactou o volume total de azeite produzido no mundo, que normalmente passava dos 3,3 milhões de toneladas, mas caiu para 2,7 milhões de toneladas, segundo dados do Conselho Oleícola Internacional (COI).
Pensando nos preços, um azeite extravirgem de 500ml está entre R$ 48,90 e R$ 65, de acordo com dados da Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (FIPE). Já um azeite brasileiro super premium de 250ml pode ser encontrado de R$ 120 a R$ 179. Para se ter uma noção, o preço de uma garrafa de azeite, em 12 meses, teve um acréscimo de 45,46%.
“É a lei da oferta e da procura. Com a escassez global e menor oferta do produto, o valor sobe e leva a uma queda no consumo de azeite pelos consumidores. O Brasil é um dos principais importadores mundiais de azeite e possui uma recente produção interna do produto, que não supre o consumo das 100 mil toneladas que o país consome ao ano, dependendo das importações”, comenta Ana Beloto.
Escassez deve continuar
Devido às mudanças climáticas, o desempenho da produção deve continuar sendo afetado. Somado a esse elemento, as produções das oliveiras são bianuais e devem ter um impacto nas exportações e no valor dos azeites. “O valor dos azeites deve permanecer alto por mais algum tempo, pois, apesar da estimativa de que produção europeia tenha um aumento de 9%, não será o bastante para resolver de imediato a escassez do produto pelo mundo”, explica.
Ao longo dos 20 anos de atuação nesse setor, Ana Beloto acompanha a produção de azeite visitando os olivais pelo mundo. Ela é uma das mulheres que lidera no Brasil o movimento mundial Women in Olive Oil, é jurada de concursos internacionais de azeite, colunista de uma revista de gastronomia, palestrante e consultora de mercado de azeites. Por seus projetos educacionais de divulgação do azeite no país, ela recebeu 18 prêmios nacionais e internacionais, foi condecorada pelo Governo de Minas Gerais e participou da lista das 100 Mulheres mais poderosas do Agro pela revista Forbes Brasil.
"Fui a azeitóloga responsável por formular e assinar dois blends de azeites mineiros. Posso ressaltar que os produzidos em Minas são feitos com o máximo de qualidade, por produtores empenhados e dedicados em fazer o melhor. Mesmo com pouca produção, temos azeites com sensoriais únicos e muito particulares e que estão ganhando muitos prêmios internacionais", Ana completa.
Dicas para comprar melhor
Precisamos de 10 quilos de azeitona para produzir 1 litro de azeite. Então, desconfie de azeites com preços muito baratos, pois podem ser produtos adulterados. Nessa atual conjuntura, o consumidor deve ficar mais atento à qualidade, pois o mercado fica mais propenso à venda de produtos falsificados com o intuito de ganho econômico.
Buscar fornecedores/marcas confiáveis e produtos certificados, com selos de qualidade de órgãos governamentais e de associações, é de extrema importância. A origem e a procedência também precisam ser observadas. O consumidor deve se atentar também à escolha dos azeites, que, de preferência, devem ser extravirgem (de qualidade superior) e ter a data de envase mais próxima da data da compra do produto, para que ele tenha atributos sensoriais e nutricionais preservados.
Como armazenar
O azeite possui três inimigos: luz, oxigênio e calor. Assim, as embalagens devem ser escuras, com boas tampas para vedação. É recomendado armazenar o produto em local escuro e longe de fontes de calor, como fogão e churrasqueira, e da luz solar.
Ao comprar um azeite, o consumidor não deve considerar o valor da compra e, sim, que aquele produto não acaba de imediato como outros que são consumidos em poucas horas.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino