No Dia de São Cosme e Damião, uma tradição popular marca a data: a distribuição de doces, principalmente para as crianças. Dessa forma, a festividade ganha um sabor especial, com a presença de doçuras brasileiras e mineiras. Saiba quais não podem faltar.
Mariana Correa, do ateliê La Parisserie, explica que os doces distribuídos no Dia de São Cosme e Damião são principalmente os ofertados aos orixás, como os feitos de coco e amendoim. Exemplo disso é o pé de moleque, originalmente feito com uma mistura de farinha de mandioca, rapadura, gengibre e especiarias; a versão com amendoim é mais recente. "Na época do Brasil Colônia, era o que as pessoas tinham acesso nos engenhos."
Sobre o doce de abóbora, que é feito com um fruto das Américas, ela diz: "Faz parte da nossa cultura da doçaria mineira e a do Centro-Oeste."
Já a cocada veio com a colonização. Mariana explica: "O coco não é nativo daqui, mas os africanos escravizados já tinham conhecimento desse fruto, então era muito utilizado e oferecido para as entidades".
O doce de leite, muito tradicional, é composto de leite e açúcar, ingredientes que permanecem muito tempo no tacho. "Geralmente, esses são aqueles que ficam mais durinhos. É um ponto de corte ideal para a distribuição. O doce de abóbora também fica nesse ponto, o que ajuda pela questão da durabilidade", esclarece. A goiabada também entra no grupo dos doces que os povos escravizados tinham mais acesso, pela proximidade ao engenho.
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Uso de especiarias
A confeitaria reforça que o uso de cravo, canela e gengibre era muito comum: "O pé de moleque e o doce de abóbora originários tinham especiarias, tanto para realçar o sabor como para ser um fungicida. A mistura de açúcar com a fruta e especiarias era algo bastante presente". Segundo Mariana, esse conhecimento veio do contato dos escravizados com povos do Oriente Médio.
Doces de amendoim
Thiago dos Santos, instrutor dos cursos de confeitaria do Senac, também lista os doces que são utilizados para comemorar a data em terras mineiras. Entre eles, o pé de moleque, feito à base de açúcar e amendoim; a paçoca, produzida com farinha de amendoim e misturada com açúcar e sal; o doce de abóbora, que pode ser em compota ou em pedaços; a goiabada, muito tradicional e também pode ser feita das duas maneiras; e o doce de leite, que não pode faltar e se adapta às duas versões.
Por que duas datas?
O Dia de São Cosme e Damião é celebrado no Brasil em duas datas distintas. Para a Igreja Católica, a festividade acontece no dia 26 de setembro, enquanto os seguidores da umbanda e de outras religiões de matriz africana comemoram no dia 27 do mesmo mês. Isso ocorre porque, por volta da década de 1960, a Igreja Católica alterou o dia de Cosme e Damião para o dia 26 para não chocar com a data que celebra São Vicente de Paula. Porém, pensando na tradição, a maioria das pessoas continua a comemorar no dia 27, quando ocorre a distribuição de doces.
Quem eram Cosme e Damião?
Thiago dos Santos, instrutor dos cursos de confeitaria do Senac, explica: "Chamados pela Igreja católica por esse nome, eles eram gêmeos e médicos, nascidos na Arábia por volta do ano de 260". A tradição explica que eles eram extremamente nobres, mas curavam a população local sem cobrar absolutamente nada em troca. Em especial, ajudavam bastante as crianças da região.
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Como os doces entraram na celebração?
Para o catolicismo, não havia nenhuma ligação entre os irmãos e as crianças ou a distribuição dos doces. "Essa prática veio da associação que os escravos fizeram dos irmãos aos orixás da Umbanda e do Candomblé, os Ibejis, filhos gêmeos de Xangô e Iansã. Assim, a tradição de entregar os doces, em especial para as crianças, surgiu com uma ligação às religiões de matriz africana", conta Thiago.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino